Declaração conjunta de partidos Latino-Americanos
A nova Estratégia de Segurança e o avanço dos Estados Unidos contra a soberania e as democracias da América Latina
Publicado em: 26 de dezembro de 2025
“A Presença da América Latina”, mural do artista mexicano Jorge González Camarena, 300 m2, 1964-65, salão da Casa del Arte Jose Clemente Orozco, Universidade de Concepción, Chile. Reprodução
Os partidos progressistas e democráticos da América Latina que assinam esta nota, declaram firmemente sua profunda preocupação e rejeição à chamada Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, recentemente apresentada pelo governo estadunidense. A América Latina corre novamente o risco de ser ocupada por forças estrangeiras em seus espaços marítimos, terrestres e aéreos. A política externa dos EUA ataca explicitamente a autodeterminação e a estabilidade das democracias em todo o continente.
Essa estratégia não é um evento isolado. Pelo contrário, representa uma clara reafirmação da Doutrina Monroe, que estabelecia que qualquer intervenção estrangeira nas Américas seria considerada um ato hostil por parte dos Estados Unidos. O que era apresentado em sua retórica como salvaguarda das repúblicas latino-americanas nada mais era do que a proteção dos interesses estadunidenses e manter a América Latina em sua esfera de influência. A Guerra Fria nas Américas foi simplesmente uma continuação dessa postura arrogante e beligerante dos Estados Unidos em sua busca pelo controle hegemônico do planeta.
Hoje, a Doutrina Monroe foi atualizada para o século XXI e reformulada sob o chamado “Corolário Trump”, com uma potência ainda de alcance global, embora enfraquecida, que concebe novamente a América Latina como uma zona de controle estratégico e subordinação política, econômica e militar.
I. Uma doutrina perigosa para a América Latina
A Doutrina Monroe, em qualquer uma de suas versões, tem sido historicamente usada para justificar intervenções, golpes de Estado, bloqueios econômicos e várias formas de interferência externa nos assuntos internos de nossos países. Seu reaparecimento explícito no discurso estratégico dos EUA constitui uma ameaça direta à soberania dos Estados latino-americanos e à coexistência pacífica entre as nações. A nova estratégia declara abertamente a intenção de condicionar as relações diplomáticas, a cooperação econômica, a presença militar e o acesso aos mercados ao alinhamento político dos países da região com os interesses dos EUA. Isso viola princípios básicos do direito internacional, incluindo a autodeterminação dos povos, a igualdade soberana dos Estados e a proibição da ameaça ou do uso da força.
II. América Latina como cenário de disputa geopolítica
A estratégia dos EUA reconhece que a América Latina é agora uma arena central da luta geopolítica global. A Estratégia de Segurança Nacional afirma que “os Estados Unidos reafirmarão e implementarão a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental e para proteger nossa pátria e nosso acesso a geografias-chave em toda a região”
A redução de nossos países a “geografias-chave” revela, sem disfarces, a ansiedade da política externa dos EUA diante de uma reconfiguração geopolítica. O Oceano Pacífico é visto como a zona privilegiada para o futuro econômico, político e tecnológico do planeta. Essa nova orientação do sistema internacional em direção a uma configuração multipolar concentra-se na competição entre grandes potências e, mais particularmente, no conflito com a China. Contudo, essa constatação não se traduz em uma proposta de cooperação respeitosa, mas sim em uma tentativa de reafirmar uma hegemonia excludente que nega aos nossos povos o direito de diversificar seus laços internacionais e definir soberanamente suas alianças.
A região é apresentada como um território a ser “protegido”, “ordenado” e “alinhado”, reduzindo sua complexidade política, social e cultural a uma variante da segurança interna dos EUA. Nessa lógica, os interesses e as necessidades de nossa população são subordinados a uma agenda externa que não se alinha com nossos projetos de desenvolvimento.
