2025, o ano por Sem Anistia
Publicado em: 18 de dezembro de 2025
Sindpetro Caxias/RJ
O mar calmo nunca fez bom marinheiro.
Provérbio popular português
1 A luta política central que atravessou o ano de 2025 foi a mobilização por Sem Anistia. Manter a perspectiva é essencial para retirarmos as lições, diante de uma avalanche de acontecimentos em vertigem. Nada foi mais importante do que a condenação de Bolsonaro e, pela primeira vez na história, de generais de quatro estrelas, à prisão no julgamento do STF. Mas seria uma ilusão de ótica explicar este desenlace somente pelo papel de Alexandre de Moraes e seus pares. Seu mérito não merece ser diminuído. Mas foi necessário que se consolidasse uma maioria social contra a impunidade dos golpistas neofascistas para legitimar o desfecho do processo, que enfrentou o apoio de governadores, de um pântano na Câmara de Deputados e milhares de prefeitos, além de uma força social de choque reacionária nas ruas. Até junho prevalecia um lento, porém ininterrupto desgaste do governo Lula, e fortalecimento da oposição com um alinhamento do centrão com a extrema-direita bolsonarista, que culminou em 16 de março com o Ato de Copacabana com pelo menos 30 mil seguidores. O governo Lula mantinha uma distância institucional dos desdobramentos do processo no STF, enquanto Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, e Claúdio Castro, entre outros, garantiam que tinham compromisso com o indulto de Bolsonaro e se engajavam de Atos de rua
2 A primeira grande resposta pelo Sem Anistia passou pelos atos “Ditadura nunca mais” de 30 de março que na Paulista conseguiu reunir uma vibrante vanguarda de 10 mil ativistas. O bolsonarismo, já em clara defensiva, ainda voltou às ruas no 7 de setembro com algo em torno de 45 mil na Avenida Paulista. Mas a resposta começou a ser construída debaixo de chuva no 10 de julho. Deu um salto de qualidade no 21 de setembro à escala nacional, quando pela primeira vez a esquerda superou a extrema-direita com 60 mil no Rio e, pelo menos 40 mil em São Paulo, na sequência das provocações da PEC da Blindagem e do PL da Anistia. E encerramos o ano com as mobilizações do domingo 14 de dezembro contra o PL da dosimetria, a anistia envergonhada, na escala de dezenas de milhares, uma semana depois de grandes concentrações do movimento de mulheres contra o feminicídio. O resultado deste processo não foi somente uma solução institucional conduzida pela Justiça. Não teria sido assim sem a luta por Sem Anistia, o que nos deixa uma lição histórica. A “frio” nada muda no Brasil. O papel da Frente Única de Esquerda precisa ser resgatado, porque o desfecho é expressão de uma luta que se construiu nas ruas.
3 O ano se aproxima do fim, e o contraste entre sua primeira e segunda metade é evidente. A conjuntura mudou no segundo semestre. Uma de suas expressões foi a redução de danos pela preservação do mandato de Glauber Braga. A confirmação veio pelas recentes pesquisas de opinião que sugerem uma reeleição de Lula em 2026. Sejamos conscientes que o país ainda estava e permanece dividido, social e ideologicamente, política e institucionalmente, e nada pode ser previsto, sem margens grandes de incerteza, por antecipação. Os cinco fatores chaves que produziram uma inversão favorável da relação política de forças foram: (a) a disposição dos setores mais lúcidos e combativos da esquerda de apostar nem contínuas mobilizações de rua, indo além do sonambulismo quietista, com a adesão de aliados corajosos no mundo da cultura e da arte; (b) a firmeza dos juízes do STF, à excepção de Luiz Fux; (c) um moderado porém consistente giro à esquerda do governo Lula diante da ofensiva de sanções de Trump contra o Brasil em defesa de Bolsonaro, em defesa da soberania nacional, mas também em defesa da reforma do Imposto de Renda e uma defesa mais politizada da redução do fim da jornada 6×1 através de luta ideológica nas redes sociais, produzindo um deslocamento interno de forças; (d) os erros absurdos do bolsonarismo liderados por Eduardo Bolsonaro nos EUA, a provocação da PEC da Blindagem e de sucessivos PL’s de anistia, o incrível episódio de tentativa de destruição da tornozeleira, e a defesa do mandato de Zambelli; (e) as divisões entre o centrão e os neofascistas sobre o papel de Tarcísio de Freitas, as tensões dentro do núcleo dirigente bolsonarista até o lançamento da pré-candidatura do filho Flávio como pré-candidato à presidência.
4 Um balanço sóbrio deve considerar que a esquerda teve acertos táticos, apesar das ambiguidades de estratégia. Os acertos táticos mais importantes foram três: (a) ter preservado a unidade da Frente Brasil Popular e sem Medo, unindo as organizações populares e mantido a luta por Sem anistia como centro da disputa política sem perder o rumo da mobilização popular; (b) ter assumido uma postura anti-imperialista diante da agressão de Trump compreendendo a importância de assumir a defesa da nação, um país dependente; (c) ter unido a luta democrática contra os golpistas com as reivindicações populares: a isenção do imposto de renda para os trabalhadores que ganham até cinco mil reais, a exigência de que os super-ricos paguem impostos, a defesa do fim da 6×1 e da redução da jornada de trabalho, entre outras. Mas, infelizmente, se mantém uma indefinição estratégica incontornável. A questão decisiva é que ainda não está consolidada uma Frente de Esquerda ou Frente Popular, no terreno da independência de classe, que seja um ponto de apoio para a defesa de um programa de reformas estruturais. O mandato de Lula caminha para seu último ano nos estreitos marcos estabelecidos pela Frente Ampla que incorpora frações importantes da burguesia ao governo e limita que se possa avançar. A expressão mais grave é a permanência de uma orientação no Banco Central que mantém intocável o tripé de superávit fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante, o dogma neoliberal que justifica as taxas de juros reais mais elevadas do mundo. E não houve nenhuma disputa séria de rumos e estratégia. Ao contrário, prevaleceu a capitulação.
5 Os desafios de 2026 serão muitos, porque a nossa parte do mundo não evoluiu nada bem em 2025. Do sul da Patagônia, Chile e Argentina, passando pelos Andes, Peru, Bolívia, e Equador a extrema-direita se reforçou. As eleições do primeiro semestre na Colômbia serão palco de uma ofensiva reacionária avassaladora. A Venezuela está cercada por Trump e pode ser, militarmente, agredida a qualquer momento. A questão decisiva é que a luta pela reeleição de Lula deverá exigir uma aliança que vá além da Frente de Esquerda, mas a disputa do programa não pode ser dissimulada. O Brasil é um dos países mais injustos do mundo, senão o pior, uma anomalia histórica. Esta excepcionalidade impõe um programa de combate à desigualdade social que não pode se restringir a programas assistencialistas. A história deixa lições. Aprendamos com o drama do MAS de Evo Morales na Bolívia, do kirchnerismo na Argentina, de Boric no Chile. Sem um impulso anticapitalista não é possível evitar que o nosso destino seja o mesmo. Não tenhamos medo dos mares revoltos. Uma tempestade vem aí.
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