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Condenado, mas não responsabilizado – As vidas arrancadas pelo bolsonarismo continuam sem justiça!


Publicado em: 19 de setembro de 2025

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Lu Libório, de Florianópolis-SC

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Elza Fiúza/Agência Brasil

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Jair Messias Bolsonaro foi condenado por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. No entanto, a lista de crimes pelos quais ele não foi responsabilizado é ainda maior. As mais de 700 mil mortes pela COVID-19 seguem impunes, assim como as milhares de vidas roubadas pelo ódio que a política de Bolsonaro e sua família incitam.

De um lado, alívio, por finalmente termos um vislumbre do que é ter o sangue dos nossos vingados. Por outro, indignação. Indignação, porque o discurso de ódio e as vidas arrancadas por ele seguem sem justiça.

A política abertamente misógina, racista e transfóbica escancarada por Bolsonaro desde o ínicio de seu governo, em 2018, não se limitou a expressar preconceitos individuais, mas funcionou como um sinal institucional que legitimou práticas de opressão e discriminação. Em 2022, foram registradas cerca de 8 mil vítimas de violência entre pessoas LGBTQIAPN+. O número representa um aumento de mais de 35% em relação ao ano anterior, quando foram um pouco mais de 5 mil casos.

>> Leia também: Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles

Ao assumir publicamente posições que desrespeitam mulheres, pessoas trans e demais grupos oprimidos, Bolsonaro criou um efeito de permissão social, encorajando pessoas com visões similares a se sentirem autorizadas a reproduzirem essas violências no dia a dia.

Lembro da primeira agressão que sofri, ela chegou mascarada de “erro”, mas logo se mostrou como violência. Foi quando eu me entendi como pessoa não binária e uma professora da universidade, mesmo após ter sido sinalizada, insistiu em me chamar pelo meu nome de registro e utilizar pronomes masculinos.

Isso não foi um equívoco. Foi uma escolha. E o pior? Eu travei.

Ninguém ao meu redor se levantou para corrigir. E até hoje isso se repete.

Esse silêncio não é neutro. Ele faz parte de um sistema que naturaliza a violência contra quem rompe com as normas de gênero as expectativas sociais, culturais e históricas que definem como homens e mulheres “devem” se comportar, vestir, falar e sentir. Quando há silêncio, o agressor é legitimado. Afinal, o silenciamento é uma das formas mais profundas de violência, pois não permite que as vozes das vítimas sejam ouvidas.

Ao afirmar que “As minorias têm que se adequar”, Bolsonaro reafirma uma política que fomenta a hostilidade e a discriminação. As palavras de um presidente moldam o discurso de uma população, orientam políticas e afetam diretamente a proteção social. Quando a liderança máxima de um país legitima a violência, ela contribui para um ciclo de exclusão que reforça preconceitos e define como os grupos oprimidos serão tratados pela sociedade e pelo próprio Estado.

Bolsonaro ter sido condenado por alguns de seus crimes é um passo importante, mas não é o suficiente. Ele e a sua base seguem com privilégios e proteção dentro de um sistema político moldado aos interesses dos grandes ricos. Foi justamente nessa articulação com forças da extrema direita que o ex-presidente consolidou um discurso de ódio que continua crescendo, alimentando a violência e exclusão. Bolsonaro e sua corja devem ser responsabilizados não apenas pelos ataques à democracia, mas pelas mortes, pela miséria e pelo ódio que disseminam.


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