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Disputa inter-imperialista nas eleições polacas


Publicado em: 25 de maio de 2025

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Bruno, da Polônia

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Rafał Trzaskowski (Polônia) e Nicusor Dan (Romênia). Reprodução/Redes sociais

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No dia 18 de maio de 2025 ocorram eleições presidenciais na Polônia e na Romênia. Ambos países do leste europeu, tendo sido países socialistas, também contam com fronteiras com a Ucrânia. Para entendê-las é importante entender um aspecto da disputa interimperialista da atualidade. Neste terreno buscam disputar influências imperialistas três imperialismos distintos: A União Europeia, os EUA e a Rússia. Estes imperialismos tanto exercem disputas como alianças pontuais entre si. De modo que em cada uma destas eleições existem exemplos desta disputa.

A Rússia tem exercido influência em vários governos europeus de extrema-direita. Um exemplo é Victor Orban, na Hungria, um governos de extrema direita, com traços bonapartistas.

A derrota histórica da restauração capitalista é profundamente sentida no leste europeu. Havendo um profundo retrocesso ideológico. Onde o comunismo é associado a tudo de ruim. Pois para estes povos a bandeira do comunismo foi usada com manto para encobrir mais uma invasão russa, como tantas ao longo de séculos. O nefasto papel de Stalin e seu pacto com Hitler para dividir a Polônia permitiu a criação do Gueto de Varsóvia.

Eleições na Polônia

Nas eleições presidenciais da Polônia, no primeiro turno, Rafał Trzaskowski, do Platforma Obywatelska (Plataforma Cívica), prefeito de Varsóvia, foi o mais bem votado com  31,36% dos votos. Disputará o segundo turno, no dia 1º de junho contra Karol Nawrocki do Prawo i Sprawiedliwość – PiS (Lei e Justiça), que obteve 29,54% dos votos.

A criação do Estado Polonês remete ao ano de 1025, tendo sido comemorados os Mil Anos da coroação do primeiro rei.

A Polônia tem um regime parlamentarista, bicameral. O seu parlamento, chamado de Sejm, que em uma língua polaca antiga significa “reunião”. Em 2023 foi eleito o primeiro-ministro Donald Tusk, do Plataforma Cívica. Com um governos de coalizão (frente ampla), composto por:

Plataforma Cívica, um partido de centro-direita, liberal burguês, pró-União Européia.

Terceira Via, um partido liberal, que lembra muito o “Novo”. Sendo um partido minoritário.

A Esquerda (Lewica), sendo uma frente de vários partidos do espectro da esquerda, mas que conformam o mesmo bloco parlamentar.

O  atual presidente é Andrzej Duda do PiS – Lei e Justiça, que teve também o primeiro-ministro e governou a Polônia de 2015 até 2023. Desde 2023 a Polônia tem vivido uma situação dúbia com um primeiro-ministro de um partido e o presidente de outro.

O PiS é um partido reacionário. Durante seu governo chegaram a existir áreas consideradas “Livres de Ideologia LGBT”. O partido é comandado por  Jarosław Kaczyński. Enquanto o Plataforma Cívica é pró-União Europeia, o PiS defende o alinhamento total aos EUA. Quando Trump foi eleito parlamentares do PiS colocaram o boné do MAGA e gritaram clamando por Trump dentro do parlamento polonês. O PiS fez manobras de modo que passou a ter o controle da Suprema Corte da Polônia. O Tribunal da União Europeia chegou a condenar tais manobras.

A Polônia não é um centro do imperialismo, ao contrário. Com a restauração capitalista e a integração da Polônia na União Européia, o proletariado polaco passou a ter sua mais-valia explorada pelas potências europerias, em especial Alemanha. Entretanto, existe uma margem competitiva, que comparativamente os salários mais baixos na Polônia elevam os investimentos. A Polônia embora seja da União Europeia, não usa o Euro como moeda.

Sendo bastante exemplificativo como se estabelece uma disputa de influências imperialistas na eleição polaca. Com o imperialismo da União Europeia de um lado e o imperialismo dos EUA do outro. O imperialismo dos EUA faz uma parceria com o imperialismo da Rússia.

Como ao longo dos últimos mil anos não se tem um século em que a Alemanha ou a Rússia não tenham invadido ou controlado a Polônia. Como os polacos guardam as lembranças do Stalinismo como uma invasão estrangeira. E de fato Stalin fez um pacto com Hitler. Portanto, o imperialismo russo precisa agir de modo mais discreto, ou com subterfúgios. Enquanto os apoiadores do Plataforma Cívica usam as bandeiras da União Europeia e os apoiadores do PiS usam a bandeira dos EUA. O setor pró-rússia é menos escancarado. Entretanto, foram identificadas movimentações de desinformação russa atuando para interferir na eleição polonesa. Com grupos espalhando mentiras, nos típicos ataques de Fake News.

