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Israel assassina jornalistas em Gaza


Publicado em: 11 de agosto de 2025

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Por Waldo Mermelstein

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Nesta segunda, 11 de agosto de 2025, Israel cometeu mais um tenebroso crime de guerra: assassinou 5 jornalistas da rede Al Jazeera que trabalhavam corajosamente para cobrir os atos genocidas diários cometidos pelo Exército de Ocupação de Israel. A contabilização dos palestinos de Gaza fala em cerca de 240 jornalistas assassinados pelas tropas de ocupação. Os profissionais que foram mortos no dia 11 estavam vivendo em uma precária tenda no quintal do hospital Al Shifa na cidade de Gaza, que funciona de forma extremamente parcial pelos bombardeios israelenses e é constantemente submetido a ações desse tipo. Um detalhe macabro houve neste assassinato: ao contrário de ações similares cometidas pelos sionistas, o dito Exército assumiu a reponsabilidade pelo ato, acusando as vítimas de serem parte da resistência. Será este um excesso de confiança de que não serão atingidos pelos órgãos de justiça da ONU ou então uma demonstração do que pretendem fazer em Gaza daqui para diante?

Na semana passada, o arqui-criminoso de guerra que dirige a coalisão de governo israelense, Netanyahu, anunciou que haveria um plano de reocupação de Gaza. Esse plano, sobre o qual não se sabe nem os detalhes gerais, já gerou discórdias entre a alta oficialidade, inclusive o chefe do Estado Maior das forças armadas se pronunciou publicamente contra, mas depois afirmou que o exército sabe como tomar a cidade de Gaza, o que não é o mesmo que ocupar toda a Faixa e que isso pode significar a morte dos cativos em poder do Hamas.

O isolamento de Israel aumenta cada vez mais e a causa é o crescimento exponencial das mobilizações contra o genocídio. Nunca houve tanta oposição a Israel que é muito visível na participação, com muito peso, entre os jovens e nas comunidades judaicas, em particular nos EUA. Governos tradicionalmente pró-israelenses condenaram o plano de Netanyahu em um pronunciamento perante a ONU (França, Reino Unido, Eslovênia, Dinamarca e Grécia). Mas estes países também se posicionaram pelo desarmamento da resistência palestina e, no caso do Reino Unido, tem reprimido com muita força as manifestações pró-palestinos. Porém é clara a mudança na população deles também. Países sobre os que não tínhamos conhecimento de manifestações, como a Austrália e o Japão registraram grandes eventos nos últimos dias.

Agora, a necessidade de que essas manifestações aumentem é vital perante os planos de Israel, ainda que não se saiba os seus contornos nem prazos, mas o que Israel foi capaz de fazer nestes quase dois anos de massacres nos deve servir como aviso. Pode ser que a pressão internacional e as divisões internas entre os judeus israelenses não permitam que essa invasão ocorra. A crise de Israel, inclusive no terreno econômico, o desfecho do tema dos cativos em Gaza e o cansaço pela guerra (apesar de ser muito menor do que o dos palestinos de Gaza) podem impedir ou diminuir a amplitude de tal operação. Uma invasão por terra necessita de pelo menos dezenas de milhares de reservistas. Se houver pouco consenso de sua necessidade na população judaica, os reservistas podem decidir com os pés, ou seja, não se apresentarem a suas unidades.

Mais do que nunca, impedir a continuidade do genocídio em Gaza é a tarefa mais importante dos internacionalistas e dos que defendem os direitos humanos pelo mundo.

Nesta hora, é preciso redobrar a pressão sobre os governos do mundo. Aos apoiadores de Israel, colocar o exemplo da Alemanha, que acabou de suspender a venda de armamento para Israel (e isso que estamos falando de um governo conservador).

Outro exemplo muito importante é a decisão do Fundo Soberano da Noruega, o maior do mundo, de desinvestir de 11 empresas israelenses e dezenas mais serão examinadas.

O exemplo de Petro na Colômbia deve ser acompanhado. O país rompeu relações diplomáticas e comerciais com Israel, deixando inclusive de prover os sionistas do carvão.

