“Mas se você achar
Que eu ‘to derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para”
Cazuza
Na greve de 2023, no momento de mediação no Tribunal Regional do Trabalho, Fernando Bandeira, coronel dos transportes de Recife e então presidente da Urbana-PE, , sindicato patronal das empresas de Recife e região, exclamou para um dos dirigente do Sindicato dos Rodoviários a seguinte frase “Vou F…vocês”.
Essa afirmação, tão baixa, vale dizer, mostrou-se um projeto estratégico das empresas, que não limitava-se à campanha salarial de 2023. Na verdade, a frase expressa por Bandeira teria uma ligação com o futuro e o papel que os empresários teriam na eleição do sindicato que ocorreu no dia 5 de dezembro. De fato, os empresários representados pela Urbana-PE, foram os vencedores do pleito. O investimento na sua chapa encabeçada pelo arquipelego, Roberto Carlos, deu certo.
Primeiro na disputa de narrativa, conseguiram transformar um acordo que avançou no controle da jornada por parte dos trabalhadores e no combate ao roubo de horas, em derrota. A antiga ideia de que “uma mentira repetida mil vezes acaba por tornar-se verdade” foi aplicada. E foi exatamente assim que os empresários, junto com a chapa pelega, operaram. Ou seja, derramaram uma enxurrada de fakenews e tomaram medidas abusivas, como descontos indevidos, para desmoralizar o acordo e culpabilizar o sindicato.
Uma luta brutalmente desigual
Quando a direção do sindicato passou a reagir, a armadilha já estava sendo montada. Não bastou ir até a base, montar tendas de fiscalização do acordo nos terminais, realizar assembleias nas garagens, além de promover ações jurídicas contra as empresas. O estrago já estava feito. Um acordo com avanços importantes teve o seu balanço considerado negativo pela categoria. Quem ganha com isso? São os empresários que ficam livres para seguirem descumprindo o acordo e, agora, contaam com a nova direção do sindicato que assumirá o papel de mero despachante e garoto de recados da Urbana-PE.
Pesou também nessas eleições, a farra de recursos promovida pelos empresários nesse processo eleitoral: altíssimo investimento para compra de votos, liberação dos candidatos da pelegada durante vários meses antes das eleições, assédio e a liberação das garagens para que a chapa deles tocasse o terror. A chapa patronal também dispôs do controle de ponto dos funcionários, facilitado pelas empresas.
Pesou, sobretudo, uma carta fake atribuída a Urbana-PE, que circulou largamente nos grupos de whats da categoria como um rastilho de pólvora e gerou enorma alarido. Nela, afirmava- se que as empresas estariam suspendendo qualquer tratativa com o sindicato, deixando para retomá-las somente com a nova direção eleita. O sindicato prontamente atuou para desmentir, afirmando tratar-se de uma articulação entre a Chapa 2 e as empresas, já que, do ponto de vista legal, as empresas não podem tomar esse tipo de postura. A Urbana-PE fez-se de desentendida, deixando a carta circular em toda a categoria, para desmenti-la somente no dia 06, depois de encerradas as eleições
Direção O Guará e apoiadores deram o sangue
Frente a tudo isso, a chapa do sindicato foi guerreira e não arredou o pé na batalha contra os empresários e a sua chapa pelega. Foram horas ininterruptas de intenso trabalho e enfretamento nas garagens, desde a madrugada do dia 05, até às 23h59.
Em torno da direção do sindicato, unificou-se uma amplo cordão solidário, que reuniu ativistas da cidade, movimentos sociais como o MTST, partidos de esquerda, além da CUT, da CTB, da CSP CONLUTAS, da Federação Sindical Rodoviária do Nordeste, da CNTTL e ainda muitos sindicatos ligados a essas centrais. Um gesto importante que repercutiu no movimento sindical de Pernambuco e do Brasil.
A vergonha será a marca dos que abraçaram a chapa 2
A chapa dos patrões tinha um perfil claramente bolsonarista, mas, mesmo assim, contou com apoio de figuras que se dizem de “esquerda”. Esses, ficarão marcados como colaboradores da tomada do Sindicato dos Rodoviários pelos patrões. Quem são eles? Áureo Cisneiros, presidente do Sinpol, e seu despachante, Josinaldo Dário vinculado ao MES-PSOL; Halisson Tenório, do Sindicato dos Correios de Pernambuco; Sergio Goiana, ex presidente da CUT e assessor do Sanador Humberto Costa (PT); Marília Viana, Presidenta do Sindguardas Recife; Marcelo Ramos, militante do movimento sindical.
Grupo O Guará sai de cabeça erguida para reorganizar a luta e resistir ao terror patronal
A derrota é dura e trará retrocessos para o conjunto da categoria. Sai do comando do sindicato uma direção combativa, anticapitalista e independente. Entra uma diretoria que é tão somente um amontoado de escroques sindicais e oportunistas de legendas de aluguel, amarrada aos empresários. Sem dúvidas, essa nova direção atuará como capataz dos patrões em cada uma das garagens da região metropolitana de Recife.
Grupo O Guará poderá agora voltar para a base de cabeça erguida, por nenhum deles se vendeu ou enriqueceu através do sindicato, apesas das várias tentativas de cooptação. Por tudo isso angariaram tanto prestígio no movimento sindical pernambucano.
De agora em diante a luta será travada como Movimento de oposição O Guará e a base da categoria rodoviária pode seguir contando com o apoio desse grupo.
O movimento sindical de todo o país precisa seguir atento à luta desses bravos sindicalistas rodoviários.
Ainda há muita história a ser escrita por estes camaradas nas páginas da história da classe trabalhadora brasileira.
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