movimento
Tecendo a manhã
Manifesto por uma nova organização ecossocialista
Publicado em: 28 de setembro de 2025
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Manifesto Por Uma Nova Organização Ecossocialista
Este manifesto é sobre um encontro. Em um tempo em que a esperança parece abafada pelo ruído das múltiplas crises globais, do avanço da extrema direita neofascista e da barbárie capitalista, nós, militantes da Resistência e da Insurgência, decidimos unir nossas fileiras para construir uma nova corrente revolucionária no Brasil. Nossa tarefa é ser um instrumento útil na derrota da extrema direita em ascensão e no reencontro das e dos revolucionários. Sabemos que nossas organizações, sozinhas, não levantarão a manhã de outro tempo.
Somos “uma” porque não somos a única. Somos “corrente” porque não nos consideramos um partido, mas sim parte de um movimento que é muito mais amplo do que nós, e do qual somos apenas uma das componentes. “Revolucionária” porque não nos confundimos com as organizações que abandonaram essa estratégia em benefício da democracia burguesa ou dos projetos reformistas. Mais importante: sabemos que não somos um fim em nós mesmos. Estamos em constante construção porque nossas ferramentas não estão prontas, e porque só avançaremos com novos encontros futuros. Nosso propósito é ser um instrumento prático, capaz de cumprir um papel neste tempo em que nos coube viver e lutar.
A dura situação mundial tem impactado seriamente a organização independente da classe trabalhadora e, consequentemente, as organizações revolucionárias. Buscamos, no encontro de nossas trajetórias e elaborações, potencializar a nossa capacidade de ação, combater a dispersão e seguir realmente dispostos a ser um ponto de apoio para o encontro dos revolucionários no século 21. Após quase dois anos de discussão criteriosa, mas fraterna e aberta entre nossas organizações, acreditamos que este encontro é um importante passo à frente na construção de um marxismo à altura de nossos desafios históricos.
O capitalismo, em sua busca incessante por lucro, leva a humanidade e o planeta ao abismo. Crise social, econômica e destruição ambiental ameaçam a sobrevivência do mundo como o conhecemos. Avanços científicos são instrumentalizados para a reprodução do capital, gerando cada vez mais exploração, opressão e alienação. Somos ecossocialistas, porque sabemos que a vida dos povos do mundo depende da preservação das condições que nos permitiram chegar até aqui, e porque não há desenvolvimento capitalista que não signifique também a destruição do planeta.
O neofascismo – nosso inimigo número um – é a face mais cruel desse sistema, e a luta contra ele é inadiável. É a tarefa mais urgente em nosso tempo. Nessa guerra contra o ódio, nos apoiamos na unidade da classe trabalhadora e na coragem de quem se insurge e resiste, no Brasil e no mundo. Somos internacionalistas, porque no genocídio do povo palestino está concentrado os métodos de extermínio do neocolonialismo e do neofascismo do século XXI e não é possível sermos socialistas no nosso tempo histórico sem a defesa ativa da Palestina livre
Somos parte ativa das lutas sociais, porque este é o terreno em que semeamos todos os dias uma nova manhã. Estamos junto aos movimentos estudantis e de juventude, ao movimento sindical, ao movimento negro e indígena, à luta pela terra e ao movimento ambientalista. Em nossas fileiras, temos consciência da centralidade que têm as mulheres, negros e negras e LGBTIs na construção de um futuro livre de exploração e opressão.
Construímos o PSOL porque o entendemos como espaço fundamental para a reorganização da esquerda brasileira. O partido hoje se destaca por seu enfrentamento à extrema direita bolsonarista por todo o país, e dá exemplo ao mundo combinando a unidade das forças populares com a construção de uma alternativa de futuro. Somos parte dessa construção Brasil afora, com orgulho de nossos mandatos da Bancada Feminista, Guilherme Cortez, Matheus Gomes, Atena Roveda, Grazi Oliveira, Iza Lourença, Sônia Meire, Lu Pataxó. Queremos contribuir para que o PSOL se desenvolva, organizando líderes da juventude e da classe trabalhadora, e incidindo sobre todas as lutas justas de nosso povo.
Nosso congresso de unificação será em março de 2026, e esse manifesto é também um convite para todas as pessoas, movimentos e organizações que se identificam com essas ideias e tarefas, a se somarem conosco neste processo. Este passo à frente é maior que a mera soma do acúmulo de nossas forças pela revolução no Brasil: é um movimento qualitativo. Somos e queremos ser parte daqueles que lançam os fios de sol que, juntos, tecem a manhã de um novo tempo.