A China, pelo seu peso, deve levar esta situação em conta: romper relações diplomáticas com Israel e acabar com seus investimentos nesse país, o que inclui a construção de portos como o de Haifa e outros como uma linha do metrô de Tel Aviv, ambos sob iniciativa de companhias estatais chinesas.

Em uma dimensão muito menor, mas com a possibilidade de reforçar a campanha em defesa de Gaza na América Latina, o Brasil deveria ir pelo memo caminho da Colômbia.

Gaza passa pelo pior momento de sua existência, que já foi muito conturbada quando a Faixa foi criada depois da guerra de 1948 e centenas de milhares de palestinos foram transformados em refugiados e uma parte importante deles fugiu para Gaza. A Faixa de Gaza em seu estado atual foi formada ao final da Guerra de 1948 com a chegada de dezenas de milhares de refugiados expulsos de suas aldeias e cidades, em especial as próximas da cidade de Gaza, constituindo desde então a maioria de sua população. Isso explica que a Faixa tenha grande maioria de refugiados e seus descendentes. De lá para cá, sua vida foi reduzida a viver em tendas ou em acampamentos de refugiados. Esta tremenda derrota não foi suficiente para transformar a população de Gaza em uma massa submissa. Desde os camponeses que, nos primeiros anos, tentavam ver como estavam suas terras e casas e que eram caçados como “infiltrados” pelo novo exército israelense, até a efervescência que fez com que tivessem um peso fundamental na resistência palestina nos anos 1960 e até o dia de hoje. Os dirigentes sionistas, sejam os de “esquerda” como os de uma extrema-direita, que sempre existiu e que, a partir de 1977, começou a ter um peso de massas que lhe garantiu a maior parte dos governos do país de lá para cá, concordavam em formar um estado racista, que discriminava os palestinos. As diferenças entre eles sempre foram táticas, nunca de estratégia, pois sempre diferiam nos métodos e na abrangência territorial.

Gaza seguiu sendo um baluarte da resistência depois da guerra e ocupação de 1967. E quando ela chegou a um ponto alto em 1988, com a 1ª Intifada, a chamada revolta das pedras empunhadas pelos jovens palestinos e que durou vários anos, o exército israelense recebeu a ordem de “quebrar ossos e aterrorizar os manifestantes”, que eram em sua maioria jovens. O objetivo era o de desmoralizar os bravos jovens que lutavam contra a insuportável ocupação.

E quando falamos das diferenças táticas entre a “esquerda” e a direita sionista, pensamos em quem deu essa orientação para destruir fisicamente a juventude palestina: Ytzhak Rabin, general da reserva das forças armadas e ministro da defesa durante a 1ª Intifada.


Este roteiro de opressão foi uma constante na política de Israel com relação a Gaza.

Mas, pelo conjunto dos elementos que analisamos, percebe-se que Israel pode aplicar o plano de ocupação “parcial” de Gaza, mas que enfrenta uma opinião pública mundial que nunca esteve tão favorável aos palestinos. Precisamos transformar essa mudança de opinião com a mudança nas ações dos governos e ajudar a impedir que a limpeza étnica, a ocupação e o genocídio sejam completados. O nosso governo deveria dar o exemplo e ir mais longe dos discursos favoráveis aos palestinos.

Por ter sido neste dia 11 o martírio dos 5 jovens jornalistas palestinos em Gaza, optamos por incluir ao final o texto traduzido do que um deles deixou escrito para os que seguem sofrendo e lutando:

Mensagem final do jornalista da Al Jazeera, Anas Al Sharif, antes do seu assassinato por Israel

Via Middle East Eye. Tradução de Waldo Mermelstein

O correspondente da Al Jazeera, Anas al Sharif, segurando seus dois filhos, a filha Sham (esquerda) e o filho Salah (direita)

O testamento de Anas Al Sharif é um apelo sincero por dignidade e justiça em meio ao genocídio em curso de Israel em Gaza

O correspondente da Al Jazeera, Anas Al Sharif, deixou para atrás um poderoso testamento antes de seu assassinato pelas forças israelenses na noite de domingo.

