editorial
Extrema direita organiza ofensiva pelo impeachment de Lula. O que fazer?
Publicado em: 17 de fevereiro de 2025
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
No momento de queda da popularidade do governo, a oposição fascista lança a campanha pelo impeachment de Lula. Com ajuda de Elon Musk, o bolsonarismo está convocando nas redes sociais manifestações para o dia 16 de março. A luta política vai se acirrar no país, inevitavelmente. Perante esse cenário perigoso, é necessário defender Lula do golpismo da extrema direita. Ao mesmo tempo, é preciso que a esquerda e os movimentos cobrem mudanças de rumo do governo. Ainda há tempo de evitar o retorno dos fascistas ao poder no Brasil, mas isso exige luta nas ruas e reorientação de estratégia política.
A combinação de dois fatores favorece a extrema direita no Brasil neste momento. Primeiro, o governo norte-americano, de Donald Trump, tem como um dos seus eixos insuflar as forças da extrema direita em todo mundo, para derrotar governos que se opõem ao neofascismo, como é o caso de Lula. Encorajados e patrocinados por Trump e Musk, o bolsonarismo arquiteta a ofensiva política contra o petista, visando o triunfo eleitoral em 2026 e a obtenção de anistia aos golpistas. O chamado ao ato pelo impeachment atende a esse objetivo.
Mas há também o fator interno, não menos importante. É visível o enfraquecimento político do governo federal, em parte pelos seus próprios erros e limites de estratégia política. Há elementos conjunturais que explicam a queda acelerada da popularidade de Lula. A alta da inflação dos alimentos e dos combustíveis atinge sobretudo as famílias trabalhadoras. A repercussão gigantesca da fakenews sobre a “taxação do PIX” despertou o medo de tributação em milhões de pessoas que têm micro ou pequenos negócios.
Porém, há motivos mais de fundo que ajudam a elucidar o descenso da popularidade de Lula. Uma parte significativa do eleitorado que votou no petista está frustrada com o governo, que não está entregando o que prometeu. A elevação do PIB e de alguns outros indicadores macroeconômicos não está se traduzindo na vida concreta do povo. A verdade é que a política econômica de Haddad, sob a camisa de força da austeridade fiscal e da alta da taxa de juros, limita severamente a capacidade de produzir uma melhora palpável nas condições de vida da classe trabalhadora.
Além de aplicar uma política econômica restritiva, o governo está renunciando, até aqui, à luta político-ideológica e à mobilização social para fazer frente à sabotagem da oposição bolsonarista, da Faria Lima e do centrão. A estratégia política de Lula tenta repetir a receita dos primeiros governos petistas, de duas décadas atrás. Acontece que as condições políticas nacionais e internacionais são completamente diferentes e muito mais hostis. Sem engajar e mobilizar sua base social com medidas populares de impacto, sem fazer o enfrentamento político e ideológico cotidiano, contando apenas com um crescimento econômico moderado e uma governabilidade frágil, ancorada no aluguel (caríssimo) de votos do centrão no Congresso, o caminho para a derrota em 2026 parece inevitável. Mas ainda há tempo para mudar o rumo!
Duas tarefas prioritárias diante uma conjuntura perigosa
Os partidos de esquerda e os movimentos sociais não podem vacilar na defesa de Lula diante da ofensiva política que a extrema direita iniciou com a convocação golpistas de ato pelo impeachment em 16 de março. É fundamental compreender que o inimigo central é o fascismo e que a volta do bolsonarismo ao poder central será trágica para a classe trabalhadora, para a democracia e o conjunto da esquerda. Lideranças e organizações que priorizam os ataques ao governo Lula, atuando contra a unidade antifascista, acabam servindo politicamente aos objetivos do bolsonarismo.
Por outro lado, tem igual importância o entendimento de que é preciso pressionar o governo por uma mudança de rumo à esquerda. É necessário que Lula abrace a defesa de medidas populares de amplo impacto, tais como: fim da escala 6×1, taxação das grandes fortunas, redução dos preços dos alimentos e dos combustíveis, isenção do imposto de renda a quem ganha até R$ 5 mil, reajuste do Bolsa Família e plano robusto de obras públicas e investimentos em educação, saúde, proteção ambiental e transição energética. Para viabilizar essas e outras medidas, é chave romper com as amarras da austeridade fiscal e dos juros altos.
O perigo imediato é que o governo Lula, pressionado e enfraquecido, faça um giro à direita, concedendo mais ministérios ao centrão, apertando o cinto do ajuste fiscal e mantendo uma linha de desmobilização social. Por isso, tem enorme relevância uma política dos partidos de esquerda e movimentos sociais que exerça pressão pela esquerda. O PSOL já tem posições políticas nesse sentido. Saudamos também a iniciativa da realização de um plebiscito nacional esse ano para pautar o fim da escala 6×1 e a taxação das grandes fortunas. As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, a UNE, o MST, sindicatos e diversas outras organizações estão envolvidas nessa construção.
Uma batalha decisiva: Sem Anistia! Prisão para Bolsonaro e todos golpistas!
Apesar da conjuntura adversa, a PGR deve em breve publicar seu parecer sobre a tentativa de golpe. É provável que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, peça a incriminação de Bolsonaro, generais e outros dirigentes do golpismo. Ao mesmo tempo, o bolsonarismo articula no Congresso, com ajuda do centrão, o avanço da pauta da anistia aos golpistas. Essa questão fatal para o futuro do Brasil deve ser decidida até o fim ano.
O governo Lula e a esquerda não podem ficar assistindo de camarote o desenrolar dessa batalha crucial. Se Bolsonaro e seus generais forem condenados e presos, isso representará um duro golpe no fascismo brasileiro. O inverso disso, isto é, a obtenção da anistia pelos golpistas significará, por sua vez, um triunfo colossal do bolsonarismo. Por isso, tem vital importância a campanha política contra a anistia aos golpistas, pela prisão de Bolsonaro.
Em resumo: a posse de Trump e o enfraquecimento do governo Lula favorecem a extrema direita e abrem uma conjuntura difícil e perigosa. Uma mudança de rumo do governo, à esquerda, com medidas de impacto popular, luta política e ideológica e construção de mobilização popular, é fundamental para reverter esse cenário adverso. A esquerda e os movimentos sociais precisam pressionar nesse sentido, tomando iniciativas nas ruas e nas redes para incidir na luta política do país. A batalha pela prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas tem uma dimensão estratégica e se configura como uma luta chave em 2025.
Top 5 da semana

mundo
Notícias da França: excelentes resultados da lista popular de Philippe Poutou, em Bordeaux
brasil
Editorial de O Globo ataca funcionalismo e cobra reforma administrativa
cultura
Black Metal e suas ligações com o Nazismo
lgbtqi
Não é sobre ser, mas sobre para onde vai meu ser
editorial