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Por um giro à esquerda do governo Lula


Publicado em: 4 de abril de 2025

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

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Diante do perigo que se avizinha, é preciso uma virada de rumo. A queda da popularidade de Lula significa que a extrema direita se fortalece à disputa da Presidência da República em 2026. O pior pode acontecer, caso não exista mudança de estratégia. Mesmo com a possível prisão de Bolsonaro, há outros nomes competitivos na extrema direita. As elites empresariais não escondem sua simpatia por Tarcísio de Freitas, o fascista de “garfo e faca”.

É necessário compreender os motivos da baixa popularidade. Uma parte do povo trabalhador que elegeu Lula está descontente com o governo. O custo de vida aumentou, com a inflação dos alimentos e combustíveis pesando no bolso. Existe o sentimento de que Lula não está entregando o que prometeu na campanha, ou seja, há frustração de expectativas.

Apesar dos índices econômicos serem positivos, o povo “não come PIB”, como dizia Conceição Tavares. A massa trabalhadora quer uma vida melhor, com seu salário rendendo, com mais tempo para o descanso e para a família, além de melhor segurança, saúde e educação.

Além disso, a extrema direita promove uma campanha diária de ataques e mentiras contra Lula. Ela tem imensa penetração popular, especialmente através das redes sociais controladas pelas bigtechs. A gigantesca repercussão do caso Pix comprova essa avaliação.

Outro exemplo é a culpabilização do governo federal pelos problemas de segurança pública, como roubos de celulares e assassinatos. Essa acusação está “colando” na massa. Embora a responsabilidade pela insegurança pública seja fundamentalmente dos governos estaduais, que controlam as polícias.

O mercado e a grande mídia, por sua vez, atuam cotidianamente na denúncia do governo pela suposta “gastança” de Lula. E pressionam por mais ajuste fiscal. O centrão tem um pé dentro do Executivo, mas age, na maioria das vezes, sabotando e chantageando o governo. Como sair dessa sinuca bico, recuperar popularidade e derrotar o bolsonarismo em 2026?

Mudar a estratégia, enquanto é tempo!

Não há possibilidade de reconquistar apoio popular se o governo não fizer entregas significativas ao povo trabalhador, o quanto antes. Mas, para isso, é preciso menos austeridade fiscal e mais audácia na política econômica.

A prioridade não pode ser o cumprimento das rígidas metas do arcabouço fiscal, e sim o atendimento das demandas populares. Não pode ser a manutenção de uma das maiores taxas de juros reais do mundo, que faz a farra dos rentistas, e sim a valorização dos salários e a melhora dos serviços públicos.

Consideramos que é muito importante o projeto de isenção de IR a quem ganha ate R$ 5 mi e taxação dos super-ricos. Mas essa medida progressiva de Lula, que faz justiça tributária com relevante impacto social e econômico, não é o bastante. E ela só terá efeito prático ano que vem, se aprovada pelo Congresso. Na casa legislativa, o centrão vai trabalhar para aliviar para os mais ricos, como bem demonstra o áudio vazado de Ciro Nogueira, do PP. 


O principal problema imediato a ser enfrentando pelo governo é a alta dos preços dos alimentos, combustíveis e energia elétrica. O anúncio de isenção da tarifa de importação e de ICMS de alguns produtos é positivo, mas completamente insuficiente.

É preciso adotar mecanismos eficazes e de amplo alcance para reduzir os preços. Como, por exemplo, a instituição de cotas obrigatórias para o abastecimento do mercado interno, a reposição emergencial dos estoques reguladores e um robusto incentivo financeiro à agricultura familiar e à reforma agrária. Com bem afirma o MST, sem enfrentar o agro predador e o oligopólio capitalista da distribuição, que lucram absurdos com a inflação do alimentos, haverá apenas soluções paliativas.

Outra medida urgente é a redução dos preços dos combustíveis e do gás pela Petrobras. É preciso que a estatal priorize os interesses do povo brasileiro e não os dos acionistas em Nova Iorque. Se os preços da Petrobras cedem, isso impacta positivamente o custo de toda cadeia produtiva.

Importa notar que o governo, até agora, não assumiu para si o projeto de redução da jornada de trabalho com o fim da escala 6×1. Uma reivindicação que tem amplo apoio popular. Lula deveria, em pronunciamento nacional, defender essa mudança trabalhista. Que a extrema direita e o centrão expliquem ao povo por que estão contra a classe trabalhadora!

A importância da luta política e ideológica

Já se foram pouco mais de dois anos de governo. Está evidente que a receita aplicada até agora não está funcionando. As pequenas melhoras nos índices econômicos e sociais não estão dando conta de sustentar a popularidade de Lula. É preciso mais, e rápido. 2026 está chegando e a extrema direita está se preparando para voltar ao poder e avançar mais no Congresso.

