marxismo
Do socialismo utópico ao socialismo científico – um guia de leitura
Apresentamos aqui um guia de leitura do texto “Do socialismo utópico ao socialismo científico”, que pode ajudar camaradas a assimilar as ideias centrais desse texto clássico marxista escrito por Friedrich Engels
Publicado em: 23 de março de 2025
Esse panfleto, primeiramente produzido em francês em 1880,trata-se de uma compilação de três capítulos da obra Anti-Dühring de Engels, um trabalho polêmico criado não apenas para combater as “novas” teorias socialistas de Eugen Dühring, mas também, principalmente, [para oferecer] “uma visão enciclopédica de nossa concepção dos problemas filosóficos, das ciências naturais e históricas”, nas próprias palavras de Engels.
Do socialismo utópico ao socialismo científico condensa algumas das principais ideias da obra de Engels em um panfleto conciso e muito acessível, que permanece até hoje como um dos melhores e mais populares resumos das ideias marxistas já produzidos. Em três rápidos capítulos, Engels primeiramente aborda o desenvolvimento do pensamento socialista pré-marxista; depois, a filosofia dialética, que é central ao método marxista; e, por fim, o materialismo histórico, que aplica o pensamento marxista à evolução da sociedade humana: a fonte das conclusões revolucionárias de Marx e Engels.
Como sugere o pequeno resumo acima, este panfleto é extremamente rico e merece várias leituras. Além disso, as introduções de Engels ao panfleto sobre a “história do materialismo” e a “história da classe média inglesa” oferecem uma valiosa explicação e uma defesa da filosofia materialista (uma busca revolucionária em si, considerando a enorme influência do pensamento idealista e agnóstico na filosofia “respeitável”), bem como uma aula magistral sobre o materialismo histórico, colocando a evolução da filosofia e das ideias em seu devido contexto: como parte da revolução subjacente no desenvolvimento das forças produtivas e da luta de classe.
Capítulo 1: O socialismo utópico
O primeiro capítulo do panfleto de Engels é dedicado aos grandes socialistas “utópicos” do final do século XVIII e início do século XIX: os precursores do socialismo “científico” de Marx e Engels.
Fornecendo um breve histórico do pensamento socialista desde o início da era moderna, Engels identifica os movimentos racionalista, democrático e comunista do período não simplesmente como uma batalha de ideias, mas como expressões teóricas do surgimento e do conflito das novas classes emergentes na sociedade. Usando o mesmo método, Engels, então, se volta para as primeiras manifestações ideológicas da classe trabalhadora nascente na Inglaterra e na França: os “três grandes utópicos” Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen.
Analisando brevemente cada uma de suas teorias, Engels não somente demonstra as falhas letais e as limitações de seus “sistemas sociais” ideais, mas também os coloca em seu contexto histórico, de uma luta de classes (entre a burguesia e o proletariado) que estava apenas surgindo e, portanto, por essa razão, ainda estava “cru” em sua forma e expressão. Isso pode ser visto quando os utópicos evitam a classe trabalhadora em favor dos “trabalhadores” e do “povo” em geral.
No entanto, Engels de forma alguma menospreza as grandes contribuições intelectuais e políticas feitas por esses indivíduos. Engels reserva suas críticas mais severas para os “filisteus” que se “vangloriam da superioridade de seu próprio raciocínio simplista”sobre os “grandes pensamentos” dos utópicos. Para Engels, existia muita coisa correta em suas teorias falhas e muito do que mais tarde seria herdado por Marx e por ele mesmo.
Em última análise, a partir de seu tratamento dos primeiros socialistas utópicos, Engels também coloca o marxismo em seu próprio contexto como produto das produções teóricas dos primeiros socialistas e do moderno proletariado em seu completo desenvolvimento material.
Questões para estudo:
• Em que sentido o mundo estava de “cabeça para baixo” para os filósofos do século XVIII?
• O que Engels quer dizer quando escreve: “Os grandes pensadores do século XVIII, assim como seus predecessores, não poderiam ir além dos limites impostos por sua época”?
• Por que as instituições criadas pelo “triunfo da razão” eram “caricaturas amargamente decepcionantes”?
• O que une todos os “três grandes utópicos”?
• Como a “indústria moderna” faz uma revolução necessária?
• Por que os novos sistemas sociais dos fundadores do socialismo estavam “condenados a serem utópicos”?
• Em que sentido a política é “a ciência da produção”?
• Em que sentido a concepção de história de Fourier era dialética?
• Quais semelhanças podemos encontrar entre a filosofia de Owen e a de Marx?
• Quais eram as limitações do comunismo de Owen?
Capítulo 2: A dialética
O segundo capítulo do panfleto de Engels enfoca na forma como a história da filosofia culminou em Hegel, desde os filósofos da Grécia antiga e sua dialética menos desenvolvida, até a metafísica e, finalmente, à forma da dialética hegeliana.
Engels discute os erros dos metafísicos. Uma questão urgente que Engels assinala é a incapacidade de compreender a contradição. Engels explica que “os dois polos da antítese são tão inseparáveis quanto são opostos”. Este é um ponto central da dialética desenvolvido neste capítulo. Ele coloca isso na realidade concreta pela explicação de que a natureza é prova desse fenômeno.
