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Equador vai às eleições num cenário de aumento da crise social, violência e militarização

O progressismo liderado pela candidata, Luisa González, desafia o governo do Presidente da extrema-direita e empresário da megaindústria bananeira, Daniel Noboa


Publicado em: 6 de fevereiro de 2025

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David Cavalcante, da Redação

Esquerda Online

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Luisa González, Leonidas Iza e Daniel Noboa

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Neste próximo domingo, 9, haverá mais uma importante batalha eleitoral no país andino. Cerca de 13,7 milhões de equatorianos estão habilitados para votação, sendo 456.487 eleitores no exterior. Estão em disputa a Presidência e Vice-Presidência, os 151 assentos da Assembleia Nacional unicameral (a ser formada por 15 parlamentares nacionais, 130 parlamentares das circunscrições provinciais e 6 parlamentares das circunscrições do exterior), além dos 5 representantes do Parlamento Andino (formado por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru).

São 16 candidatos e candidatas à Presidência e Vice-Presidência. Para não haver 2o turno é preciso 50% dos votos válidos ou 40% dos votos ao mais votado com uma diferença de 10% do segundo mais votado. Tem pesquisas eleitorais para todo gosto para o 1o turno, mas numa média tem indicado uma polarização entre Noboa e Luisa González para um segundo turno.

Também é importante destacar o papel da candidatura de Leonidas Iza, Presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), candidato pelo Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik, principal liderança do último levante indígena durante o governo Lasso. Há também outras candidaturas de esquerda com menor pontuação nas pesquisas, como a de Jorge Escala, Presidente da União Nacional de Educadores, pela Unidade Popular, e a do advogado, Pedro Granja, pelo Partido Socialista Equatoriano, esta última com perfil de centro-esquerda. É fundamental e necessário unificar as candidaturas de esquerda e centro-esquerda no segundo turno para derrotar Noboa. Dessa vez isto poderá se concretizar em face de reuniões e debates programáticos comuns, ocorridos antes do registro das candidaturas.

Estas eleições podem ser consideradas um terceiro capítulo de um ciclo aberto com a vitória do candidato banqueiro, Guillermo Lasso, em 2021, o qual já vinha de acusações de enriquecimento ilícito meteórico à época da dolarização da economia e teve seu mandato encurtado por diversas crises políticas e econômicas, resultante de um pacotaço neoliberal, e das revelações em escândalos de corrupção internacional em paraísos fiscais com o Pandora Papers.

Ao pacote neoliberal reagiu o poderoso movimento indígena liderado pela CONAIE, em 2022, que protagonizou um levante popular e greve geral contra as medidas draconianas do governo, tendo sido fortemente reprimido pelas forças armadas, gerando mortes, desaparecidos, detenções arbitrárias e ilegais, como foi a do então Presidente da CONAIE, Leonidas Iza. Além de operações policiais e processos jurídicos abusivos contra lideranças indígenas e do partido Revolução Cidadã-RC.

Lasso, que já não tinha maioria parlamentar, também somou aos seus méritos de “bom gestor” empresário, a maior crise da segurança pública vivida no país até então. Revelando ao mundo o grave aumento da criminalidade e da ramificação e fortalecimento dos cartéis da droga e do crime internacional no país, facilitados pela dolarização da economia.

O banqueiro caiu, mas levou para fundo do poço da crise a dissolução da Assembleia Nacional para fugir do processo de impedimento e ganhar mais 6 meses de mandato, onde se abriu a brecha para que a candidata da oposição, Luisa González, fosse a maior prejudicada, diante de um assassinato com três tiros na cabeça de um dos candidatos da direita que era um fervoroso anticorreísta, em plena luz do dia.

A grande mídia empresarial não perdeu a oportunidade para associar o assassinato à Rafael Correa, tomando no tapetão uma eleição certa e segura da candidata progressista de centro-esquerda que estava à frente de todas as pesquisas com cerca de 10 pontos à frente.

