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Popularidade de Lula, Tarifaço de Trump, inflação de alimentos e a luta de classes no Brasil
Publicado em: 24 de julho de 2025
Foto: @_scarlettrocha_/@uneoficial
O ano começou com a popularidade do governo em baixa e uma tensão social devido à inflação dos alimentos, com o dólar batendo a casa dos R$6,00 reais. Nesse final de primeiro semestre, a popularidade de Lula e a aprovação do governo começam a dar alguns sinais de melhora. A pauta da isenção de impostos para a camada da população mais pobre e a taxação dos super ricos, somado à queda da inflação dos alimentos, em especial no mês de junho, são elementos que jogam a favor. Mas agora a luta política ganhou um elemento novo, que é a interferência direta do governo dos EUA nos assuntos internos do Brasil em aliança com seus agentes que atuam no país liderados pela extrema direita bolsonarista. Vamos entrar no segundo semestre de 2025, a luta de classes promete se acirrar e a extrema direita com o apoio de Trump promete criar o caos no país para evitar a prisão de Bolsonaro entre outros objetivos geopolíticos. O ímpeto golpista segue vivo e os movimentos sociais têm o desafio de ganhar a opinião pública, para defender a soberania nacional e evitar que os inimigos da pátria consigam desestabilizar o país.
A queda da inflação dos alimentos será consistente?
O grupo de Alimentação e Bebidas apresentou uma variação negativa de -0,18% em junho de 2025. Essa deflação no segmento de alimentos foi um fator crucial para a contenção do índice geral, contribuindo com -0,04 ponto percentual (p.p.) para o IPCA do mês. A queda foi impulsionada, em grande parte, pela alimentação no domicílio, que recuou 0,43% em junho, revertendo a alta de 0,02% registrada em maio. Somado a esse dado, 78,5% das campanhas salariais de junho conquistaram aumentos reais, segundo o Dieese.
No mês de junho tivemos um alívio na inflação dos alimentos pelos seguintes motivos:
- Fatores climáticos e quebras de safras foram menores. O ano de 2025 está sendo de safras recordes até agora.
- O real se valorizou em relação ao dólar até agora. Levantamento da Austin Rating mostrou que o real foi a 8ª moeda que mais se valorizou em relação ao dólar no 1º semestre de 2025. A alta foi de 12,3% de janeiro a junho. A queda do valor do dólar é muito importante para o alívio dos preços no Brasil.
- As medidas do governo para conter a inflação, especialmente com a diminuição de alíquotas para importação de alguns alimentos e ampliação de estoques reguladores.
- A gripe aviária que apareceu no sul do país diminuiu as exportações e redirecionou a oferta de ovos para o mercado interno, diminuindo o valor da dúzia.
Além do tema da redução dos impostos, taxação dos super ricos e da disputa política contra Trump em torno das tarifas, o alívio no preço dos alimentos é um dos fatores mais importantes para o início de uma relativa recuperação da popularidade de Lula e do seu governo.
Esse relativo alívio não está garantido para o segundo semestre, embora tenha chances de ter continuidade.
Quais os fatores podem influenciar negativamente ou positivamente no preço dos alimentos?
- As tarifas de Trump sobre produtos brasileiros é a novidade que pode mudar tudo. Caso for um fator real, pode gerar aumento da oferta para o mercado interno, diminuindo o valor desses alimentos que envolve, carne, café e frutas. Mas, o valor do dólar tende a aumentar pela fuga de investimentos do Brasil causado pelas tarifas. Difícil saber qual elemento vai prevalecer, como é ainda muito difícil saber se Trump vai negociar, adiar, recuar ou intensificar as tarifas. Vamos saber melhor sobre isso no mês de agosto, se Trump adiar as tarifas para negociar, o que tem boas chances de acontecer, o dólar pode permanecer estável em relação ao real pelo menos nos próximos meses, o que vai ajudar num relativo alívio da inflação dos alimentos.
- A guerra tarifária em âmbito global, não só contra o Brasil, também vai ser um fator que indicará o valor do dólar, fator que vamos ter uma noção também após o dia 1º de agosto.
- A energia elétrica vai ficar mais barata em agosto, devido ao bônus de Itaipu, gerando alívio para os custos de produção e para as famílias mais pobres que terão uma margem maior para gastos com alimentação.
- Por enquanto tudo indica que a crise climática em 2025 será uma influência menos negativa que nos anos de 2023 e 2024. Até agora tem sido assim, mas só teremos certeza absoluta sobre essa variante nos meses de novembro e dezembro, embora todas as tendências e dados dos institutos de pesquisa indiquem que o fator clima vai influenciar menos negativamente esse ano na quebra de safras.
As luta contra o Trump e os traidores da pátria
Quanto mais pressão e influência conseguirmos ter na disputa da opinião pública tanto no Brasil como em outros países, especialmente nos EUA, para que mais pessoas reconheçam que a extrema direita está prejudicando a vida do povo, mais teremos condições de mitigá-la e fazer Trump recuar com as tarifas e menos condições o bolsonarismo terá de causar instabilidade no país no segundo semestre com mobilizações de caminhoneiros e do agro, como eles já estão anunciando.
>> Leia também: Trump e Bolsonaro atacam o Brasil
A batalha política nesse primeiro semestre de 2025 terminou um pouco melhor para o governo Lula e para as forças progressistas, mas o segundo semestre será um desafio, pois a ação do bolsonarismo em aliança com Trump, pode colocar tudo a perder, interromper o alívio inflacionário e causar uma agitação política que pode desestabilizar o governo às vésperas de 2026. Cresce cada vez mais a importância do plebiscito popular como instrumento de diálogo com as massas, assim como está colocado à prova a capacidade dos movimentos sociais de conseguir ascender a chama do sentimento de orgulho nacional mobilizando milhões para defender os interesses do Brasil contra essa gravíssima ofensiva de Trump.
Não se trata de uma tarefa impossível, já temos o exemplo de países que sofreram uma forte ofensiva de Trump, e o tiro acabou saindo pela culatra. A opinião pública no Canadá, México e Austrália se virou contra o governo dos EUA e o sentimento de unidade nacional falou mais alto. Não quer dizer que automaticamente será assim no Brasil. Tudo isso vai depender dos desdobramentos da luta de classes, da habilidade e coragem do governo Lula em não capitular ou errar a mão nesse enfrentamento. Como também da compreensão da esquerda brasileira em atuar em frente única para combater a fúria de um império que luta para não perder sua hegemonia.
Gibran Jordão é historiador e TAE-UFRJ
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