Em sua mensagem final, que ele havia prenunciado, Al Sharif prometeu ser a voz inabalável de seu povo, mesmo diante da morte, confiando ao mundo a verdade do sofrimento de Gaza e a esperança de liberdade.

O testamento foi escrito em abril deste ano e postado por sua equipe de administração no X após seu assassinato.

Esta é a minha vontade e a minha mensagem final. Se essas palavras chegarem até vocês, saibam que Israel conseguiu me matar e silenciar minha voz.

Primeiro, que a paz esteja com vocês e com a misericórdia e bênçãos de Alá. Alá sabe que dei todos os esforços e todas as minhas forças para ser um apoio e uma voz para o meu povo, desde que abri meus olhos para a vida nos becos e ruas do campo de refugiados de Jabalia. Minha esperança era que Allah estendesse minha vida para que eu pudesse retornar com minha família e entes queridos à nossa cidade original de Asqalan ocupada (Al-Majdal) (nome que os sionistas mudaram para Ashkelon). Mas a vontade de Allah veio primeiro, e Seu decreto é final.

Vivi a dor em todos os seus detalhes, experimentei sofrimento e perda muitas vezes, mas nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorção ou falsificação – para que Alá possa testemunhar contra aqueles que ficaram em silêncio, aqueles que aceitaram nossa matança, aqueles que sufocaram nossa respiração e cujos corações não se comoveram com os restos mortais dispersos de nossos filhos e mulheres, não fazer nada para impedir o massacre que nosso povo enfrenta há mais de um ano e meio.

Confio-vos a Palestina – a jóia da coroa do mundo muçulmano, o pulsar cardíaco de cada pessoa livre neste mundo.

Confio-vos o seu povo, os seus filhos injustiçados e inocentes que nunca tiveram tempo para sonhar ou viver em segurança e paz. Seus corpos puros foram esmagados sob milhares de toneladas de bombas e mísseis israelenses, dilacerados e espalhados pelas paredes.

Peço-vos que não deixem que as correntes os silenciem, nem que as fronteiras restrinjam vocês. Sejam pontes para a libertação da terra e do seu povo, até que o sol da dignidade e da liberdade se levante sobre a nossa pátria roubada.

Confio a vocês minha família para que a cuidem. Confio-lhes minha amada filha Sham, a luz dos meus olhos, a quem nunca tive a chance de ver crescer como sonhei. Confio-vos o meu querido filho Salah, a quem desejei apoiar e acompanhar ao longo da vida até que se tornasse suficientemente forte para carregar o meu fardo e continuar a missão.

Confio-vos a minha amada Mãe, cujas benditas orações me trouxeram até onde estou, cujas súplicas foram a minha fortaleza e cuja luz guiou o meu caminho. Oro para que Alá lhe conceda força e a recompense em meu nome com a melhor das recompensas.

Também confio a você minha companheira de toda a vida, minha amada esposa, Umm Salah (Bayan), de quem a guerra me separou por muitos longos dias e meses. No entanto, ela permaneceu fiel ao nosso vínculo, firme como o tronco de uma oliveira que não se dobra – paciente, confiando em Allah e carregando a responsabilidade na minha ausência com todas as suas forças e fé.

Peço que vocês fiquem do lado deles, para ser seu apoio depois de Alá Todo-Poderoso.

Se eu morrer, morro firme em meus princípios. Testifico diante de Alá que estou contente com Seu decreto, certo de encontrá-Lo e certo de que o que está com Allah é melhor e eterno.

Ó Allah, aceite-me entre os mártires, perdoe meus pecados passados e futuros e faça do meu sangue uma luz que ilumine o caminho da liberdade para meu povo e minha família. Perdoe-me se falhei e ore por mim com misericórdia, pois cumpri minha promessa e nunca a mudei ou traí.

Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação.

Anas Jamal Al-Sharif 06.04.2025

 

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