As polêmicas e debates sobre o filme nas redes digitais têm sido muito importante. Independentemente das concordâncias, críticas e acaloradas polêmicas sobre o significado do filme e mesmo com toda sua peculiar maneira de entender o país na época da ditadura a partir de uma família de classe média, foi importante para criar um caldo cultural que alimentou ainda as reflexões sobre o golpe de 1964 e a ditadura que seguiu. Além de todas as atrocidades perpetradas pelos militares e seus apoiadores. Era 2024: 60 anos deste golpe. O filme alimentou essa memória. Muitos jovens viram o filme. O debate começou a rolar solto. Houve procura pelo livro que está na base do filme.
Neste dia 05/01/2025, o filme (a atriz Fernanda Montenegro) ganhou um prêmio de projeção mundial: o Globo de Ouro. Uma premiação anualmente entregues desde 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association) aos melhores profissionais do cinema/televisão no mundo. Fernanda Torres ganhou o prêmio de melhor atriz por “Ainda Estou Aqui”, concorrendo na categoria “Melhor Atriz de Filme de Drama” com grandes nomes do cinema internacional. Além de Tilda Swinton, Pamela Anderson (The Last Showgirl), Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl) e Kate Winslet (Lee) estavam indicadas ao prêmio. Ou seja, projeção e vitrine mundial não faltará ao filme dirigido por Walter Sales.
Segundo tempo
Após essa premiação e todos os seus comemorativos, acredito (e desejo!) que todo o simbolismo do filme: do prêmio aos debates; da divulgação mundial ao significado do tema do filme. Que tudo isto sirva para uma reflexão e mobilização contra qualquer forma de golpe e sem anistia alguma para golpistas. Nesta quarta 8/1 serão dois anos de uma tentativa de golpe (mais um na história do país!!!).
Vamos fazer de conta que nada aconteceu? Vamos ficar dependendo unicamente de decisões do judiciário (ministro Alexandre de Moraes, em particular)? o impacto do inquérito da PF sobre os atos golpistas, como fica? esse importante inquérito da PF é um documento da mais alta importância. 884 páginas documentadas com rigor sobre a forma de preparação do golpe, seus mentores, aliados e trama. A coisa do golpe foi séria demais para ser esquecido. Até aqui, nada indica que não podemos ter mais tentativas de golpe a partir dos militares e seus bolsonaristas aliados. Existe no ar um clima de instabilidade institucional e isto não ajuda. Ou ajuda a golpistas de plantão.
Já que o filme despertou tantos debates acalorados após seu lançamento nos cinemas do Brasil, agora é a hora de ampliarmos o debate para a situação atual do Brasil. O filme precisa ser “instrumentalizado” para uma séria reflexões sobre os acontecimento de 8/1/2023. Não se trata de defender uma coisa ingênua e irrealizável: esse filme e seu prêmio mudaram a ordem das coisas nesse país que parece eternamente em transe, pelo menos, desde 2013. Não se trata de tamanha coisa sem sentido. Trata-se de aproveitar o momento (o “Kairós”) do filme e sua repercussão e agitar o tema central do filme: memória, ditadura, corpos desaparecidos, prisões arbitrárias. Trata-se de voltar ao debate sem apequenamento e superar a pequena politica que tem de ser superado do nosso horizonte.
O tema da ditadura pós-64 é um tema caro a grande parte da cultura brasileira. Marcou definitivamente este país. E sempre ronda como espectro da política brasileira. Tivemos entre 2018-20122 um governo civil eleito e que governou como militar. O Estado foi inflado de militares por todos os lados e cargos. Um absurdo só. Voltou-se a uma “cultura militar” com Bolsonaro e seu bolsonarismo e ainda a lenda da competência, disciplina e seriedade dos militares. Ora, ora… Caiu tudo por terra ao se aboletarem mais uma vez no Estado e vindo de um processo eleitoral, o que é mais grave. Fizeram um (des)governo desastroso.
Precisamos agir. Precisamos sair desse pesadelo. As ruas tem que ser nossa.
— Esquerda Online (@esquerdaonline) January 6, 2025
Comentários