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EDITORIAL

Super-ricos e centrão chantageiam. Como deve reagir o governo?

Editorial Esquerda Online
Imagens Agência Brasil/Montagem Eol

Às 16h30 da quarta-feira, 10, a bolsa disparou, o dólar caiu e os juros futuros desmoronaram. Sadicamente, a Faria Lima comemorava a notícia de que Lula seria submetido a uma nova cirurgia. Felizmente, o presidente se recupera bem. Mas o fato bizarro revela o objetivo político do mercado financeiro: derrotar Lula e o programa que o povo elegeu nas urnas, custe o que custar. Quando terminávamos esse editorial, com o presidente já retomando sua rotina de trabalho, o dólar renovava alta histórica, batendo em R$6,20.

a Faria Lima comemorava a notícia de que Lula seria submetido a uma nova cirurgia. Felizmente, o presidente se recupera bem. Mas o fato bizarro revela o objetivo político do mercado financeiro: derrotar Lula e o programa que o povo elegeu nas urnas, custe o que custar.

Enquanto os bilionários especulam com o dólar e os juros, o centrão executa no Congresso sua ação habitual: a extorsão. Em troca dos votos às medidas de ajuste fiscal do governo, a tropa de Artur Lira inflacionou o preço do toma-lá-dá-cá. O valor negociado em emendas parlamentares chegou a R$7,7 bilhões de reais. Mas, mesmo assim, não há garantia de que haverá votos suficientes para aprovação do pacote do Haddad. O centrão é insaciável.

Ainda na semana passada, a diretoria Banco Central (BC), por unanimidade, aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual. Esse acréscimo de 1%  fará aumentar os gastos com os juros da dívida pública em torno de R$ 50 bilhões, para o deleite dos super-ricos. A Selic agora está 12,25%, ao passo que a inflação anual (IPCA) se mantém abaixo dos 5%. Dessa forma, o juro real projetado para o país é de 9,48%, o segundo maior do planeta, ficando só atrás do da Turquia. Para piorar, o indicativo do BC é de que a Selic deve continuar subindo nos próximos meses. Vale notar que todos diretores nomeados por Lula, incluíndo Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência do BC em janeiro, votaram afinados com Campos Neto, o atual presidente bolsonarista da instituição.

Quanto mais o governo cede, mais os abutres exigem

Está claro que a Faria Lima e o centrão querem Lula de joelhos, de mãos atadas, pronto para o abate nas eleições de 2026. Trabalham para a extrema direita voltar ao poder. Nem mesmo as relevantes concessões presentes no pacote fiscal do governo, como a mudança regressiva na regra de reajuste do salário mínimo, a equivocada diminuição no valor do Abono e a indefensável restrição do alcance do BCP, foram suficientes para agradar o mercado. Os super-ricos querem a eliminação de toda e qualquer política econômica que possa trazer benefícios à classe trabalhadora e aos mais pobres. Por isso, ficaram furiosos com a proposta de isenção de imposto de renda a quem ganha até R$ 5 mil, tendo como contrapartida a taxação maior a quem recebe mais de R$ 50 mil por mês.

Haddad propõe um corte de gastos para disciplinar o orçamento ao arcabouço. Corretamente, movimentos sociais e sindicais e partidos de esquerda, como o PSOL, se opõem às medidas regressivas contidas no pacote, como as que atingem o salário mínimo e os benefícios sociais.

O governo Lula fez aprovar ano passado o arcabouço fiscal — uma regra alinhada com os preceitos da austeridade liberal. Agora, Haddad propõe um corte de gastos para disciplinar o orçamento ao arcabouço. Corretamente, movimentos sociais e sindicais e partidos de esquerda, como o PSOL, se opõem às medidas regressivas contidas no pacote, como as que atingem o salário mínimo e os benefícios sociais.

Era de se esperar que a Faria Lima aplaudisse o governo por adotar um ajuste fiscal que impacta negativamente sua base social. Mas não. O mercado elevou o tom crítico ao governo, jogou o dólar nas alturas e pede mais, muito mais. A mesma lógica preside a atuação do centrão no Congresso. Quando mais o governo oferece em emendas, mais Artur Lira demanda. Enquanto isso, patrocina a aprovação de uma série de projetos bolsonaristas no Congresso.

No entanto, a Faria Lima não está pensando somente na sua lucratividade especulativa, nem o centrão apenas em seus ganhos com emendas. Há um cálculo de estratégia política. Essas forças reacionárias querem fazer fracassar o governo Lula para abrir caminho à volta da extrema direita ao poder em 2026. Ainda que Haddad tente agradar o mercado financeiro com inúmeras concessões, os barões do capital preferem nomes como Paulo Guedes ou Campos Neto, que lhes entregam o programa ultraneoliberal completo. Ainda que Lula ceda mais ministérios e bilhões em emendas ao centrão, boa parte desse bloco político de direita, vinculado ao agronegócio e à bancada da bala e da bíblia, deseja a volta do bolsonarismo para voltar à farra que havia nos tempos de Jair.

Por uma mudança de estratégia política

Dada a atual relação de forças adversa, há limites para a atuação do governo. No entanto, consideramos que a linha do governo de ir de recuo em recuo prepara a derrota em 2026. Uma política econômica espremida pelo arcabouço fiscal tem dificuldades de entregar ao povo as promessas de campanha. Chama atenção, negativamente, que o governo Lula foi incapaz até agora de assumir para si a defesa do fim da escala 6×1, reivindicação que ganhou ampla adesão popular com o movimento VAT.

É perturbador perceber que Galípolo, indicado por Lula para o BC, acene para a manutenção da alta da taxa de juros no ano que vem, o que pode derrubar o crescimento da economia. Preocupa o fato do governo seguir sem uma política de mobilização social e linha de disputa ideológica, para que haja pressão à esquerda na sociedade por medidas progressivas, o que poderia servir de contraponto às chantagens do andar de cima. Nesse sentido, uma campanha popular pela reforma do IR ano que vem é fundamental. Assim como é decisiva a luta política pela prisão de Bolsonaro, contra a anistia aos golpistas. A batalha pela punição rigorosa aos golpistas não poder ser completamente terceirizada ao judiciário.

Os estreitos limites da conciliação no atual cenário político mostram que é preciso luta política e ideológica, assim como mobilização social em torno de uma agenda de mudanças progressivas, que traga esperança ao povo trabalhador. É preciso mudança de estratégia para vencer as chantagens do mercado e do centrão e derrotar a extrema direita em 2026!

 

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