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Polícia para quem precisa

Violência policial, política de extermínio e escolas cívico militares


Publicado em: 6 de novembro de 2025

Brasil

Gilberto de Souza, de São Paulo-SP

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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“É uma tristeza ver o mesmo modelo de segurança pública se repetir há décadas sem nenhum resultado. Quantas vezes eu já não parei um programa de televisão aqui na TV Globo para falar desse assunto? 120 mortos numa operação policial no complexo do Alemão e da Penha. Por trás desse número, tem 120 mães que enterraram seus filhos. Você acha que com isso que elas sonharam quando essas crianças eram pequenas e corriam ali pelas vielas do Alemão ou da Penha? Claro que não […] combater o narcotráfico com força total […]coordenar ações entre todos os níveis de poder: municipal, estadual e federal […] sufocar a parte financeira das organizações criminosas, das milícias, do tráfico e por aí vai […] valorizar a polícia e o policial, mas é preciso mais do que isso […] gerar oportunidade, dar perspectiva para quem nasce nesse recorte da cidade do Rio de Janeiro. Oferecer boas referências, abrir caminhos, mostrar que existem outros futuros possíveis […] quando o Estado se ausenta, outro poder ocupa esse lugar […]”. Luciano Huck

Com 400g de maconha, morador do Bairro de Laranjeiras [bairro de classe média alta do RJ], é usuário. Preto com 400g de maconha, é traficante. Rodrigo Pimentel – ex-capitão do BOPE-RJ que inspirou o personagem Capitão Nascimentos nos filmes Tropa de elite I e II, militante de extrema direita

Se fosse no Leblon

Terça-feira, 28 de outubro de 20225, foi um dia que entrou para a história da cidade do Rio de Janeiro – também do Brasil – pois as polícias militar e civil do estado do Rio de Janeiro realizaram o que a imprensa qualificou com a operação policial mais letal da história da cidade – digo sem medo de errar, da história do Brasil – nas comunidades do Alemão e da Penha; controladas pela facção criminosa Comando Vermelho – que está em uma guerra sem trégua com a facção rival formada por milicianos – policiais e ex-policiais militares – pelo domínio das comunidades pobres do estado.

Dois mil e quinhentos policiais, segundo o governo do estado, “subiram o morro” para realizar mais de cem mandados de prisão e acabar com o domínio da facção sobre as comunidades do Alemão e da Penha; a ação produziu mais de cento e trinta mortos – segundo informações muito imprecisas do governo estadual e da imprensa.

Em um primeiro momento, o governo declarou sessenta e quatro mortos – sessenta “bandidos” ou suspeitos e quatro policiais – pouco depois apareceram muitos cadáveres deixados na mata próxima às comunidades alterando o número de mortos para mais que o dobro da versão inicial.

A população entrou na mata e recolheu, pelo menos, mais setenta e dois corpos “deixados” pelas tropas policiais.

Antes das necessárias perguntas que não querem calar; uma pequena digressão histórica.

Vivemos em um país, em uma sociedade, que carrega a marca da violência.

Da colonização a república, a violência – de grupos privados e do Estado – é algo endêmico, está no DNA da formação social brasileira; durante os mais de trezentos anos de escravidão negra foram desterrados da África para a América portuguesa quase cinco milhões de negros – sem mencionar aqueles e aquelas que morriam nos tumbeiros ou navios negreiros – o que fez de nosso país o maior país negro fora do continente africano; a Lei Áurea pôs fim a escravidão sem garantir as mínimas condições de sobrevivência aos ex-escravos, empurrando a população negra para as periferias pobres das cidades – como o RJ – e para a marginalidade social e econômica.

A elite branca do país optou por importar mão-de-obra europeia a fim de “branquear” a população do país; nosso atraso social, cultural e econômico foi associado a presença do povo negro, e mestiços, na formação étnica brasileira; a consequência é o chamado racismo estrutural nos tornando um país negro e mestiço – o maior fora da África – e extremamente racista.

Os povos originários também não escaparam do extermínio; quando os invasores-colonizadores aqui chegaram, por volta do ano 1500, havia algo entre três e cinco milhões de habitantes, hoje – 2025 – existem aproximadamente 302.500 autodeclarados “indígenas”, ocupando apenas 14% do território nacional – uma terra que lhes pertencia antes da invasão colonial portuguesa. (dados do IBGE)

Ao lado do racismo, outra chaga é o machismo – herança da família patriarcal da colônia e do império – que seguiu república adentro até nossos dias; está na origem do feminicídio – o extermínio cotidiano de mulheres, geralmente por seus parceiros masculinos – produzindo uma endemia, ao lado do racismo, que produz o assassinato de quatro mulheres por dia; 63,6% negras. (dados de 2024, IBGE).

