mundo

Ilan Pappé, historiador israelense, associa escalada de Netanyahu a caso em Haia


Publicado em: 19 de junho de 2025

Mundo

Ilan Pappé

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Mundo

Ilan Pappé

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Professor Ilan Pappe na conferência do MEMO e do Fórum EuroPal “A Questão Palestina na Europa”, em 23 de novembro de 2019 [Monitor do Oriente Médio]

Ouça agora a Notícia:

O autor e historiador israelense Ilan Pappé reiterou, em conversa com a rede Anadolu, que as políticas agressivas do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, seguem associadas a seu caso em curso no Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, ao apontar que o premiê almeja atrasar o julgamento por meio da escalada.

Pappé insistiu que Netanyahu deseja desviar a atenção do processo, à medida que este chega a um momento crítico.

“Ele está interessado em não atrair qualquer atenção a seu próprio julgamento, ao fato de que está em um momento sensível, no qual será questionado pela promotoria. Usa, portanto, a desculpa de Gaza e do conflito com o Irã para pedir adiamento por até dois ou três anos, ao sugerir uma guerra extensa”, explicou o acadêmico.

“Trata-se, portanto, de uma motivação absolutamente pessoal”, acrescentou.

Pappé advertiu que os parceiros de extrema-direita de Netanyahu, sobretudo sionistas messiânicos, são motivados por uma visão ideológica de expandir seu controle colonial para além das atuais fronteiras do regime israelense.

>> Leia também: O Estado de Israel é uma ameaça para a paz mundial

“Os aliados [de Netanyahu] são sionistas messiânicos que creem que há uma janela de oportunidade para usar a força e mudar por completo a realidade, ao criar a chamada Grande Israel não apenas em Gaza e na Cisjordânia, como mesmo além”, argumentou. “Sonham com o que acham que leram no Velho Testamento, de um grandioso reino de Israel de que todos tinham medo em toda a região”.

Pappé notou que, embora a postura dos Estados Unidos permaneça inalterada, alguns dos líderes europeus esboçaram apelos sem precedentes por restrições e sanções, ao menos parciais, sobre Israel. Contudo, reivindicou ações concretas.

Decisões vinculativas da União Europeia, explicou, no entanto, requerem unanimidade, ainda impossibilitada por aliados contumazes do regime da ocupação, como Alemanha, República Tcheca e Hungria.

Ao discutir o silêncio e a cumplicidade europeia, Pappé reiterou distorções da memória do Holocausto.

O professor nascido em Haifa criticou também a atual liderança europeia: “Parece que lidamos hoje com uma nova geração de políticos, bastante autocentrados, sem fibra, sem visão. Estão preocupados em se reeleger. Enquanto pensarem que apoiar Israel é bom para angariar votos, continuarão a apoiar Israel. Se pensarem que não é tão bom assim, podemos ver uma mudança de postura”.

Sobre alegações de antissemitismo, Pappé expôs a falácia: “Sem dúvida há antissemitas no mundo, pessoas que odeiam os judeus porque são judeus. Mas Israel gosta de dizer que todo mundo que é contra o sionismo ou que critica suas violações é antissemita. E isso simplesmente não é verdade”.

“Penso que há mais e mais pessoas indignadas com o que Israel está fazendo”, indicou. “Algumas delas não conseguem segurar sua indignação e podem acabar fazendo coisas que não deveriam. Mas a grande maioria delas faz a coisa certa: se junta aos protestos, ao movimento de solidariedade. Muitas das pessoas que hoje apoiam os palestinos são judias. Portanto, não há sentido em chamá-las de antissemitas”.

 

Voir cette publication sur Instagram

 

Une publication partagée par Esquerda Online (@esquerdaonline)


“Muitas das vozes que se opõem ao genocídio nos Estados Unidos são cidadãos judeus e penso, portanto, que a ideia de que o antissemitismo está crescendo é, neste sentido, fruto da propaganda israelense”, apontou Pappé. “O anti-israelismo — se assim quiser chamar — está sim crescendo. Mas é por uma boa razão”.

Pappé é um dos principais nomes da chamada nova historiografia israelense e autor de diversos livros sobre a questão palestina e os planos coloniais que incorreram na Nakba de 1948 — ou a “catástrofe”, com a violenta criação do Estado de Israel.Entre seus livros publicados em português estão Dez mitos sobre Israel, publicado pela editora Tabla, e A limpeza étnica da Palestina, da editora Sundermann.

Original em Monitor do Oriente Médio


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição