Lava Jato 2.0


Publicado em: 27 de dezembro de 2025

Coluna Paulo Pasin

Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).

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Paulo Pasin

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Tomaz Silva/Agência Brasil

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Quem não se lembra da enxurrada de dinheiro jorrando toda noite no Jornal Nacional, da Globo? Do pedalinho no sítio de Atibaia? Do triplex “meia-boca” no Guarujá?

A aliança nefasta entre o “juiz corrupto” — como bem definiu Glauber Braga —, promotores de quinta categoria e jornalistas inescrupulosos construiu a narrativa perfeita para prender Lula. Até setores da chamada “esquerda radical” compartilhavam imagens desta estranha novela produzida pela Globo no JN. Jamais esquecerei um militante da esquerda “terrivelmente revolucionária” indignado porque levamos a bandeira do Sindicato dos Metroviários no dia da prisão de Lula, em São Bernardo do Campo.

O plano era impecável: prender Lula para eleger, em 2018, um legítimo representante do grande capital. Uma oportunidade de ouro para sepultar a contradição de ter no Palácio do Planalto uma liderança que, embora conciliadora e sempre em busca de alianças com setores “progressistas” do Centrão — com políticas sociais inclusivas, porém limitadas, e reformas de baixa intensidade —, representa no imaginário popular as raízes mais profundas da classe trabalhadora e dos oprimidos.

Destruir este símbolo popular significaria enfraquecer toda a esquerda, inclusive os que o criticam. No mundo real, longe das formulações vanguardistas e propagandistas, é o resumo de um tempo em que a história se constrói na resistência ao fascismo que cresce assustadoramente em diversas regiões do mundo. A esquerda revolucionária não pode, de forma nenhuma, erguer-se com base na derrota de Lula “pela direita”. A confirmação de seus prognósticos sobre os equívocos da conciliação de classes patrocinada por Lula atrairá centenas, mil, quem sabe cinco mil novos militantes para os partidos da esquerda radical. Contudo, para milhões, não é o prognóstico que é decisivo, mas o próprio esmagamento da classe trabalhadora e da juventude na hipótese de o fascismo vencer. Qualquer derrota desta magnitude só intensifica a decepção das massas em relação à revolução.

O “mercado” sabe melhor que ninguém que o capitalismo em crise, com a brutal concentração de renda no mundo, exige governos “puro-sangue”, dispostos a implementar planos audaciosos de exploração sem limites ou amarras que um governo com liderança histórica da classe trabalhadora acaba impondo. Enquanto lutamos pelo fim da escala 6×1, a extrema-direita de Milei, na Argentina, aprovou uma reforma trabalhista que aumenta a jornada de trabalho para 12 horas/dia pelo mesmo salário e elimina a indenização por demissão sem justa causa.

O editorial do Estadão, publicado em pleno dia de Natal, atacando sem pudor Lula porque este reajusta o salário mínimo acima da inflação (embora limitado pelo Arcabouço Fiscal), resume bem a incompatibilidade entre a necessidade de espoliar trabalhadoras e trabalhadores ao extremo e um governo de conciliação de classes. O contratempo em 2018 de ver eleito um miliciano de extrema-direita foi resolvido com a indicação do “Chicago Boy” Paulo Guedes para o Ministério da Economia, com sua credencial de ter servido ao ditador sanguinário Augusto Pinochet.

É fato que, na pandemia, a Globo e setores do capital se distanciaram um pouco do miliciano, mas sempre buscando uma “terceira via” contra o que eles chamam de polarização. A Globo tem um know-how de serviços prestados ao capital nos momentos mais delicados da história do Brasil: apoiou a ditadura civil-militar; criou o “caçador de marajás”, Collor de Mello, para derrotar Lula em 89; ajudou a desvirtuar as mobilizações de 2013; ajudou no golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff etc. Portanto, não nos surpreende esta ofensiva do jornalismo da Globo contra o STF, num momento em que a decadência política da extrema-direita, devido à prisão de seus líderes, dificulta a escolha de um nome que unifique as forças do capital para enfrentar Lula em 2026.

Não podemos ser ingênuos. É preciso olhar para o passado para aprender. Chegou a hora de arregaçar as mangas e se preparar para uma disputa acirrada no próximo período. Não é momento de recuar; é tempo de combate. Precisamos de um programa, de um projeto de país que enfrente os temas estratégicos e entusiasme a classe trabalhadora e a juventude, com grandes mobilizações pela redução da jornada de trabalho, pela tarifa zero, pela reforma agrária agroecológica, contra as privatizações patrocinadas por todas as esferas de governo, com apoio incondicional às greves por aumento de salários e direitos, contra a anistia aos golpistas e contra o “Congresso Inimigo do Povo”.

Isto posto, cabe também exigir uma apuração rigorosa das relações promíscuas do Banco Master com todas as esferas de poder: Judiciário, político, capital financeiro, mídia, futebol, etc.


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