O Brasil é o quinto país do mundo em feminicídios (atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. (dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos – ACNUDH).

Assassinamos mais mulheres por dia do que monarquias teocráticas do Oriente médio ou do que qualquer país teocrático onde as mulheres ainda usam burca; somos um país de maioria negra onde os afrodescendentes são estrangeiros em sua própria terra, onde os povos originários – os verdadeiros donos dessa terra – são cotidianamente exterminados, somos um dos países mais desiguais do mundo – 63% das propriedades pertencem a 1% da população, os mesmos 1% que têm renda 36,2 vezes maior que os 40% mais pobres. (OXFAM e PNAD/IBGE).

Temos um sistema tributário regressivo, onde quanto mais rico você for menos imposto paga, com impostos indiretos – embutidos nos preços dos produtos – fazendo com que pobres e bilionários paguem o mesmo imposto ao comparar alimentos, por exemplo.

Racismo, sexismo, injustiça social e tributária, mais xenofobia – o ódio da extrema direita branca contra negros e nordestinos – e LGBTfobia, entre outras mazelas, nos torna um dos países mais violentos do mundo – toda essa violência tem como origem um Estado a serviço de uma elite branca e reacionária, de mentalidade escravocrata; uma herança de mais de trezentos anos de colonialismo e escravidão.

A “cidade maravilhosa” – como é conhecida o Rio de Janeiro por suas belezas naturais – traduz esse apartheid social em seu ordenamento urbano; bairros nobres e bem organizados, limpos e seguros – Leblon que costuma ser cenário de novelas de horário nobre, Ipanema, Laranjeiras, Copacabana, Barra da Tijuca, etc; bairros da burguesia e da alta classe média branca – muitas vezes fazendo divisa com morros e comunidades pobres, bairros sem qualquer infraestrutura pública, dominados pelo tráfico ou pelas milícias – fenômeno tipicamente carioca composto por policiais e ex-policiais que disputa com o Comando Vermelho o controle dessas comunidades.

Os pobres do Rio de Janeiro vivem em verdadeiros bantustões – depósitos de mão-de-obra sazonal e barata para a elite branca carioca – sem lazer, segurança, saúde, educação e sob a opressão cotidiana do crime organizado – traficantes ou milicianos.

As forças de segurança aparecem nas comunidades apenas para fazer operações, geralmente violentas e letais, a pretexto de combater o tráfico de drogas para depois deixar a comunidade sob o domínio do crime – traficantes ou milicianos – sem qualquer política de recuperação do território.

É uma verdadeira, e consequente, política de criminalização da pobreza; deixar as comunidades e morros pobres da cidade sob o domínio do crime – como política de segurança pública – e ocupá-los apenas de vez em quando para fazer operações letais tratando os moradores como criminosos – de fato ou suspeitos – para depois devolver essas comunidades para os verdadeiros criminosos; pouco se importando com a situação das populações dessas áreas da “cidade maravilhosa” e depois retomar o ciclo de operações e retomada da comunidade pelo crime organizado.

O que difere a operação policial no Alemão e na Penha é o grau de letalidade e a opinião pública criada – com participação ativa da grande imprensa e da extrema direita – a seu respeito; tudo temperado com muita desinformação e questões em aberto devidamente olvidadas pela maioria da imprensa e pelo governo do RJ.

Foram quatro policiais mortos – número consensual – e 117 “bandidos” de acordo como governo estadual e a imprensa de extrema direita; inicialmente o governo do estado declarou 60 mortes além dos quatro policiais, depois a população encontrou mais 72 corpos escondidos ou deixados na mata próxima as duas comunidades – o somatório dá mais de 130 mortes, 136 para ser exato.

Sem explicar os motivos, a imprensa fechou com o número de 121 mortos, 117 “bandidos” ou “suspeitos” e quatro policiais; mas o show de desinformação continuou.

No dia 01 de novembro a Revista Veja publicou que foram identificados 109 dos 117 “suspeitos” ou “criminosos” oficialmente mortos na operação; sendo que 43 possuíam mandados de prisão pendentes, 54 eram de outros estados, 78 tinham histórico criminal; como a reportagem não deu maiores explicações e fazendo uma soma das informações teremos o total de 175 pessoas – bem diferente de 109 que foram identificados ou de 117 que foram declarados mortos.

