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A Importância da XII Conferência Estadual de Mulheres da APEOESP e o Lamento pelos Métodos MBLescos da Ultraesquerda
Nos dias 26 e 27 de julho, a APEOESP realizou sua XII Conferência Estadual de Mulheres na cidade de Águas de São Pedro. Podemos afirmar que tivemos importantes conquistas nesta atividade, que detalharemos a seguir.
Publicado em: 1 de agosto de 2025
Angélica Alves e Rogério Cavalheiro
A primeira grande vitória foi reunir cerca de 400 mulheres do interior paulista, com representação das 95 subsedes da entidade. Mesmo diante de uma conjuntura adversa — marcada pelas limitações impostas pelo machismo estrutural, pela sobrecarga de trabalho e pelas dificuldades logísticas —, professoras viajaram longas distâncias para debater os desafios do momento. Muitas vieram acompanhadas de seus filhos; outras, gestantes; as aposentadas nas escolas e ativas na luta. Houve diversidade de gênero, etnia e condições físicas, demonstrando a força e a pluralidade da nossa categoria.
Durante dois dias, foram realizados momentos de formação e debates que abordaram temas centrais da atualidade, tanto na educação quanto na sociedade. Analisamos a conjuntura nacional e internacional, marcada pela ofensiva do imperialismo norte-americano, que impõe sanções a Ministros do STF, tarifas abusivas e retaliações diplomáticas. Ameaças ao sistema financeiro, como ataques ao PIX, e tentativas de criminalizar o comércio popular, como o da Rua 25 de Março, são exemplos claros. Esse cenário se agrava com o bolsonarismo — ainda vivo —, representado em figuras como o governador de São Paulo, aliado da extrema direita, que impõe uma política de destruição da escola pública, assédio brutal às professoras, através da plataformização que retira a liberdade de cátedra, imposição de metas absurdas e uma avaliação de desempenho que busca punir e controlar.
As discussões foram ricas, num espaço político de reflexão, com um debate que evidenciou a relação estreita entre a extrema direita, as políticas do governo Tarcísio/Feder e a necessidade imediata de ampliação dos espaços de debate e mobilização.
A conclusão majoritária foi a de que o momento exige a mais ampla unidade possível para derrotar a extrema direita e reconstruir a capacidade de luta da classe trabalhadora. Enfrentamos uma conjuntura reacionária que se arrasta desde o golpe contra Dilma Rousseff, passando pela ascensão de Bolsonaro no Brasil, Trump nos EUA, e pela ofensiva genocida de Israel sobre o povo palestino, entre outras expressões da barbárie contemporânea.
Contribuímos ativamente com a organização do Plebiscito Popular pela Taxação dos Super-ricos e pelo fim da escala 6×1, em unidade com centrais sindicais, partidos progressistas, movimentos sociais e a juventude. Esta é uma frente essencial para disputar a consciência popular e fortalecer a luta por transformações estruturais.
A conferência também reservou espaço importante para o debate antirracista, com foco na construção da Marcha Nacional das Mulheres Negras, prevista para 25 de novembro. Realizamos duas mesas específicas sobre o tema — um acerto inédito, que deu o devido peso à luta contra o racismo.
No que diz respeito à educação paulista, tivemos a contribuição da co-deputada estadual Sirlene Maciel, da Bancada Feminista, que denunciou os impactos da política privatista do governador Tarcísio de Freitas e do secretário Feder. Essas políticas têm causado adoecimento e, infelizmente, até mortes entre profissionais da educação, devido à pressão, exploração e assédio moral.
Também discutimos a necessidade de o sindicato fortalecer sua atuação ecossocialista, indo além de pautas como a climatização das escolas. É preciso compreender que a crise ambiental está intrinsecamente ligada ao modelo capitalista de exploração predatória em nome do lucro.
É legítimo que existam divergências políticas no movimento sindical. Contudo, setores da ultraesquerda têm ultrapassado os limites do debate democrático, adotando métodos incompatíveis com a tradição da democracia operária. E não foi diferente nesta conferência.
Inspirados, infelizmente, em práticas do MBL, PSTU/Reviravolta/MRT promoveram provocações deliberadas, utilizando celulares para registrar cenas descontextualizadas e criando narrativas artificiais de vitimização. Criaram e postaram uma narrativa que rompe com a ética do movimento sindical e o respeito à luta das mulheres, tão importante neste momento. Fake News não têm lugar em nosso meio.
O modus operandi é recorrente: dois ou três militantes se aproximam com câmeras ligadas, provocam verbal e fisicamente, instigam reações e editam os registros para acusar agressões. Se há um companheiro branco ou homem na cena, exploram isso para sugerir racismo ou machismo, mesmo que essas acusações sejam infundadas. Tais ações têm ocorrido em congressos, assembleias, reuniões de base e nas subsedes, conselhos da entidade e agora também nas conferências de mulheres.
Se, em sua origem, esses grupos se propunham a mobilizar pacientemente os trabalhadores e transformar os sindicatos em escolas de luta de classes, hoje atuam como uma espécie de “quinta-coluna”, minando a credibilidade das entidades justamente quando mais precisamos de unidade e confiança nos instrumentos de luta da classe.
Não por acaso, esses setores enfrentam crescentes crises internas e isolamento político. Longe de cumprir seus objetivos estratégicos, enfraquecem o próprio espaço onde poderiam atuar com relevância.
A conferência poderia ter sido minada por esse tipo de atuação, mas, felizmente, as delegadas presentes não caíram na armadilha. Pois a necessidade da unificação na luta contra a extrema direita é evidente e não pode ser rompida pelo sectarismo e pela miopia política da extrema esquerda. Garantimos o encerramento dos trabalhos com entusiasmo das participantes e uma agenda concreta de lutas:
– seguir na mobilização contra a extrema direita,
– participar dos atos unificados,
– intensificar a luta nos locais de trabalho,
– fortalecer o plebiscito popular,
– construir a Marcha das Mulheres Negras
– e garantir a reeleição de Lula e trazer mais mulheres para o sindicato.
As mulheres organizadas pela Resistência Feminista e pelo Fórum das Oposições foram determinantes para qualificar os debates e propuseram a criação de um Coletivo Estadual de Mulheres, que apoie a Secretaria de Mulheres e assegure que as principais resoluções da conferência sejam debatidas em instâncias como a Secretaria de Educação, em reuniões específicas do tema e com as mulheres à frente.
Hoje, compomos a direção da APEOESP como uma força minoritária, eleita junto à Articulação Sindical. Isso nunca nos impediu de expressar nossas divergências sobre o governo federal e de defender a independência do sindicato diante de qualquer governo. Reconhecemos, contudo, que nestes 80 anos, a APEOESP tem tido papel político destacado na resistência aos diversos golpes reacionários que o país enfrentou — desde 1964, passando pelo golpe contra Dilma, até os dias atuais. Nós somos parte desta história.
Em setembro, realizaremos o XXVIII Congresso da APEOESP, onde certamente sairemos com uma plataforma de luta que enfrente o projeto de Tarcísio de Freitas e sirva como instrumento para a reconstrução da democracia e combate à extrema direita.
A ultraesquerda faria bem a si mesma em rever suas táticas. As práticas herdadas do MBL, além de ultrapassadas, só colaboram para seu próprio isolamento político. Só lamentamos.
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