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Argentina: protesto de aposentados e torcedores de futebol, cem presos e outros gravemente feridos em uma mobilização que abalou o governo
Publicado em: 13 de março de 2025
Não é novidade que os aposentados, que foram vítimas do ajuste [econômico], estão protestando. Foi surpreendente que os fãs de futebol tenham reagido à repressão sofrida pelos mais velhos. Mas a grande surpresa foi que na mobilização de ontem, 12 de março, um novo setor social se junta ao protesto e não são as barras bravas (torcidas organizadas) divulgadas. São os parentes pobres daqueles anciãos que ganham o mínimo e não são suficientes para comprar seus remédios. São os pobres que também não sobrevivem e, sendo fãs de futebol, a maioria deles não pode pagar um ingresso para ir ao estádio.
Quem esperava ver grandes contingentes dos clubes mais importantes do nosso país, que se movimentavam agressivamente (as famosas barras bravas), não conseguiu encontrá-los. O que foi encontrado foram pequenos grupos de pessoas de todas as idades que compartilhavam uma camiseta e, provavelmente, uma família ou bairro.
Essas eram as maiorias. O resto: algumas delegações sindicais (vimos Atilra, Sipreba, Sutna, ATE, ATSA), e também alguns poucos grupos peronistas. Havia também as colunas à esquerda, que não eram muito numerosas, e ocupavam o centro da Plaza Lorea.
O denominador comum dos manifestantes era muita raiva pela situação dos aposentados, mas também por suas condições de vida. Quando se espalhou o boato de que um aposentado havia sido morto, os ânimos se exaltaram. Mais tarde, soube-se que um jovem (que acabou sendo o jornalista Pablo Grillo) foi atingido por uma granada de gás na cabeça.
Havia muita raiva e também muita indignação, então os slogans mais entoados eram: “Fora todos” e “Milei, lixo, você é a ditadura” (em espanhol rima: “Milei, basura, sos la dictadura”). E, com esta raiva resistiram muito tempo na Plaza Lorea apesar dos gases, dos hidrantes e das balas de borracha. Vimos a destruição de um dos carros de polícia que tentava avançar pela rua Sáenz Peña e que, preso no tráfego, avançou pela calçada e foi apedrejado por diferentes grupos de manifestantes, que se retiravam da marcha.
Alguns dos já exaltados manifestantes foram em coluna para a Plaza de Mayo e acabaram expressando sua raiva contra a Casa Rosada. Quando os participantes do protesto foram embora ocorreu o maior número de prisões. Como já tinham feito em outras ocasiões, a polícia foi caçar e levou qualquer um que passasse. Às 21h de ontem, 100 detidos já foram mencionados.
As imagens que já circulam pelo mundo são eloquentes: policiais são vistos batendo com um pedaço de pau na cabeça de um aposentado com mais de 80 anos que estava apenas protestando, está documentado como o jornalista Pablo Grillo é morto 1enquanto tentava tirar uma foto, e a mídia mostra como o Ministro da Segurança em declarações jornalísticas confunde esse repórter ferido com um detido. As imagens também mostram que a maior parte dos mobilizados incluía famílias inteiras que tinham ido acompanhar os avós. As chamadas dos programas de televisão que relatavam um confronto entre policiais e barras bravas não estão ligados às imagens. Não havia los Doce, nem os Borrachos del Tablón, (torcidas organizadas do River Plate e do Boca Juniors) havia famílias se refugiando do gás e das balas de borracha e jovens dos bairros atirando pedras na polícia.
No final do dia, as motos da polícia federal dando seu show, tentaram intimidar e mostrar na mídia que o governo tem tudo sob controle. Essa não é a realidade. O fato de os legisladores da bancada do partido no poder tenham terminado trocando socos no recinto parlamentar mostra que eles nem mesmo controlam os seus. Mas, a desvantagem para o governo é que há cada vez mais setores sociais que não apenas repudiam Milei, a quem descrevem como vigarista e repressor. Eles não estão mais apenas protestando contra a austeridade ou a repressão. Eles começaram a pedir que o governo caia. O importante é que o repúdio popular contra Milei e sua ministra da Segurança continue se espalhando em outros setores, que até agora não haviam participado de protestos. E com os aposentados acontece como com as crianças em idade escolar, em cada família há pelo menos um.
A juíza Karina Andrade determinou a libertação imediata dos detidos, afirmando na fundamentação de sua decisão que: “com relação às detenções relatadas, está em jogo um direito constitucional fundamental, como o direito de protestar, de se manifestar em democracia e a liberdade de expressão, em um dia como hoje, quando é convocado pelos setores mais vulneráveis de nossa Nação, como os idosos convencionalmente protegidos, a partir do Poder Judiciário cabe prestar atenção especial a isso. Esta resolução ratifica que um setor do judiciário já percebeu a arbitrariedade manifesta deste governo e não quer ficar vinculado a isso.
Milei e seus capangas perderam hoje uma grande batalha pelo consenso, mas o pior de tudo para os governos é que aqueles que estavam na praça começaram a perder o medo.
1 Nota da tradução do EOL: Até a hora em que editávamos esta nota, Pablo Grillo, o fotógrafo que foi covardemente atingido por um policial que lhe disparou uma bomba de gás diretamente a seu rosto, está lutando pela vida no Hospital Ramos Mejia. As condições em que foi atacado e a luta que trava pela vida estão comovendo a sociedade argentina
Tradução de Waldo Mermelstein, do Esquerda Online, do portal Contrahegemoniaweb
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