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Por que um Festival Antirracista de Cultura e Resistência?
Publicado em: 16 de outubro de 2025
Antirracismo é resistência ao neofascismo
As ideias racistas estruturam as expressões políticas mais reacionárias do mundo. No Brasil isso não é diferente: o neofascismo se apoia em um projeto racista de aprofundamento das desigualdades sociais e de supremacismo. A extrema direita atua para desmontar direitos conquistados pela classe trabalhadora e privatizar serviços públicos. Recrudesce as forças de segurança do Estado e as conduz para uma intensificação do encarceramento, da violência policial e do genocídio da população negra.
Não acidentalmente, o antirracismo tem se consolidado como um dos elementos mais progressivos e dinâmicos de uma realidade política marcada por tantos retrocessos. Fruto da construção das últimas três décadas de trabalho do movimento negro brasileiro, vemos a massificação dos ideais de igualdade e solidariedade racial e da afirmação de uma consciência negra.
Devemos a isso o fato de o bolsonarismo ter passado longe de ser uma corrente majoritária entre a população negra, mas também os enfrentamentos à extrema direita nas ruas e a recente ampliação da representação negra nos parlamentos.
Além de resistir ao neofascismo, queremos apontar para um novo projeto de país a partir do acúmulo desses movimentos. Não se trata de uma agenda específica, voltada para um setor da sociedade. O antirracismo é, para nós, um elemento central para um projeto de Brasil, que precisa ser refundado a partir da ruptura com suas bases escravagistas, que marginalizam, invisibilizam e eliminam até hoje sistematicamente a população negra — a maioria deste país.
Nesse sentido, estamos na luta pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 27/24. A iniciativa visa criar um fundo para financiar, ao longo de 20 anos, políticas públicas estruturantes em áreas como educação, cultura e empreendedorismo, como forma de reconhecer e começar a quitar a dívida histórica do Estado brasileiro com a população negra.
Diversos, mas não dispersos: uma articulação para somar
O Festival Antirracista de Cultura e Resistência tem como objetivo articular parlamentares, figuras públicas, intelectuais, artistas, movimentos negros, territoriais e culturais para iniciar a construção de uma agenda política comum.
A partir de uma visão que compreenda as lutas antirracistas e antifascistas como inseparáveis, queremos fortalecer a mobilização em torno de um programa que nos garanta vida, liberdade e dignidade, que se contraponha ao projeto de morte e destruição liderado pela extrema direita.
Superando limitações que por vezes dificultam encontros entre diferentes setores, nos juntamos também para encarar um debate sobre os desafios para o futuro da esquerda.
São parte dessa iniciativa o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) e a Bancada Feminista (PSOL); além do historiador e fundador da Uneafro Brasil Douglas Belchior; a deputada federal Talíria Petrone (PSOL – RJ); os deputados estaduais Matheus Gomes (PSOL – RS) e Rosa Amorim (PT – PE); a ativista e ex-deputada federal por Minas Gerais Áurea Carolina; e a vereadora Iza Lourença (PSOL) de Belo Horizonte.
Viemos para somar: longe da intenção de substituir ou de se sobrepor às articulações já existentes no movimento negro, o que se pretende com o festival é somar esforços e conectar iniciativas existentes. Nosso objetivo é dar um primeiro passo rumo a uma articulação que não só dê visibilidade, mas entenda como tarefa coletiva a eleição e a reeleição de parlamentares negros antifascistas.
Resistência do nosso jeito: política com arte e cultura
Escolhemos como forma de apresentar essas ideias um festival porque queremos fazer política do nosso jeito: além de profundos debates – com ativistas e intelectuais que são referências nos temas de segurança pública, racismo algorítmico, regulação da internet, justiça socioambiental, educação popular, trabalho e território –, queremos imprimir o peso que teve e tiveram historicamente a cultura para a organização política do povo negro.
Por isso, é parte de nossa programação literatura, roda de samba, batalha de rima, baile charme, entre outras expressões artísticas. Teremos como homenageada do evento a deputada estadual Leci Brandão, que abriu tantos caminhos para o nosso povo, seja na política institucional ou na resistência cultural.
Além disso, tendo como convidada de honra a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, queremos prestigiar os dez anos de construção dessa luta e saudar a segunda edição da Marcha Nacional das Mulheres Negras.
Durante todo o Festival Antirracista de Cultura e Resistência, teremos ainda uma feira literária de autores negros e de temática racial e social, assim como uma feira de economia solidária, com diversos trabalhos artesanais e serviços organizados por produtores negros.
Por fim, também teremos a venda alimentos da reforma agrária produzidos pelo MST e a participação de bares parceiros da região.
Junte-se a nós neste movimento:
O Festival Antirracista de Cultura e Resistência é uma construção aberta aos movimentos negros e a suas lideranças, às editoras independentes e aos pequenos produtores. Acreditamos que é a partir da nossa união e das diversas formas de nos associarmos que nos fortalecermos para a tarefa histórica de enterrar a extrema direita e fazer nascer algo novo, um futuro que seja a nossa cara.
O Encontro será nos dias 7 e 8 de novembro, em São Paulo, no Galpão Elza Soares (MST), completamente gratuito. Você pode indicar os temas de debate nos quais mais tem interesse, se deseja propor alguma atividade cultural ou participar da feira de economia solidária. Para participar, basta acessar o site festivalantirracista.com.br.
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