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Trump ataca o Brasil e a culpa é de Bolsonaro


Publicado em: 10 de julho de 2025

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Gabriel Santos

Gabriel Santos

Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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“Com tiranos não combinamos brasileiros, brasileiros corações” – Hino ao 2 de Julho

Na tarde de quarta-feira, 09 de Julho, o presidente estadunidense Donald Trump anunciou novas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros que passam a valer a partir de 1° de agosto.

Desde o fim da cúpula dos BRICS+ ocorrida no último fim de semana os Estados Unidos têm elevado o tom contra os países membros do grupo, e em especial contra o Brasil. Numa tentativa de demonstrar forças e controle sobre qualquer um e qualquer coisa que ameace seu poder sobre o mundo.

Em sua carta, Trump levanta dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro e ataca o STF, por conta das discussões sobre regulamentação das redes sociais.

Mais uma mentira de Trump!

A essas justificativas políticas, Trump acrescentou motivos econômicos. Onde afirma que a relação econômica entre EUA e o Brasil tem sido prejudicial aos Estados Unidos. 

Porém, qualquer comentário minimamente sério sobre isso observa que a alegação de Trump, como de costume, é falsa. Os números oficiais divulgados por ambos países mostram que nos últimos 16 anos, o Brasil tem apresentado déficit anuais em seu comércio com Washington.

Nesse período, as vendas americanas ao Brasil superaram suas importações em 89 bilhões de dólares. Ano passado o déficit brasileiro foi de 253 milhões de dólares. Ou seja, o comércio com os Estados Unidos, um de nossos principais parceiros econômicos, é muito mais favorável na balança comercial aos estadunidenses do que ao Brasil.

O que está por trás dos ataques de Trump?

A resposta dessa pergunta é simples, os próprios interesses estadunidenses. Como disse o Presidente Lula, eles pensam “em Estados Unidos em primeiro lugar, em segundo e em terceiro”.

Os Estados Unidos, desde a Segunda Guerra, organizaram o sistema mundo a seu benefício. Com o fim da União Soviética ocuparam o posto de potência unipolar, governavam sozinhos sob o planeta, colocando o Sul global submetidos à sua vontade, assim como seus aliados imperialistas. Hoje, essa era parece chegar ao fim.

O Império desmorona, a decadência relativa estadunidense se acelera, e a hegemonia é ameaçada. Economicamente o país perdeu terreno, foi ultrapassado no campo da produção e das relações comerciais pela China. No campo militar, perdeu a guerra por procuração na Ucrânia e viu seu poder de iniciar conflitos internacionais desabar com a ação militar russa. A hegemonia do dólar, pilar central do controle estadunidense, é criticada, cada vez mais países procuram e discutem alternativas financeiras para construir soberania e desenvolvimento.

Trump inimigo do Brasil

Nesse sentido, Trump viu as movimentações e declarações feitas durante o encontro dos BRICS+ como uma ameaça e parte do processo de tentativa de escapar dos tentáculos estadunidenses.

Foi nesse encontro que o governo brasileiro fez as declarações mais contundentes contra a hegemonia estadunidense e na defesa de um mundo multipolar. É possível vermos desde a viagem de Lula à Rússia, no Dia da Vitória, uma modificação em sua postura no debate internacional. Se nos primeiros anos de seu governo as discussões sobre conselho de segurança da ONU, G20, e a relação com o Partido Democrata eram o foco de atenção, agora o BRICS+ parece assumir um outro posto de centralidade nas relações internacionais de nosso país. Cabe observar se isso se manterá e se aprofundará ou foi uma ação mais episódica.

Trump sabe que depois de China e Rússia, o Brasil é o principal país do BRICS+. Uma outra postura brasileira na construção do bloco, mais propositiva, e um afastamento dos interesses de Washington, é mais um forte golpe aos EUA. Sabe também que não tem força para fazer as mesmas ameaças e medidas que faz ao Brasil, que desde o século XX vive sob tutela estadunidense, contra Rússia e China. Então para desestabilizar os BRICS+ e impedir as dinâmicas de integração na América do Sul, o Brasil é alvo central.

Os acordos com a China para a construção de uma ferrovia que cruza o nosso subcontinente até o Peru, faz parte da dinâmica de acumulação de capital que se move geograficamente para o Pacífico e Sudeste Asiático, abandonando o Atlântico e o mundo anglo-saxão. A isso se soma o desejo de Lula de regulamentar big techs e construção de cabos marítimos subterrâneos para soberania digital, e a discussão de um sistema de pagamento alternativo ao SWIFT.

Não é coincidência que as declarações de Trump sobre Bolsonaro e em seguida o anúncio de novas taxas no comércio com o Brasil venha após o encontro dos BRICS+. Elas mostram que o imperialismo em decadência, na luta para manter seu posto, fará de tudo. 

Trump busca chantagear o governo e o povo brasileiro, por meio do medo, e da guerra comercial, tenta fazer com que Lula recue e se curve diante de suas vontades e interesses. O que está em jogo é a soberania do Brasil.

O imperialismo em crise mostra cada vez mais sua cara. Violento, arcaico, soberbo e um atraso para a construção de um mundo mais justo e solidário.

O papel de Bolsonaro e da extrema direita

Políticos de extrema direita irão saudar e comemorar a ação de Trump. Tarcisio de Freitas, Zema, Nicolas Ferreira, entre outros, anunciarão como positiva a iniciativa. Uma defesa da liberdade, muito provavelmente será o que afirmarão.

O que não dizem é que essa medida não atingirá apenas o governo, mas sim todo o país. Toda cadeia produtiva brasileira, do empresariado ao trabalhador. Todos irão sofrer, em especial o povo pobre. 

O bolsonarismo e a extrema direita querem que todo povo sofra em nome de seu desejo de livrar Bolsonaro da prisão. O caráter antinacional da extrema direita está cada vez mais à mostra e precisa ser explorado pelas forças de esquerda. Ou se está ao lado do Brasil ou ao lado de Bolsonaro.

Eduardo Bolsonaro e todos os outros que se curvam, são cúmplices de um ataque ao país, são inimigos da Pátria e devem assim serem vistos. Guerras comerciais são táticas de guerra não convencionais e serão cada vez mais usadas. 

As declarações de Trump a favor do golpismo no Brasil mostram a rede de relações internacionais que a extrema direita estabelece, e deixa claro o tamanho da batalha que teremos em 2026. A era das eleições nacionais acabou e, com as big techs, teremos cada vez mais interferência abertas do estrangeiro em nosso país. Ataques econômicos, declarações, interferência por meio das redes sociais, tudo isso começaremos a enfrentar desde já.

Está nítido também que o retorno do fascismo em nosso tempo, o surgimento e avanço da extrema direita, é a última alternativa do Ocidente para a manutenção de seu poder e controle econômico sob o mundo. No Brasil, a extrema direita também cumpre esse papel, de buscar colocar o país alinhado aos interesses do imperialismo e impedir o desenvolvimento de uma alternativa de integração com os povos do Sul Global.

O Brasil, em luta pelo futuro

O Ocidente não tem nada para oferecer. Se antes suas promessas de fraternidade, igualdade e liberdade, eram vazias, hoje nem mesmo isso. Só se apresenta com a encarnação da violência, da submissão completa, do desastre ambiental e da morte. O passado é o único caminho que colocam, um passado similar a época do todos contra todos, olho por olho, dente por dente. O saque, à guerra, à pilhagem, a revanche colonial.

Querem colocar o Brasil naquilo que afirmam ser sua vocação eterna, a de uma fazenda do mundo. Podemos buscar um outro futuro, soberano, verdadeiramente independente, e com um desenvolvimento que alcance o povo e caminhe ao lado do respeito ao planeta e a transição energética.

O que está colocado é o tipo de mundo que veremos e o papel do Brasil nele. Se nesse mundo que se desenha a barbárie irá dominar, e o contrato colonial será renovado ou se veremos a construção de um projeto que tenha como base a soberania dos povos e uma outra relação com a natureza.

Será preciso confrontar Trump. Dizer não. Estufar o peito e ter coragem diante do gigante imperialista. Será preciso não se curvar. Assim como, se faz necessário confrontar os inimigos internos, nosssa burguesia, que sequestra o Estado e o transforma em um balcão de negócios. Será preciso um outro projeto econômico, que distribua a renda, coloque o Estado no centro do desenvolvimento e elabore uma política de vida. Algo possível apenas se avançarmos para construção de maior força social.

Se Trump, e a extrema direita, acham que podem causar medo, pânico e chantagear ao povo brasileiro, estão enganados. Nessa terra se ergueu a República de Palmares, e como afirmou o Grupo Netos de Zumbi na carta em fundação ao Movimento Negro Unificado, “vovô ficaria triste se nos entregassemos sem lutar”.

Coube a ironia do destino que justamente uma semana depois do 2 de Julho, Trump resolvesse atacar nossa soberania nacional. O presidente estadunidense não deve saber nossa história, mas nós sabemos, e a recordaremos. Será com a benção de Maria Quitéria e de Maria Felipa que o povo brasileiro vencerá mais um tirano.

Que nossos olhos deixem de observar somente o Norte Global mas busquem encarrar o Mundo em sua diversidade.

Pátria Livre, venceremos!!


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