O segundo capítulo dessa história foi que, ante a onda de comoção nacional e de fake news, há 11 dias da eleição, um então candidato desconhecido, Daniel Noboa, filho do magnata das bananas, Álvaro Noboa, conseguiu derrotar Luisa com apoio de partidos fictícios para um mandato tampão que ora se acaba.

Noboa seguiu e aprofundou a linha política de Guillermo Lasso, agregando a sua propaganda e discurso sua referência política de gestão pública ao também empresário e protoditador, Nayib Bukele, o Presidente de El Salvador, que recentemente ofereceu a Trump suas megaprisões para confinar imigrantes indocumentados expulsos dos Estados Unidos.

O projeto de megaprisão de segurança máxima foi orçada em mais de 50 milhões de dólares, mas ainda não conseguiu ser implementado totalmente, pois foi rechaçado com protestos e bloqueios de estradas pelos povos e movimentos indígenas da região amazônica, na Província de Napo.

O bananeiro fez da Presidência do Equador sua cozinha particular. Invadiu a Embaixada do México para sequestrar o ex-Vice Presidente do país, Jorge Glas, que se encontrava no prédio tramitando seu pedido de asilo, gerando uma grave e inédita crise diplomática.

O espetáculo do tratamento da violência busca também criminalizar ainda mais o Movimento Revolução Cidadã de Rafael Correa e Luisa González visando capitalizar para as urnas desse ano as arbitrariedades e associá-las ao falso discurso anticorrupção e anticriminalidade.

Noboa burlou a Lei Eleitoral e não pediu licença do cargo para se candidatar. Nomeou uma Vice-Presidenta, afastando sua própria parceira que havia sido eleita anteriormente em sua chapa. Esta semana, determinou a taxação de produtos oriundos do México em 27%, e em mais um ato assombroso ordenou a militarização dos portos e fechamento das fronteiras, antes das eleições, numa imitação cômica do seu chefe do Norte, visto que Equador sofre justamente com a emigração dos seus cidadãos.

A cortina de fumaça para esconder a grave crise que vive o país tem sido apelar para mais segurança e militarização num surrado e velho populismo de direita, mas que nada resolveram, pois desde 2023, já foram assassinados mais de 30 lideranças políticas, incluindo prefeitos. Houve até a invasão armada de um programa de TV ao vivo por um grupo criminoso.

Há também uma pesada crise energética no país. Os cortes de energia são recorrentes e sistemáticos, alcançando em alguns episódios até 14 horas por dia, até mesmo nas maiores cidades e centros industriais. A pobreza cresceu atingindo 28% da população, ou seja, mais de 5,2 milhões de pessoas (com renda inferior a US$ 91,43 dólares por mês) segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos – INEC.

O emprego informal subiu para 58% da força de trabalho e atingiu o maior índice registrado, desde dezembro de 2007. Em abril de 2024, Noboa aumentou o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 12% para 15% gerando aumento no custo de vida da maioria da população.

Noboa seguiu a cartilha dos governos de Lênin Moreno e Guillermo Lasso. Os três são os maiores e principais responsáveis pelo agravamento da crise econômica, social e da segurança pública, pois iniciaram um rumo neoliberal que fragilizou o Estado equatoriano, suas instituições e políticas sociais, com privatizações, cortes de subsídios e investimentos estatais.

Esses três últimos governos foram os que levaram o país ao fundo do poço e igualmente buscaram justificar os arroubos bonapartistas tornaram os decretos de Estado de Exceção numa rotina no país para tentar intimidar a maioria da população trabalhadora e os movimentos sociais a não reagirem diante de medidas neoliberais. Foram os mesmos que aprofundaram a semicolonização da economia que já não tem autonomia monetária desde o ano 2000, com a dolarização, e depende essencialmente das exportações de produtos primários (commodities) como petróleo, banana, camarão, cacau, flores e café. É preciso e é possível mudar esse rumo.


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