Novembro de 2024. A notícia: “A Polícia Federal indicia Bolsonaro, Braga Netto e mais 35 por tentativa de golpe. Dentre eles, um padre…” A informação poderia até passar despercebida em outro momento. Não no atual contexto de Brasil. Saudades daqueles tempos em que padre, bispo ou agente de pastoral da Igreja Católica eram acusados publicamente de ajudar camponeses em ocupação de terra, ocupações urbanas, em lutas populares ou na luta em defesa de pobres de toda sorte neste país. Uma memória que não pode ser esquecida. Religiosos já enfrentaram polícias na defesa de pessoas marginalizadas sem voz e sem vez. Criticados pela mídia da casa grande, esses religiosos mantinham a cabeça erguida pela consciência tranquila nas escolhas que haviam feito. Muito diferente é quando um padre se junta a um grupo de extrema direita violento que tem como objetivo destruir as frágeis instituições democráticas. Mais do que isto: foi um dos “mentores ideológicos” de uma tentativa de golpe de estado e trama macabra para assassinar pessoas. Isto é muito sério e merece uma reflexão mais séria ainda. Como chegamos a isto?
Desde 2013 que estamos assistindo um setor significativo do catolicismo brasileiro se ligar a um movimento de extrema direita.
Aproximaram-se de figuras como Olavo de Carvalho (vejamos as fotos com o pe. Paulo Ricardo exibindo armas), aprenderam a usar as redes digitais, criaram canais ou ficaram como youtubers, organizaram formação dentro de um catolicismo reacionário e militante, atacaram pessoas como Pe. Júlio Lancellotti, a CNBB, Leonardo Boff, Dom Vicente Ferreira, Dom Joaquim Mol, Pe. Manoel Godoy, pastora Romi Bencke… e tantos outros/outras. Elaboraram todo um material de estudos no que tem de mais conservador dentro do catolicismo: livros, traduções, vídeos, palestras, cursos… Com uma beligerância pouco visto na Igreja Católica no Século XX/XXI.
Com esse “arsenal teológico”, o caminho não poderia ser outro: a extrema direita católica encontra-se (naturalmente) com a extrema direita política e bolsonarista. Ainda mais, essa extrema direita católica sempre foi auxiliar do pior bolsonarismo. Um desses grupo de extrema direta, conhecido como Centro Dom Bosco tentou levar Bolsonaro (ainda presidente da República) para o feriado de Aparecida para rezar um Rosário em frente a uma Igreja e com a cidade lotada de gente. Quase ocorre o triste e perigoso evento. Tudo devidamente registrado. Muitos católicos motivados por estas ideologias extremistas foram para a porta de quartéis pedir golpe e rezar por ele. Lembram? inesquecível.
O pe. José Eduardo não é uma exceção e nem é um desconhecido nas redes digitais. O que foi, na verdade, ele foi o mais ávido nas relações com o núcleo do bolsonarismo e seus militares. O padre não é vitima, mas consequência de suas escolhas políticas e de toda uma extrema direita católica. A melhor definição de quem é e o que faz o padre em questão, foi dada num inquérito policial (quem diria!):
“Como apontado pela autoridade policial, José Eduardo possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas’”.
Ministro Alexandre de Moraes. Sobre o Pe. José Eduardo no inquérito que apura a tentativa de golpe de estado. In: Metrópoles, 21/11/2024.
Todas estas ações de uma extrema direita católica já deveria merecer mais atenção da CNBB e suas pastorais sociais. O caso desse padre José Eduardo que atua no pior esgoto de uma extrema direita golpista e violenta, merece uma profunda reflexão na Igreja Católica no Brasil. A coisa tá ficando séria e chegando às barras dos tribunais. Atentemos.
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