O contexto internacional também impõe sérios desafios e perigos. O governo neofascista dos EUA promove a guerra tarifária global. Ataca implacavelmente os imigrantes e a democracia. Patrocina a extrema direita pelo mundo. E aprofunda a devastação ambiental e os conflitos geopolíticos. A família Bolsonaro conta com a interferência de Trump no Brasil em seu benefício.

Na política externa, é essencial que Lula defenda altivamente a soberania nacional perante a taxação de Trump. Assim como promova a unidade latino-americana contra a ingerência política e os ataques econômicos norte-americanos ao países do continente. Importa mostrar como Bolsonaro, Milei e outros líderes da extrema direita são lacaios de Trump, mesmo quando esse impõe prejuízos econômicos aos seus países.

Internamente, a audácia na política econômica, com a adoção de medidas populares de amplo impacto, deve vir acompanhada de um giro para a luta política e ideológica contra a extrema direita, o agro e os abutres do mercado financeiro.

É necessário explicar ao povo quem são os verdadeiros culpados pela alta abusiva dos preços dos alimentos. É preciso demonstrar às massas quem está contra que os trabalhadores possam ter uma vida com o mínimo de dignidade, com o fim da escala 6×1. Junto com isso, é imperativa a construção da mobilização social para dar suporte à essa agenda popular.

Certamente, a adoção de uma estratégia política de esquerda não viria sem riscos, pois geraria enfrentamentos com os interesses dos grandes capitalistas e da direita. Mas é melhor correr risco, lutando para vencer, do que seguir na trilha que está levando à derrota.

O papel da esquerda e dos movimentos sociais

O governo Lula vive a contradição inescapável do seu caráter de conciliação de classes. A unidade eleitoral ampla, incluindo setores da direita, cumpriu um papel para derrotar Bolsonaro nas eleições, dado que a diferença foi mínima, menos de 2 milhões de votos. Mas esses mesmos setores de direita, assim como parte do centrão, que ocupa ministérios e cargos no Executivo, limitam consideravelmente a capacidade do governo cumprir suas promessas junto ao povo.

Por isso, é fundamental que os partidos de esquerda, os movimentos sociais e os sindicatos exerçam um papel efetivo na luta social, política e ideológica contra a extrema direita e a direita. E de pressão sobre o Congresso Nacional dominado pelo centrão. Assim como de cobrança ativa sobre o governo, para que esse adote medidas para a classe trabalhadora e a maioria do povo.

Nesse sentido, tem enorme valor a construção do Plebiscito Popular que vai pautar a redução da jornada de trabalho, o fim da escala 6×1, a taxação dos super-ricos e a isenção de salários no IR. O conjunto da esquerda, em Frente Única, precisa se engajar nessa iniciativa ao longo dos próximos meses. As frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, o MST, a UNE, o PSOL, o PT, a CUT e diversos outros setores já estão empenhados nessa construção.

 

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Outra batalha fundamental é a continuidade da campanha “Sem Anistia, prisão para Bolsonaro!”. O desfecho do processo, que pode prender Bolsonaro e o comando golpista, é decisivo para o futuro da democracia no país. A esquerda não deve contar apenas com a alta probabilidade do STF condenar os réus. É necessário luta política e ideológica e mobilização nas ruas.

Não está em jogo apenas o veredicto do tribunal superior, mas sobretudo a disputa pela maioria social sobre o tema. Isto é, Bolsonaro será visto pela maioria da população como injustiçado ou culpado? Nesse sentido, foi importante o ato em SP, dia 31 de março, que levou milhares de pessoas às ruas.

O lugar do PSOL

Diante das tarefas colocadas, consideramos que o PSOL deve seguir na sua atual localização política. O partido é útil à luta contra a extrema direita fazendo o combate nas ruas e no Congresso. E não ocupando cargos e ministérios no Executivo, o que limitaria sua autonomia política, inclusive para criticar o governo quando necessário.

Érika Hilton está ajudando a levar a bandeira contra a escala 6×1 a milhões de trabalhadores. Boulos ocupa um lugar central na luta contra a anistia aos golpistas. Os parlamentares do partido são reconhecidos pelo enfrentamento prioritário ao bolsonarismo, por defender o governo dos ataques da extrema direita e apoiar todas medidas progressivas de Lula. Mas o partido também cumpre um papel positivo ao criticar e votar contra projetos do governo que vão contra a classe trabalhadora e necessidades sociais, como foi no caso do ajuste fiscal e do arcabouço.

Para haver mudança à esquerda no governo, é preciso existir pressão por baixo, com luta social, política e ideológica na base da sociedade, junto à classe trabalhadora. Esse deve ser o foco da esquerda socialista e dos movimentos sociais.

 


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