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A escala das mulheres é 7×0. Redução já!
Publicado em: 19 de março de 2025
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A recente discussão sobre a redução da jornada de trabalho no Brasil, impulsionada pela PEC que propõe a diminuição do regime 6×1 e das 44 horas semanais, possui também um recorte de gênero. As mulheres, sem dúvida, são as mais afetadas pelas jornadas exaustivas das empresas, pois acumulam estas com o trabalho do cuidado.
A discussão sobre jornada não pode se resumir à matemática simples que divide horas dentro da empresa e horas de lazer. O que acontece quando fora da empresa o “tempo livre” não é livre? Como funciona essa conta quando se empilha uma outra jornada de trabalho não remunerado?
Jornada 7×0, com 65 horas
De acordo com o IBGE, as mulheres fazem 85% do trabalho do cuidado no Brasil, dedicando, em média, 21 horas semanais ao cuidado com a casa, os filhos e outros familiares, um volume que se soma à carga horária formal de trabalho e revela um cotidiano de exaustão. O trabalho não remunerado das mulheres é parte crucial da exploração capitalista, pois se configura como um suporte necessário ao trabalho assalariado, o que vem sendo apontado pelas feministas da Teoria da Reprodução Social.
Isso significa que somadas essas 21 horas do cuidado à jornada de 44 horas nas empresas, as mulheres trabalham cerca de 65 horas semanais, isso sem considerar as duas a três horas de deslocamento.
Além disso, outro dado que acentua a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho é a diferença salarial. Mesmo que a legislação preveja igualdade salarial, na prática, as mulheres continuam recebendo menos que os homens para desempenhar as mesmas funções. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, as mulheres ganham cerca de 20,7% a menos que os homens. Se consideradas apenas as mulheres negras, estas recebem 35,38% a menos que mulheres não-negras, 21,4% a menos que os homens negros; 49,75% a menos que homens não negros – ou seja, quase metade do salário deles.
Esses dados então deixam em evidência que apesar de as mulheres trabalharem muito mais, além do trabalho não remunerado, no emprego formal ainda recebem os piores salários.
O adoecimento laboral nas mulheres
O regime 6×1 compromete a saúde física e mental dos trabalhadores. Longas jornadas e a ausência de pausas adequadas estão associadas a maiores índices de doenças ocupacionais, estresse e exaustão.
No Brasil, entre 2007 e 2022, o SUS registrou quase 3 milhões de casos de doenças ocupacionais. Uma delas é o burnout, síndrome do esgotamento crônico pelo trabalho. Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores sofrem de burnout, o que coloca o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de casos. O número de afastamentos por burnout aumentou 136% entre 2019 e 2023.
Mas se os índices gerais já são preocupantes, o recorte de gênero nos mostra uma realidade ainda mais grave para as mulheres. O estudo FEEx – FIA Employee Experience, realizado com 188 mil pessoas de 419 empresas brasileiras, apontou que 3 em cada 10 profissionais sofrem com estresse no trabalho e burnout, e que, entre estes, há 73% mais casos de burnout em mulheres do que em homens.
O adoecimento se explica pelo fato de que, por dentro da longa jornada semanal de trabalho, as mulheres ainda sofrem com assédio moral e sexual, falta de valorização e oportunidades internas, salários menores e postos mais precarizados. São 44 horas semanais muito mais intensas e adoecedoras.
A PEC e as mulheres
A aprovação da PEC pelo fim do 6×1 representaria não apenas um avanço para a classe trabalhadora como um todo, mas também um alívio concreto para as mulheres. Reduzir a jornada formal não resolveria de imediato a sobrecarga do trabalho doméstico, mas reduziria um pouco essa carga tão pesada.
As mulheres trabalham mais, adoecem mais no trabalho, são menos valorizadas em seus empregos, sofrem assédio e machismo nos ambientes institucionais e ainda recebem salários menores.
Estamos exaustas, e nunca tivemos direito a descanso. Por tudo isso, a exaustão feminina é parte central da luta pelo fim da jornada 6×1 e pela vida além do trabalho, pois são as mulheres as mais duramente afetadas pelas jornadas longas, pelo acúmulo de jornadas, e pela precarização do trabalho.
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