Engels elogia Hegel e seu brilhantismo em libertar a história da metafísica. No entanto, Engels também apresenta os erros de Hegel, devido a seu idealismo, ao conhecimento limitado e ao seu lugar na história. Engels comenta que Hegel foi um idealista e, por isso, compreendia a história de cabeça para baixo.
Engels termina falando sobre Marx. Ele analisa o materialismo de Marx, que trouxe a dialética para o lado certo. Ele explica brevemente a exploração capitalista e, então, termina afirmando que o que Marx fez pelo socialismo foi transformá-lo em uma ciência. “Com estas descobertas, o socialismo se tornou uma ciência. Em seguida, trata-se de desenvolver todos os seus detalhes e relações”.
Questões para estudo:
• O que é a dialética?
• Qual é a diferença entre a dialética dos antigos e a dialética de Hegel?
• Qual é o problema da dialética de Hegel?
• O que Engels queria dizer quando afirmou que o moderno materialismo “não mais requer o auxílio daquele tipo de filosofia que, como uma rainha, pretendia governar o resto da multidão das outras ciências”?
• Por que a filosofia de Hegel é importante para o socialismo?
Capítulo 3: O materialismo histórico
Engels inicia este capítulo pela explicação de que a realidade material é fundamental para compreender a sociedade e que a realidade econômica é o fator mais importante na determinação da sociedade, e não as ideias. Isto, em essência, é o fundamento do materialismo histórico.
Então, Engels identifica como o capitalismo surgiu, levando o leitor através da transição do feudalismo para o capitalismo e, assim, ao estabelecimento da burguesia moderna. Ele explica como os meios de produção e a divisão do trabalho se desenvolvem. Aqui vemos um rápido avanço na organização, da produção de bens com o único propósito bens o único propósito de atender às necessidades para a fábrica organizada, que produz mercadorias para serem vendidas no mercado. Anteriormente, os bens pertenciam apenas à pessoa que os produzia, pois geralmente uma única pessoa era responsável pela produção. Esse fundamento claro da propriedade já não era mais possível quando qualquer mercadoria era o produto de muitos trabalhadores e, assim, a propriedade privada passou a significar a exploração daqueles que trabalhavam, mas não possuíam nada.
Engels afirma que deve haver um fim para o capitalismo: redefinindo a sociedade não como um ciclo, mas como uma espiral que retorna a pontos anteriores, apenas em um nível mais elevado. Ele retorna aos meios de produção novos e desenvolvidos, analisando como a maquinaria se desenvolverá no capitalismo. Ele fala de uma superprodução, explica como o capitalismo superproduzirá e, o mais importante, porque isto se tornará uma praga na existência da sociedade capitalista.
Prosseguindo, o panfleto nos oferece uma compreensão da máquina estatal: para que ela serve e como ela se extinguirá sob o socialismo. “O Estado não é abolido. Ele se extingue”, explica Engels.
Por fim, Engels expõe concretamente a história dos estados desde a sociedade medieval até a futura Revolução Proletária. Fazendo isso, ele explica a importância do genuíno socialismo científico.
Questões para estudo:
• Quais as principais mudanças na divisão do trabalho e nas forças produtivas que ocorreram nas últimas décadas, e quais mudanças políticas e sociais têm sido associadas a essas mudanças?
• Como você aplicaria a observação de Engels de que “as causas finais de todas as mudanças sociais e revoluções políticas devem ser buscadas não nos cérebros dos homens, nem nas melhores percepções dos homens sobre a verdade eterna e a justiça, mas nas mudanças nos modos de produção e troca” a um grande movimento social de nossa época, tais como a polarização política no Ocidente?
• Engels refere-se à chegada da produção planejada com o sistema fabril. O que ele quis dizer exatamente com isso?
• Engels coloca muita ênfase na produção de “mercadorias”. O que é uma mercadoria?
• Engels menciona alguns exemplos de um “círculo vicioso” no desenvolvimento do capitalismo. Quais foram eles?
• O que Engels quer dizer com “rebelião das forças produtivas” e o que são as “forças produtivas”?
• Engels afirma: “Esta solução só pode consistir no reconhecimento prático da natureza social das forças produtivas modernas e, portanto, na harmonização com o caráter socializado dos meios de produção”. Como as forças produtivas são socializadas sob o capitalismo?
• Engels diz: “As forças sociais ativas funcionam exatamente como as forças naturais: cegamente, forçadamente, destrutivamente, enquanto não as compreendemos e não nos ajustamos a elas.” Qual é a razão fundamental pela qual as forças sociais não são compreendidas ou controladas pela humanidade? O que precisa mudar para que elas sejam compreendidas e controladas?
• Quais são as diferentes relações entre o Estado e a comunidade que Engels menciona como tendo surgido ao longo dos séculos? O que poderia significar para o Estado se tornar “o verdadeiro representante de toda a sociedade” e por que ele então desapareceria?
Você pode encontrar uma tradução do texto aqui.
Traduzido de Socialism: Utopian and Scientific – a reading guide por Paulo Duque, do Esquerda Online
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