III. Os povos serão os principais afetados
Alertamos que essa concepção geopolítica transforma a América Latina em um campo de batalha entre potências, extremamente prejudicial à liberdade dos povos. A militarização, a coerção econômica e a interferência política geram dependência, enfraquecem a democracia e limitam a capacidade dos Estados de definir políticas públicas voltadas para o bem-estar social, a justiça ambiental e a igualdade.
A história recente demonstra que estas estratégias não trazem segurança nem estabilidade, apenas violência, fragmentação social e perda de autonomia.
Assistimos com indignação a discursos supostamente patrióticos que por todo o continente apoiam a pleno pulmões a intervenção dos EUA, justificando-a com um suposto princípio de liberdade. Assim, as portas foram abertas para a dominação de uma potência estrangeira, pondo em risco a independência conquistada ao longo de séculos das repúblicas latino-americanas — uma traição com precedentes trágicos na história do nosso continente. Os partidos progressistas e democráticos da América Latina não aceitarão essa traição à soberania nacional dos nossos países.
IV. Fatos recentes que confirmam o avanço do imperialismo
Essa doutrina não se expressa apenas em documentos. Ela se materializa em ações concretas e preocupantes, como as repetidas ameaças do presidente Trump de intervenção militar na Venezuela, a ocupação ilegal do Caribe, a estigmatização de líderes democraticamente eleitos, como o presidente Petro na Colômbia, irresponsavelmente acusado de ligações com o narcotráfico, e a aprovação de novas bases militares americanas no Peru, aprofundando a presença militar estrangeira na região.
V. Não é segurança, é a busca por controle estratégico
Repudiamos a retórica em torno da segurança, da migração e do combate ao narcotráfico como pretexto para objetivos geopolíticos ligados ao controle de matérias-primas estratégicas fundamentais para a economia global contemporânea: petróleo, lítio, minerais críticos, energia e infraestrutura portuária, rotas transoceânicas e controle das cadeias de suprimentos e logística globais. Essa estratégia visa assegurar vantagens competitivas para os Estados Unidos em sua disputa com a China, reforçando um modelo extrativista que historicamente enriqueceu poucos à custa de recursos naturais, territórios e do trabalho de nosso povo.
Esses eventos confirmam que a nova estratégia do Império busca disciplinar politicamente governos que se desviam do alinhamento automático com Washington. Portanto, condenamos qualquer tentativa de invasão contra a Venezuela, exigimos a retirada imediata das tropas americanas e rejeitamos a “Estratégia de Segurança Nacional” lançada pelo governo Donald Trump, que viola o direito internacional e o respeito à soberania e autodeterminação de nossos povos.
VI. Nosso horizonte: a continuidade da democracia na América Latina
Diante dessa doutrina de dominação, reafirmamos nosso compromisso com:
- o direito dos Estados à legítima defesa; a defesa irrestrita da soberania e da autodeterminação dos povos da América Latina e do Caribe;
- a rejeição de todas as formas de interferência, militarização e condicionamento externo; e o apelo à tomada de todas as ações diplomáticas conjuntas para assegurar o respeito à soberania e ao direito internacional.
- A construção de uma integração regional baseada na solidariedade, na democracia e na autonomia
- A cooperação internacional fundada no multilateralismo, no respeito ao direito internacional, na cooperação, no respeito mútuo e na paz.
- Rejeitamos a visão dos Estados Unidos de que a América Latina é uma esfera de influência e um espaço para disputas estrangeiras. Nosso continente foi historicamente construído como uma comunidade de povos com o direito de decidir seu próprio destino, seu modelo de desenvolvimento e seu lugar no mundo.
Chamamos as forças democráticas e progressistas do continente a erguerem uma voz uníssona contra essa nova tentativa de subordinação e a trabalharem coletivamente por um futuro de dignidade, justiça e soberania para nossa região.
Assinam:
Frente Amplio, Chile
Frente Amplio, Uruguay
PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, Brasil
Pacto Histórico, Colombia
Nuevo Perú por el Buen Vivir
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