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Cláudio Castro-PL faz política com sangue
Publicado em: 29 de outubro de 2025
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Coluna Gabriel Santos
Gabriel Santos
Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi
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Coluna Gabriel Santos
Gabriel Santos
Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi
Em 2010 cenas vindas do Rio de Janeiro rodaram o mundo. Diante de uma mega operação das Forças policiais do Estado, com direito a uso da GLO, dezenas de traficantes fugiam em uma estrada de terra. A imagem foi vendida como uma prova do avanço do Estado brasileiro no território que era controlado pelo crime organizado, e anunciava tempos de paz.
Nesta terça (28), vimos nas ruas do Morro do Alemão e da Penha barricadas, tiros cruzando o ar, e tiroteios entre membros do crime organizado e policiais. A promessa de paz feita anos atrás não foi realizada.
As novas imagens que assistimos nesta terça (28) deixam em vista uma lição: a atual política de segurança pública está falida, fadada ao fracasso e coloca os envolvidos em um ciclo sem fim.
Por mais que o aliado de Bolsonaro e governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirme que a operação foi um sucesso, pois teriam sido mortos 60 criminosos, e aprendido quase uma centena de fuzis. Por mais que a extrema direita brasileira comemore essas mortes. O fato é que, ano a ano, mais e mais operações policiais são feitas, enquanto mais mortes ocorrem. São novas operações com número de mortes cada vez maiores, e mesmo assim o crime organizado não é dizimado. Pelo contrário, cada vez mais territórios são controlados pelo crime organizado nas grandes cidades. Cada vez um número maior de facções se expandem para um novo estado e passam a fazer negócios em uma nova forma de lucrar.
Temos hoje uma lógica de segurança pública que não reduz os índices de homicídio, não gera segurança ao cidadão, não é eficaz contra o crime organizado, e não impede o crescimento do domínio armado sobre o território público.
De fato é preciso reconhecer um problema: O Rio de Janeiro vive uma guerra. Bairros e regiões inteiras da cidade são controladas por forças criminosas, sejam as facções ou as milícias, estas últimas tendo relações com as forças de segurança do Estado.
O crime organizado precisa e deve ser combatido. Dito isso, é preciso afirmar uma outra afirmação igualmente lógica. A Segurança Pública não se faz com operações midiáticas, isoladas, e que terminam colocando a população em risco. Segurança pública se faz com planejamento, inteligência, prevenção e responsabilidade.
O que fazem Cláudio Castro, e a extrema direita, é transformar a pauta de Segurança Pública em um palanque eleitoral. Por meio de uma mobilização de sentimentos de medo e insegurança, eles aplicam um populismo criminal, fazem mega operações, e vendem números de corpos abatidos como prova de um sucesso.
O modelo de segurança pública de Cláudio Castro, não combate o crime organizado de forma efetiva e não resolve o problema, pelo contrário. Esse modelo necessita da insegurança justamente para alimentar uma histeria coletiva, um medo social, que justifique o discurso da violência e confronto como única forma de solução, e assim repetir novamente este ciclo.
O mesmo Cláudio Castro que neste dia 28 foi a TV chorar lágrimas de crocodilo afirmando que foi abandonado pelo Presidente Lula, é aquele governador que se recusou a usar R$174 milhões de reais destinados pelo governo federal por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública ao estado do Rio de Janeiro.
Vale lembrar que Castro é um dos poucos governadores, que por ideologia e cálculo eleitoreiro, é contra a PEC da Segurança Pública. Essa PEC, parada no Congresso Federal desde o meio do ano, busca solucionar um problema no nosso modelo de segurança e fazer importantes mudanças. Por meio dela a Segurança Pública passa a ser vista de forma integrada entre município, estado e União, com uma ação comum da polícia civil, militar, federal, ministério da justiça e secretaria nacional de segurança pública.
Cláudio Castro recusou esta PEC, mas vendo o desastre de sua operação, vai a TV afirmar que precisava de mais apoio e ação integrada com o governo federal. Mostrando que além de um péssimo governador, e insensível às pautas populares, é um hipócrita e farsante.
O que Castro fez, em busca de palanque, foi colocar a vida de milhares de pessoas em risco, e toda uma cidade em pânico. Ruas bloqueadas, transporte superlotado, milhares de crianças fora da escola, casas de moradores de favelas destruídas por conta de balas perdidas. A ação despreparada de Cláudio Castro gerou pânico, e mostrou que o crime organizado teve capacidade de reagir paralisando e causando o caos no Rio de Janeiro. Trabalhadores ficaram ilhados, entre tiroteios e barricadas, com as vias da cidade paralisadas. O governo do estado foi pego de surpresa, e deixou a população completamente abandonada.
Transformar bairros inteiros em territórios de exceção, não é segurança pública. O fato é que mega operações midiáticas não são efetivas no combate ao crime, mas trazem engajamento, capas de jornal, horário nobre, e bastante votos. Não é atoa que o populismo penal e a segurança pública, são alicerces centrais do discurso e da política da extrema direita brasileira. Com a ação de hoje ela voltou ao centro do debate.
Castro realizou uma operação fracassada, a cidade do Rio de Janeiro entrou em pane, a população virou refém do medo, isso tudo em nome de criar um fato político e se colocar como oposição ao governo federal.
O combate firme à criminalidade deve ser feito, mas a política de segurança não pode ser confundida nem reduzida ao mero confronto. É preciso inteligência, investigação, prevenção e apostar na justiça social.
A política de Segurança Pública deve ser vista de forma universal e totalizante. Ou seja, um direito de todos, e algo que perpassa as diversas esferas sociais com integração entre elas. Uma política de segurança pública efetiva só será possível quando o Estado for presente no cotidiano da periferia não apenas por meio do braço armado. Mas sim por suas instituições democráticas e políticas públicas. A presença do Estado deve se dar em todas as dimensões: saúde, educação, moradia, cultura, empregabilidade, oportunidades e também na segurança a stricto sensu.
As favelas e as periferias brasileiras não podem ser vistas a partir da lógica excludente que a rege historicamente e que é reforçada por Cláudio Castro.
Essa lógica enxerga favelas e periferias como territórios a serem conquistados a todo instante, não pelo fato da existência de grupos criminosos, mas sim, pela existência de grupos sociais vistos como excluídos da sociedade: sujeitos pobres e negros. Estes sujeitos, que estão à margem, habitam neste lugar, nas favelas e periferia, estão à margem da lei e do Estado de Direito, e justamente por isso, o que resta é apenas a linguagem da força bruta.
Por fim, apenas mais três observações:
A primeira é que Cláudio Castro se catapultou ao governo do estado após ser vice de Witzel. Esse por sua vez ficou famoso após quebrar uma placa em homenagem a Marielle Franco.
A segunda, é que um dos grandes aliados do governador Cláudio Castro na ALRJ era TH Jóias, um conhecido traficante de armas para o crime organizado. Washington Reis, aliado de TH, é apadrinhado pela família Bolsonaro para concorrer às eleições ao governo do estado e é acusado de envolvimento com o crime organizado. Esse mesmo Washington foi colocado por Cláudio Castro como Secretário de Transportes.
A terceira é que foi apreendido mais drogas no avião presidencial de Jair Bolsonaro do que na última operação policial nas favelas do RJ.
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