Note-se que existe um degradê político do primeiro colocado até o quarto colocado, na eleição do primeiro turno. Trzaskowski é de direita, Nawrocki é reacionário. Já o terceiro colocado, Mentzen, é do Konfederacja (Confederação), um partido fascista. O quarto colocado Grzegorz Braun é de um partido Monarquista, que faz parte do bloco parlamentar do Konfederacja, sendo mais abertamente  Pró-Rússia.

O Konfederacja se refere a invasão russa na Ucrânia como “A guerra no Dnipro”. O rio Dnipro divide a Ucrânia no meio, e um setor do fascismo polaco sonha com uma expensão das fronteiras polacas até o Dnipro, onde seriam suas fronteiras coma Rússia. Onde a Ucrânia evidentemente deixaria de existir. Em um resgaste mitológico do auge da expansão polonesa, no período do reino comum com a Lituânia. Este setor apoia Putin, sendo uma variante de um nacional-chauvinismo fascista. Na eleição parlamentar de 2023 o Konfederacja fez 7,2% dos votos.  A grande surpresa desta eleição foi a votação deste setor, Mentzen com 14,81% e Braun 6,34%. Portanto, este espectro político triplicou em menos de 2 anos. Isto significa um peso expressivo de um fascimo escancarado.

No campo da esquerda aconteceu um movimento que chama a atenção. Em 2024 ocorreu um racha no Bloco Lewica (Esquerda), saindo o grupo Razem (Juntos). A Esquerda compõe o governo de Donald Tusk, até mesmo com ministérios. O Juntos mantinha uma posição de independência frente ao governo. Mas até então estava no mesmo bloco parlamentar da Esquerda. Mas o Juntos terminou rachando com a Esquerda, pois entendeu que o nível de integração com o governo estava demasiado. Sendo um racha pela esquerda. Em 2023 o bloco Lewica e Razem (Esquerda e Juntos) obteve 8,6% dos votos na eleição parlamentar. Agora separadamente o candidato do Juntos, Adrian Zandberg, obteve 4,86% dos votos e a candidata da Esquerda Magdalena Biejat obteve 4,23%. De modo que mesmo com a divisão este espectro político não chegou a perder significativamente seu espaço.

Para o segundo turno o panorama é incerto. Somados os votos da extrema-direita existe uma maioria com mais de 50%. Mas as pesquisas indicam que Trzaskowski (Plataforma Cívica) teria uma pequena vantagem frente a Nawrocki do PiS. O voto na Polônia é facultativo, de modo que o que será decisivo no resultado da eleição no segundo turno será qual o nível de participação eleitoral.

Eleições na Romênia

Na Romênia no segundo turno venceu Nicusor Dan, um candidato pró-União Europeia. A eleição da Romênia passou por vários tipos de ataques. Tendo a suprema corte anulado a eleição de 2024, por constatar a influência russa para favorecer o candidato da extrema direita Calin Georgescu. Tanto Putin quanto Trump e Elon Musk condenaram a inelegibilidade de Georgescu. Posteriormente, na outra eleição foi para o segundo turno o candidato George Simion, que se declarou fã Trump, bem como foi abertamente apoiado pela Rússia.

Note-se que, dos países que fazem fronteira com a Ucrânia, a Rússia já controla diretamente a Bielorrúsia, tem influência direta na Hungria, de Orban, bem como influencia a Eslováquia. Tendo também interferência interna na Moldávia. Tentando assim fechar o cerco com a influência tanto na Polônia quanto na Romênia. Putin e Trump atuam em parceria buscando exercer uma influência imperialista conjunta dos EUA e da Rússia nos países da União Europeia.

Uma das agências russas, semi-oficiais, de propaganda e desinformação é a TASS. Tendo tal agência publicado uma declaração do ex-presidente da Moldávia, Igor Dodon, sobre as eleições na Romênia: “Claramente, outros países interferiram diretamente no processo eleitoral. Globalistas e grupos financiados por Soros usam toda e qualquer forma de pressão, manipulação e propaganda”. As teorias da conspiração russas sobre os “globalistas” e “grupos financiados por Soros” seriam algo cômico se não fosse trágico. Em outra matéria a TASS enaltece que Elon Musk apoiou o fundador do Telegram por se recusar a retirar propaganda enganosas de suas plataformas.

Eleição da Romênia foi uma expressão destes tempos em que o Poder Judiciário tem um papel determinante, onde a extrema direita usa das Fake News, e com uma disputa entre setores imperialistas. Onde os imperialismos dos EUA e da Rússia formaram uma aliança contra o imperialismo europeu.


Bruno é militante da Resistência-PSOL


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