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Fracasso da Frente Ampla abre oportunidade para Lula


Publicado em: 9 de julho de 2025

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Gabriel Casoni, da Coordenação Nacional da Resistência-PSOL

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Foto: Ricardo Stuckert

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Na política, às vezes, a soma subtrai. A aliança enfraquece. A ampliação isola. É contra-intuitivo. Parece até um paradoxo. Mas é a realidade por trás das aparências. O centrão ocupa inúmeros ministérios e cargos no governo federal. Porém, sua atuação no Congresso é cada vez mais de aberta oposição a Lula. A humilhante derrubada dos vetos e do decreto presidenciais foi o momento emblemático no qual a direita afirmou sua unidade com o bolsonarismo, visando às eleições de 2026. Essa é a “frente ampla” que está em gestação.

Acuado, Lula partiu — pela primeira vez — para a contra-ofensiva. Após longa paralisia, minado por uma governabilidade que o sabota, por acordos que conspiram contra o programa que o elegeu, colocou a política na linha de frente, fazendo a disputa do povo de forma simples e popular. Quem deve pagar a conta: os bilionários ou os trabalhadores? De que lado está o Congresso: do povo ou dos super-ricos? 

A esquerda assumiu a liderança nas redes sociais, pautando o debate público com propostas concretas e uma linguagem anti-sistema. O centrão e o bolsonarismo sentiram o impacto e a grande mídia ficou assustada, pedindo o fim da polarização do “nós contra eles” . As pesquisas internas do governo já indicam efeito positivo na popularidade de Lula. O colapso da frente ampla parlamentar, curiosamente, abriu caminho para o governo sair das “cordas” e lutar pela vitória em 2026. É preciso aproveitar a janela que se abriu. 

Armadilha estratégica

Lula venceu em 2022 com alianças além da esquerda. No primeiro turno, essa ampliação ficou basicamente restrita à adesão de Alckmin (PSB). A rigor, a ala liberal da burguesia, que estava na oposição a Bolsonaro, deu suporte às candidaturas da chamada “terceira via”, notadamente a de Simone Tebet. Apenas no 2o turno, num movimento tático, essa fração minoritária da classe dominante apoiou Lula contra Bolsonaro, como o mal menor. A massa da burguesia, por sua vez, foi do início ao fim com a extrema direita. 

Leia também: Carta nº 3 sobre a conjuntura: não é hora de um balanço sobre a frente ampla?

No momento de máximo risco, o petista foi a salvaguarda política do regime democrático ameaçado pelo golpismo fascista. Mas os capitalistas liberais deixaram explícito que essa aliança com Lula era circunstancial, algo pontual, sem bases programáticas, sem projeto comum de país. A Globo, Armínio Fraga, o Itaú, entre outros expoentes desse setor, sempre defenderam as contra-reformas de Temer e Bolsonaro. O desmonte dos direitos trabalhistas e da aposentadoria. A independência do Banco Central do governo. As privatizações do patrimônio público. A austeridade neoliberal com o Teto de Gastos. A brutalidade racista das polícias nas periferias e favelas. A acelerada destruição ambiental promovida pelo agro. Enfim, o problema para esse segmento da burguesia nunca foi o plano econômico de Paulo Guedes ou as terríveis condições de vida do povo trabalhador durante o governo Bolsonaro. A divergência com o fascismo estava concentrada na preservação do regime democrático-liberal contra a tentativa de golpe de Estado. 

Tendo emprestado taticamente seu apoio a Lula no 2o turno, a burguesia liberal tratou de amarrar o governo a limites estritos. Não admite a revogação das reformas trabalhista e a da previdência.  É fanática pela independência do Banco Central, ou melhor, pelo controle do BC pela Faria Lima. Pressiona permanentemente por mais austeridade fiscal, com cortes nas áreas e programas sociais, congelamento do salário mínimo, fim do piso constitucional para educação e saúde. Não aceita o fim da escala 6×1, e tampouco uma reforma tributária da renda que afete estruturalmente os privilégios dos mais ricos. Sequer tolera qualquer redução substantiva no escandaloso patamar de isenção fiscal para o grande empresariado. E nem pode ouvir falar de reforma agrária para garantir alimentos baratos e saudáveis para o povo. 

Ou seja, o programa da ala liberal da burguesia, que se aliou a Lula no 2o turno das eleições de 2022, é oposto ao programa popular que embalou a vitória do líder petista. No Congresso, os partidos do centrão representam diretamente os interesses da classe dominante e lobbies empresariais. Atualmente, a burguesia e a direita trabalham pela candidatura de Tarcísio de Freitas contra Lula, incluindo o setor liberal. É evidente que a frente ampla no governo representa uma armadilha estratégica que organiza a derrota para o bolsonarismo em 2026. 

O giro à esquerda de Lula abre caminho

Na luta contra o fascismo, a esquerda deve ter a inteligência tática de utilizar alianças pontuais com setores dissidentes da burguesia para barrar avanços da extrema direita. Essa possibilidade tática é também válida no terreno eleitoral, sempre que o fascismo ameace tomar o poder central. 

O perigo, porém, está na conversão de um recurso tático circunstancial numa estratégia e programa para o período. Pois, nessa chave, a frente ampla inevitavelmente engole a esquerda, atuando com uma poderosa barreira de contenção da transformação social, da luta política e ideológica, da mobilização de massas. E, assim, prepara terreno para o retorno da extrema direita ao poder. 

O recente giro à esquerda de Lula demonstra cabalmente essa conclusão. O melhor momento do governo ocorre justamente quando ele se desvencilha das amarras da frente ampla, mobilizando sua base social para luta política e ideológica em torno de um programa popular que confronta a grande burguesia. Nesse momento, a classe dominante pressiona por um acordo entre o governo e o centrão, exigindo que Lula recue da batalha política e ideológica. Apenas a escolha pela manutenção e intensificação da giro à esquerda poderá conduzir o governo a vitórias. A guinada tática precisa se converter em orientação estratégica. 

Para tanto, é decisivo a atuação da frente única de esquerda, de uma frente insurgente que levante as bandeiras do povo trabalhador e oprimido, que faça a luta política e ideológica, que aposte na mobilização social contra o fascismo e o andar de cima, que encante o nosso povo com um programa de transformação. Na atual conjuntura, a inciativa do Plebiscito Popular, organizado por um amplo conjunto de movimentos sociais e de organizações de esquerda, é o instrumento privilegiado para a batalha central em curso.


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