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A história não é linha reta: juventude e povo voltam a escrever o futuro nas ruas
Publicado em: 9 de outubro de 2025
A história nunca foi uma estrada reta. É cheia de curvas, contradições e momentos inesperados. Foi isso que aconteceu no último 21 de setembro, quando a juventude e o povo brasileiro voltaram a ocupar as ruas e mostraram que a luta segue viva, mesmo após anos em que a extrema direita parecia ter o controle da cena pública.
O que vimos não foi um ato qualquer. Foi um reencontro da esquerda com sua força social, uma explosão de cores, cantos e bandeiras que misturou indignação e esperança. Multidões marcharam em todas as capitais e em dezenas de cidades do interior, afirmando com clareza: não haverá anistia para golpistas, nem blindagem para corruptos. A chamada PEC da Bandidagem, concebida nos gabinetes de Brasília, foi derrotada pela força da rua.
Durante anos, a esquerda esteve mais reativa, sempre na defensiva diante das investidas da extrema direita e do Centrão. O 21 de setembro, porém, abriu uma nova brecha: pela primeira vez em muito tempo, os bolsonaristas foram superados em mobilização. A nossa maioria mostrou disposição para se levantar em defesa da democracia, da soberania e da justiça social.
E o recado foi mais amplo do que resistir. Ao lado do “sem anistia”, ecoaram bandeiras concretas como o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, a taxação dos super-ricos e a defesa de nossa soberania nacional com justiça ambiental. Foi a expressão de que o povo não se levanta apenas para dizer “não” ao retrocesso, mas também para abrir espaço a outras formas de futuro.
Essa vitalidade não passou despercebida. Lula saudou a mobilização e, depois, discursou na ONU com um tom de soberania que refletia a energia vinda das ruas. Ao denunciar a ofensiva dos Estados Unidos contra o Brasil e posicionar-se em defesa da Palestina diante do genocídio promovido por Israel, o presidente se amparava em algo maior do que sua voz: uma maré popular que já tinha dado sinais de que não aceita mais o silêncio.
A questão palestina não é distante de nós: ela simboliza o choque entre povos que lutam por dignidade e potências que impõem guerra, ocupação e apartheid. A juventude brasileira, que se mobilizou em atos de solidariedade e levantou bandeiras da Palestina, entende que defender Gaza é também defender o Brasil, porque a luta contra o genocídio é parte da mesma batalha contra o imperialismo que tenta ditar os rumos da nossa democracia e economia. Ser solidário à Palestina é ser coerente com a defesa da vida e da soberania em qualquer parte do mundo.
Em julho, Trump havia imposto tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, acusando o país de “perseguir” Bolsonaro e atacando o Judiciário. Lula reagiu chamando isso de chantagem e violação da soberania, lembrando que o povo não aceita interferências externas. Na ONU, reforçou que ataques ao sistema de justiça e à democracia do Brasil são “inaceitáveis” e não seriam tolerados.
O desfecho dessa batalha mostrou que é possível vencer a queda de braço. Depois da firmeza brasileira, Trump mudou o tom: tentou posar de simpático, elogiou Lula, falou em “química excelente” e acenou para o diálogo. Mas esse recuo não foi gentileza, foi sinal de que o Brasil, apoiado em sua mobilização popular, mostrou que não se dobra. A lição é clara: quando há povo nas ruas e soberania afirmada, até as maiores potências precisam recuar. É esse espírito anti-imperialista que precisa guiar nossa luta.
No domingo, provamos que a mobilização pode pressionar e ditar os rumos do país. É nisso que acreditamos que o governo deve incentivar e se apoiar para fazer avançar o projeto eleito em 2022. As ruas são o espaço de onde emana a energia capaz de mudar correlações de força. Como vimos, os atos que varreram o Brasil de norte a sul foram inicialmente puxados por Boulos, Erika Hilton, a Frente Povo Sem Medo, a Mídia Ninja e o grupo 342 Artes. Prontamente, a Frente Brasil Popular, o PT e outros partidos políticos compuseram a convocação das manifestações. Foi a unidade que permitiu nossas vitórias e reafirmou que se faz necessária para enfrentar a extrema-direita e avançar com nossas pautas.
Além disso, a presença de diversos artistas nas diferentes cidades ao redor do Brasil também nos trazem uma lição: a cultura é um importante e potente instrumento de mobilização, ao ampliar nosso alcance, mas em especial por nos colocar a agir e pensar sobre o momento em que estamos vivendo. Estes artistas ecoaram nossos cantos que tentaram abafar e censurar mais uma vez!
Na batalha das últimas semanas, derrotamos a extrema direita nas ruas. Contudo, em que pese essa nossa importante vitória, a extrema direita segue muito articulada. Empresários cúmplices, redes de desinformação, setores militares e parlamentares conservadores permanecem ativos e conspirando contra o Brasil. O Centrão continua a operar pela chantagem e pelo retrocesso. Por isso, o 21 de setembro não pode ser tratado como ponto final, mas como ponto de partida.
Transformar a ofensiva em força duradoura exige organização popular, unidade de ação e disputa de corações e mentes. A prisão de Bolsonaro foi um marco, mas não basta derrotar a principal liderança: é preciso desmontar toda a engrenagem golpista que ainda ameaça a democracia.
Nesse contexto, o Plebiscito Popular assume papel estratégico. Não é apenas um gesto simbólico: é um exercício concreto de democracia direta. Ao envolver a população em temas como justiça fiscal, soberania e direitos sociais, o plebiscito amplia a consciência coletiva e fortalece a ideia de que política é decisão cotidiana, não evento distante.
Cada escola, cada universidade, cada bairro que participar se transforma em espaço de resistência e aprendizado. Para a juventude, é a oportunidade de mostrar que democracia se faz com participação ativa e constante, não só em eleições oficiais.
A juventude tem lugar decisivo nesse processo. É dela a energia, a criatividade e a ousadia para ocupar ruas e redes. É ela que traduz pautas em linguagem acessível, conecta gerações e transforma a indignação em ação. Sem juventude, não há continuidade da luta nem renovação da esperança.
Como consequência desse novo momento produzido pela luta política em diversas frentes, a isenção do imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais, conjugada a taxação dos super ricos foi aprovada por unanimidade no Congresso Nacional. O desafio é costurar as vitórias parciais, que são importantíssimas, em projeto de longo prazo. Mostrar que justiça social e justiça climática caminham juntas. Defender um Brasil, soberano e democrático, capaz de enfrentar a extrema direita, resistir às chantagens do Centrão e se afirmar diante do imperialismo. Neste sentido, é fundamental que todos os espaços ocupados pela juventude sejam lugares de organização e direção para as próximas ações, de forma que as lutas em cada território se conectem para combatermos esta maré fascista e apresentarmos outro projeto de futuro.
O 21 de setembro mostrou que depois de anos de silêncio e defensiva, o povo voltou a falar alto. O medo começou a mudar de lado, mas nosso caminho ainda é muito longo. Não podemos incorrer no erro de subestimar nossos inimigos. A extrema direita segue forte, articulada e com peso social. Contudo, a esquerda demonstrou, pela primeira vez em muito tempo, a capacidade de começar a pautar um novo projeto, apoiado nas ruas. Cabe agora transformar essa faísca em fogo permanente. Porque no fim, o que está em jogo não é apenas barrar uma PEC ou enterrar a anistia. É construir um Brasil onde a democracia seja radicalizada, a soberania defendida e a justiça social realizada.
A história não é linha reta e é justamente por isso que a juventude tem a chance de dobrar o curso do tempo e recolocar o futuro em nossas mãos.
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