O que essa confusão – que creio ser deliberada – esconde é que das 109 pessoas identificadas até então 78 tinham histórico criminal; portanto 31 pessoas eram aparentemente inocentes – parece chacina.

É uma tática de desinformação; um monte de dados misturados visando esconder uma informação essencial; a possibilidade de 31 pessoas terem sido mortas sem vínculo orgânico com o crime ou com um único crime, serem pobres e moradores da periferia.

O que reforça um pouco mais a hipótese de chacina é o fato de que corpos, setenta e dois, foram abandonados na mata, sem que o local fosse isolado para perícia e os corpos recolhidos pelo IML para a devida necrópsia – muito suspeito.

Operações anteriores como Carandiru/1992 em São Paulo, com 111 mortos, todos presidiários condenados ou outras no RJ com menor letalidade que a operação na Penha e no Alemão chegaram a ser consideradas chacinas pela imprensa oficial; também nenhum meio de comunicação ou veículo de imprensa questionou a disparidade de mortos entre os dois lado do confronto, 117 a 04 – para que não me entendam mal, não defendo a morte de policiais, mas em um confronto de tamanha proporção as perdas dos dois lado são muito desproporcionais.

Por fim, a questão inicial: por que só nas comunidades pobres e periféricas a polícia realiza esse tipo de incursão, no resto da “cidade maravilhosa” não tem crimes, não tem tráfico?

Algumas drogas ilícitas custam caro, acima do poder aquisitivo dos moradores das comunidades; o quer dizer que não têm mercado na parte pobre do RJ; mesmo assim a polícia “sobe o morro e deixa corpo no chão” – geralmente de moradores sem vínculo com o crime organizado – para punir e criminalizar a pobreza e os pobres, desviando o olhar da sociedade dos lugares onde as drogas são consumidas e o crime financiado.

Crime S/A

No capitalismo, algum tipo de máfia é o caminho natural de todas as coisas
Luis Fernando Veríssimo

O crime organizado faturou, desde 2022 até este ano de 2025, aproximadamente R$ 347,8 bilhões; com o comércio ilegal de combustíveis (R$ 61,5 bilhões), comércio ilegal de bebidas (R$ 56,9 bilhões), garimpagem ilegal de ouro (R$ 18,2 bilhões), comércio ilegal de tabaco e cigarros (R$ 10,3 bilhões), crimes virtuais e furtos de celulares (R$ 186 bilhões); a cocaína – carro chefe da campanha da extrema direita pelo extermínio como política de segurança pública – respondeu por R$ 15 bilhões.

A cocaína é uma atividade importante dos negócios do crime organizado, mas não é a mais rentável e as empresas criminosas e os empresários do crime podem muito bem manter seus negócios sem ela.

Isso dá razão ao ministro Haddad e outras figuras do governo federal quando dizem que combater o crime organizado passa por asfixiar seu lado financeiro, pegar e prender os financiadores, os empresários que lucram com o crime – a lumpemburguesia que não mora nas comunidades pobres do RJ, que vive muito bem nas áreas e bairros nobres da cidade que ainda é nosso cartão postal.

Operações da polícia federal, como a carbono oculto que desbaratou um esquema de contrabando e falsificação de metanol e lavagem de dinheiro através de fintechs – bancos digitais – no coração do capital financeiro – Faria Lima em SP – e a operação que fechou uma fábrica de fuzis com capacidade para produzir 3500 unidades por ano, no interior desse estado com a apreensão de 150 fuzis, muito mais que os 91 fuzis apreendidos na chacina de Cláudio Castro no RJ sem disparar um tiro, apontam o caminho para enfrentar a Crime S/A.

Os governadores de extrema direita não têm moral ou autoridade para enfrentar os empresários do crime organizado; a principal doadora da campanha de Tarcísio de Freitas ao governo estadual de SP – uma pecuarista que doou R$ 500 mil – é suspeita de pertencer a facção criminosa PCC, o crime organizado do Rio de Janeiro tem infiltração na polícia militar – milicianos – e no legislativo – vereadores e deputados estaduais como os mandantes do assassinato de Mariele Franco.

