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O futuro do Brasil no centro do debate


Publicado em: 24 de julho de 2025

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Gabriel Santos

Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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“Ventos do norte não movem moinhos”
Secos & Molhados

A história caminha a seu ritmo próprio. Acontecem horas de passos lentos, até a momentos em que avança, enquanto em outros atrasa, para novamente prosseguir. Seu ritmo não é linear.

No Brasil, país de capitalismo desigual e dependente, o desenrolar da história costuma ser mais lento que a nossa necessidade enquanto nação. Porém, existem tempos específicos que a história acelera, dá saltos, e nós estamos vivendo uma dessas horas nas últimas semanas. São momentos decisivos, que de sua resolução se desdobram uma série de consequências.

Neles o peso da ação do sujeito é decisivo. Erros e acertos pesam toneladas. A ação individual e coletiva tem resultado e podem ter consequências. São tempos em que a luta de classes aparece de forma mais aberta, menos velada. Se torna o centro do debate.

Trazer o Estado para o centro da disputa

Hoje, nosso país está diante de um ataque estrangeiro, a luta de classes aparece diante dos olhos de todos com a fórmula: soberania nacional contra submissão ao imperialismo decadente.

Se alguns teóricos europeus no auge de seu eurocentrismo afirmavam na virada do século a perda de importância histórica do Estado nacional, podendo o mesmo ser superado, hoje estamos vendo o inverso. O crescimento de conflitos bélicos, blocos econômicos, debates sobre protecionismo, investimento estatal dão a tônica das discussões internacionais.

Em nosso país chegou a hora de aprendermos a lição. O Estado deve ser o centro, e a Nação o guia. É pelo Estado nacional que podemos buscar uma soberania dos povos, integração internacional e enfrentar as tentativas de neocolonização.

Não é um nacionalismo por si só, uma defesa do Brasil por sermos pentacampeão mundial de futebol masculino, terra de Jorge Ben (por mais que isso já seja motivo de comemoração). Mas aqui, falamos sobre a necessidade da construção de um projeto nacional-popular, democrático, que promova a inclusão social, combata o subdesenvolvimento, busque a soberania, coloque desenvolvimento aliado a transição energética e reorganize as estruturas sociais do país.

O campo popular no protagonismo da reconstrução da Frente Ampla

O momento de enfrentamento que vivemos pode gerar uma nova consciência nacional, e devemos batalhar por ela. Essa consciência nacional, é ainda vaga, mas pode se materializar em programas e ações, e que conforme uma nova aliança política em torno do campo democrático-popular, liderado pelo Presidente Lula e que permita uma vitória eleitoral que derrote a extrema as extremas direitas nas urnas em 2026, e auxilie na construção de uma nova maioria social.

Aqui falamos em nova aliança política por dois fatores, porque acreditamos que ela precisa ser superior à do processo feito em 2022, e precisa ser alicerçada em uma estratégia que permita a transformação estrutural do país.

A Frente Ampla organizada em 2022 tinha como eixo a defesa do regime político erguido na Nova República para derrotar o bolsonarismo. Essa Frente, tinha porém divergências estratégicas sobre a contradição principal da Constituição de 1988: o processo de financiamento dos gastos sociais que permitiu a inclusão como cidadãos de uma imensa parcela da população por meio de direitos sociais, políticas públicas focalizadas, e aumento de renda.

Com o enfraquecimento de Bolsonaro, cada vez mais as contradições internas da Frente Ampla, até então secundárias, assumiam centralidade, impedindo uma governabilidade no Congresso, gerando ou uma debandada de então aliados táticos, com o risco do governo ceder por completo deixando de disputar pautas importantes e necessárias, fortalecimento assim uma candidatura de oposição ao governo federal, que poderia ser encabeçada por Tarcísio Freitas.

Os ataques de Trump ao país as forças de esquerda e do campo democrático-popular podem buscar reagrupar uma Frente Ampla. Porém, está frente deve ter como alicerce a soberania nacional, o papel do Brasil do mundo, e um projeto para nossa Nação, buscando ter as políticas necessárias para um desenvolvimento econômico nacional, superando tanto a extrema direita, quanto as mentiras em torno da necessidade de um Estado mínimo.

Para isso, as ações e giro tático de Lula e do governo, diante tanto do sequestro do Congresso, quanto do ataque de Donald Trump, precisam se transformar num giro estratégico.

Cabe às forças de esquerda fazer esse rearmamento programático e estratégico, e liderar a construção desse bloco nacional e popular. Sem isso, colocando para outros essa tarefa de liderar a Frente, e se negando a disputar os rumos políticos desse processo, a esquerda brasileira perderá protagonismo e o Brasil perderá uma chance histórica.

Isso não significa que o governo deve sempre caminhar à esquerda, indefinitivamente, ou buscar a todo momento o confronto. Mas sim que a luta de classes precisa ser o polo mobilizador tanto concreto quanto simbólico da política.

Trazer a imaginação para o centro da política

A campanha surgida nas redes sociais contra os ataques do Congresso foi um elemento de polarização política, que se aprofundou após o ato de Trump. Se tornou o congresso contra o povo, nós contra eles, ricos contra os pobres. Essa linha permitiu ao governo explicar o que estava sendo disputado, e ganhar maioria social nas pautas, retomando um crescimento na popularidade.

O Presidente Lula e o governo mostraram ter alma. Mostraram capacidade de ir além da já cansativa discussões técnicas e institucionais. O governo conseguiu falar com o povo, alcançar o velho clichê: atingiu as mentes e corações das pessoas. Abandonou a extrema racionalidade do cálculo e planilhas de Excel, e teve coragem, desejo e paixão para transformar o tema da taxação e da derrota no congresso em temas populares, em temas do cotidiano, mas principalmente em temas da luta de classes.

O caminho para vencer a batalha em 2026 e a guerra contra a extrema direita passa por essa mobilização de imaginários. Impulsionar a capacidade criativa para pensarmos um outro Brasil, um país que pode vir a ser. Sem isso, não existe confronto, não há mobilização social, não é possível engajamento virtual nem povo na rua. Mais do que um resgate sobre o que foram os governos Lula no início do século, para combater a extrema direita e seu impulso destrutivo, é preciso pensar, propor e buscar construir um país novo.

A elaboração de um projeto de soberania nacional para o tempo de guerras e transformação que vivemos precisa ser novo, superar os vícios e erros do desenvolvimentismo e não pode ser construído apartado de uma mobilização. Seja mobilização popular, de construção a partir da base, locais de moradia e de trabalho, junção de forças, disputa ideológica, e buscar uma nova maioria social. Ou a partir de uma mobilização de imaginários, no campo do sensível, do afeto, da linguagem. Onde o chamado pelo novo Brasil seja o elo de ligação entre estratégia e ação.

O enfraquecimento da hegemonia dos Estados Unidos, a decadência do Mundo Ocidental, e a ascensão do Sul Global, com a liderança da China governada pelos comunistas do país, criam uma possibilidade para a construção de projetos de desenvolvimento autônomos e independentes.

Temos a oportunidade rara de construir uma nova relação de nosso país com o mundo, e isso passa por nosso lugar no Sul Global. O pecado inicial da dependência pode ser superado, mas para isso precisamos enfrentar nossos fantasmas internos. O Estado brasileiro precisa ser repactuado e colocado no centro do processo produtivo. Construindo um novo modelo de desenvolvimento, superando a extração de commodities como elemento único da economia, apostando na construção de uma sociedade mais igualitária que supere suas mazelas existenciais.

Construir um Brasil do tamanho do povo brasileiro, deve ser o norte de nosso pensamento.


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