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O adeus a Zezé. Mas de tudo fica um pouco.
Publicado em: 24 de março de 2025
Hoje é um dia triste. Maria José Lourenço, a Zezé, faleceu. Mulher negra, foi uma das jornalistas mais talentosas da sua geração. Seu texto era brilhante, impecável. Trabalhou, entre outros, no jornal, O Sol, fechado pela ditadura no final dos anos 60. O Sol é aquele mesmo da música do Caetano, Alegria, alegria: “O Sol nas bancas de revistas/me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia”. Como ela mesma se apresentou na contracapa do seu livro: “professora primária, depois jornalista, mais tarde funcionária pública. Mas sempre, e antes de tudo, militante socialista”.
Zezé teve que se exilar no Chile. Lá, junto com outros exilados, fundou o “Ponto de Partida”. Após o golpe militar no Chile, vão para a Argentina. Estabeleceram relações com o trotskismo argentino e com Moreno. Numa reunião em Buenos Aires em janeiro de 1974, Zezé defende que devem voltar ao Brasil para organizar clandestinamente a “Liga Operária” e seu jornal, “Independência Operária”. Chegando aqui, foi morar no ABC. Seu projeto político e pessoal sempre foi estar centrado na classe operária.
Eu a conheci em 1977, quando ingressei na “Liga Operária”, que depois se torna “Convergência Socialista”. Num terreno muito patriarcal, machista, conflitivo, Zezé foi a principal dirigente da organização. Entre muitas qualidades, era pessoa agregadora, meiga. Sabia agregar os que militavam com ela. Também nos ensinou que o internacionalismo é fundamental em uma corrente política.
Há anos estava morando em Itanhaém, litoral de São Paulo, com seu companheiro de uma vida, Jorge Sprovieri. Na última vez em que estivemos com ela em uma visita, eu, Waldo e Valério, nos presenteou com seu livro: “Uma estrela chamada Catarina”, sobre sua tataravó escrava e sua família, particularmente as mulheres. Para ela, o livro é também a história das mulheres negras trabalhadoras. Seu texto continua brilhante.
No poema “Resíduos”, de Carlos Drummond, há uma passagem: “Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? No trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço?”. Com a permissão de Drummond, dizemos que fica um pouco da Zezé na luta das mulheres, na luta dos trabalhadores e também na Resistência.
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