De forma tácita, os chefes dos executivos estaduais de extrema direita são sócios dos criminosos na opressão da população pobre – que no RJ vive entre a opressão da facção criminosa de plantão e a opressão da operação policial – e é por isso que as pautas defendidas por esses governadores e outras figuras da extrema direita coincidem com os interesses do crime organizado – facilitar o acesso a armas de fogo defendido por Bolsonaro e sua “familícia”, não fiscalizar transações do PIX e fintechs como defende o deputado Nikolas Ferreira, são exemplos bastante eloquentes.

Necropolítica e guerra social contra os pobres

Ah, só morreu bandido? Não é quem está falando aqui, é um pastor. Só de filhos de pessoas da minha igreja, eu sei que morreram quatro. Meninos que nunca portaram um fuzil. Mas estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E sabe quem vai saber se são bandidos ou não? Nunca […], ninguém vai atrás, porque preto correndo em dia de operação na favela é bandido. (Deputado Otoni de Paula, MDB-RJ, pastor evangélico)

Com os cadáveres da chacina ainda insepultos e quentes e sem serem identificados, Cláudio Castro deu uma declaração à imprensa no pior estilo “cowboy” ou “xerife”, que a “operação” nas comunidades foi realizada sem participação ou apoio do governo federal, que houve apenas quatro vítimas – os quatro policiais mortos – e que os outros mortos – 60 na contagem desse do dia 28 de outubro, data da declaração – eram todos bandidos – lembrando que nenhum corpo, com exceção dos policiais, estava identificado.

O, agora pop star, Cláudio Castro encerrou com um lema e um aviso; não permitiria que fizessem proselitismo político ou politicagem sobre o assunto e proclamou a quem vier ao RJ; “ou soma, ou some” – patético.

Tamanho arroubo não sobreviveu 48 horas, no dia 30 de outubro – com os cadáveres ainda insepultos e não identificados, agora com 121 mortos em números oficiais, estranhamente aceitos sem contestação pela chamada grande imprensa – houve uma reunião com o próprio governador do RJ, mais quatro governadores de extrema direita – MG, SC, GO, MS – e a vice-governadora do DF; e adivinhem qual foi o assunto da conversa – politicagem.

No encontro, entre críticas levianas ao governo federal, ainda sobre os cadáveres insepultos e sem identificação, foi criado o “consórcio da paz” – que ironia.

O que podemos concluir dessa ação, dessa chacina – mais uma contra o povo pobre e preto da periferia – é que se trata de uma ação da extrema direita para “voltar ao centro do ringue” na disputa contra a esquerda para as eleições de 2026.
Desde o começo do ano a extrema direita – que é maioria no congresso nacional e controla vários governos estaduais – estava na defensiva, “nas cordas”, desde a votação do IOF, passando pelo tarifaço de Trump contra o Brasil – quando saíram às ruas com bandeira dos EUA – chegando a PEC da bandidagem e a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, o governo passou a ofensiva nas redes sociais e no debate eleitoral com o aumento da popularidade do presidente Lula.

Com a aprovação da operação de extermínio no RJ pela maioria da população o assunto do dia é segurança pública e combate ao crime organizado; temas prediletos da “bancada da bala” – agora bancada da segurança pública – que, juntamente com governadores e prefeitos da extrema direita, espetaculariza a violência para justificar chacinas contra os pobres, como essa no RJ.

O governador do RJ e seus “blue caps” fazem da morte de pessoas – muitas inocentes – plataforma política para fortalecer seus projetos políticos pessoais e dar um programa, uma plataforma para a extrema direita voltar ao “centro do ringue” na luta contra o governo federal – pura e genuína necropolítica.

Como sujeitos neofascistas, esses senhores são parte de um projeto de guerra social-guerra civil contra o povo pobre e preto das periferias; primeiro armaram – ou tentaram armar – a população branca endinheirada no governo do genocida – Bolsonaro – permitindo a compra e a posse de armar pelo CACS – colecionadores, atiradores, caçadores – ainda restando, mesmo depois da política de desarmamento do governo atual, mais de 140 mil desses quase milicianos – que recentemente foram alvo de denúncias pela imprensa de estarem fornecendo armas pesadas e treinamento para o crime organizado.

Armam o crime, espalham o terror da violência pelas redes sociais e canais de tv aberta; dos seis grandes canais de tv aberta de SP e da maioria dos estados brasileiros – Cultura, SBT, BAND, Rede TV, Record, Globo – no horário semanal diário das 15h às 19h quatro deles têm programas centrados no noticiário policial e de violência; fazendo uma população desesperada e apavorada apoiar qualquer solução de rito sumário dos governos na segurança pública – desviando o olhar da sociedade de problemas como injustiça social, injustiça tributária, condições de trabalho, entrega de patrimônio e serviços públicos ao capital, etc, para a segurança pública e a “guerra ao tráfico”.

