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A esquerda precisa enxergar as comunidades de terreiro


Publicado em: 8 de julho de 2025

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Alan Geraldo e Lilian Santos, de Suzano-SP

Esquerda Online

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Agência Brasil

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Um dos consensos de todas as correntes da esquerda, é que é preciso alcançar a consciência coletiva da classe trabalhadora. É preciso abrir caminhos para que a classe trabalhadora não militante possa se conectar e compreender as lutas e pautas que realmente lhes representa.

Perante essa demanda, a esquerda precisa olhar para as comunidades de terreiro de todo o país. Recentemente o IBGE, através do Censo de 2022, coloca no mapa das estatísticas, as comunidades de terreiro e o povo “do santo”, em um percentual, aparentemente pequeno, mas que antes era invisível. As pessoas declaradamente de terreiro somam quase 2 milhões. É muita gente sem a devida representatividade política.

Essas comunidades de terreiro são o principal alvo da estratégia neofascista da bancada neopentecostal e seus tentáculos. O povo da macumba é o monstro fictício que causa os males dos cristãos de bem, em um senso comum defendido e reproduzido em púlpitos e altares ditos cristãos pelo país afora.

Contudo, todo e qualquer comunidade de terreiro, é um núcleo social de acolhimento. Uma comunidade de terreiro promove e preserva culturas, educa crianças e jovens, acolhe e auxilia pessoas em situação de vulnerabilidade, proporciona vivência comunitária e social para pessoas excluídas, negligenciadas ou abandonadas de suas famílias tradicionais biológicas. O papel político, social e cultural das comunidades de terreiro precisa ser reconhecido pelos movimentos de esquerda e pela militância, para que esses espaços sejam conectados às causas políticas, às pautas legislativas e às instituições de direito.

Comunidades de terreiro somam quase 2 milhões de pessoas desagregadas, dispersas e ocupadas com suas vidas privadas, sobrevivendo e trabalhando nas periferias. Resistindo cotidianamente às intolerâncias e às dificuldades da vida do trabalhador periférico.

Essas comunidades de terreiro também são o espaço da mais evidente interseccionalidade notória entre as minorias. Comunidades de terreiro são historicamente um espaço de acolhimento e protagonismo de pessoas LGBT, mulheres, pessoas pretas e pardas. Comunidades de terreiro são um tipo de contexto social onde trabalhadores comuns são reverenciados como lideranças sagradas, descendentes e representantes de reis, rainhas, divindades. Não há lugar social em que a estética, as mentalidades, as linguagens e os comportamentos são tão descolonizados e resilientes à sociedade burguesa liberal cristã, do que um terreiro. Ainda assim, terreiros também estão sendo coptados e influenciados pela direita e suas pautas morais. Por mais contraditório que possa parecer, muitas pessoas de terreiro se autodeclaram de direita, votam na direita, inclusive em lideranças evangélicas. Isso pois, são as pessoas e organizações que se aproximam com seus clientelismos nefastos, das comunidades periféricas onde habitam a maioria dos terreiros.

Que a esquerda olhe para os terreiros, se aproxime dos terreiros, leve as pautas e ouça as demandas das pessoas de terreiro!

Talvez esse seja um dos contextos mais propícios para que a política de esquerda, o pensamento revolucionário socialista, e as pautas do povo trabalhador possam se expandir nas comunidades periféricas.

Alan Geraldo é professor, candomblecista e militante da Resistência-PSOL
Lilian Santos é educadora e faz parte da direção do PSOL/Suzano-SP


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