Eles armam os brancos, que treinam e armam o crime organizado, exigem autonomia para governadores fazerem o que bem entenderem com a segurança pública em seus estados armando até os dentes as polícias dando a elas carta branca para matar; e como partem do princípio de que o crime reside nas periferias pobres, está feita a guerra civil do Estado contra a pobreza – existe uma coincidência de interesses, tácita ou explícita, entre a extrema direita e o crime organizado, uma precisa do outro para sobreviver.

Essa é a necropolítica do neofascismo em associação com os empresários do crime; eliminar os pobres e, subsidiariamente, todos os movimentos e pessoas que lutam pelo povo preto e pobre das periferias.

Militarização das escolas públicas: direita, volver!

As escolas cívico-militares são a “cereja do bolo” – a sobremesa, o complemento – de um banquete macabro; extermínio da população das periferias, polícias com poder de justiça e armadas até os dentes contra a população e uma aliança muito estranha entre o poder do Estado e o crime organizado – armam os “cidadãos de bem”, que armam o crime, que serve de pretexto para armar as polícias contra o povo pobre.

Mesmo sendo ilegal, sem amparo na constituição ou na LDB, o projeto cívico-militar de escola foi aprovado pelo STF – prova de que os senhores de toga não são nossos amigos, são aliados de ocasião que defendem as instituições da democracia burguesa para manter seus privilégios – sendo que entre os princípios da educação segundo a LDB estão a total liberdade de concepções pedagógicas, de ensinar e de aprender, não incluindo disciplina e respeito a hierarquia – bases da militarização – e o artigo 5º da constituição – cláusula pétrea – estabelece a liberdade de associação e expressão do pensamento; algo totalmente estranho ao espírito militar.

E mesmo com o fim desse programa decretado pelo governo federal; os governos estaduais de extrema direita mantiveram esse programa e modelo de escola, não por acaso aplicado apenas nas escolas públicas.

O Brasil vive, há muitas décadas, um apartheid educacional – para classe social uma escola – onde ricos e pobres estudam em escolas diferentes com objetivos e finalidades diferentes – quando não opostos.

Aqueles que podem pagar por uma mercadoria chamada conhecimento – os endinheirados – frequentam a escola do conhecimento – elitizadas e caras – para serem os herdeiros da elite que manda no país; a população pobre, justamente os que mais precisam da educação escolar como forma de inserção no mundo do trabalho formal são condenados a frequentar a escola do acolhimento social ou do passatempo – com uniforme escolar, merenda, atividades de confinamento, com condições precárias de ensino e aprendizagem, para formar o precariado, o exército de reserva para servir o capital . (Educ. Pesqui. vol.38 no.01 São Paulo jan./abr. 2012, O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres.)

As escolas cívico-militares representam um refinamento nessa política, são uma espécie de pedagogia do adestramento e da disciplina como um fim em si mesma, também são parte da necropolítica – da guerra social contra os pobres – onde membros das PM’s trabalharão como professores e, ironia, receberão salários maiores que os docentes de ofício.
Nas escolas públicas militarizadas a pedagogia do acolhimento e do passatempo incorporará a pedagogia do adestramento e da disciplina para formar a “carne de canhão” da guerra civil que a extrema direita quer fazer, e está fazendo, contra o povo das periferias pobres das cidades brasileiras.

Essas escolas servirão para formar a opinião pública favorável às chacinas e ao extermínio nas periferias e tornar nossos jovens e adolescentes instrumentos dessa necropolítica; trabalhando para um dos lados na guerra e apoiando essa guerra, enquanto os verdadeiros bandidos ficam refestelados, muito bem acomodados nas áreas nobres próximas ao poder e longe dos “campos de batalha”.

É a política do “pão e circo” dos romanos atualizada; enquanto os pobres duelam na arena das periferias uns contra os outros, os ricos e a classe média branca se divertem nas escolas do conhecimento – altamente caras para garantir que pobres não entrem, ou que entrem apenas alguns pobres escolhidos a dedo para servir como vitrine para a ideologia da meritocracia.

Lutar contra o modelo cívico-militar é defender a escola pública, a escola do conhecimento para todos; é também enfrentar a extrema direita e sua necropolítica.


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