Vivemos um sentimento paradoxal nestas duas semanas neste Brasil quase-sempre-em-transe. Por um lado, estamos vendo/vivendo uma história que se desvela para quem quiser reparar com atenção. Por outro lado, parece que nada ocorre fora das redes digitais. Um país bestializado com o que vem sabendo? Impotentes diante dos fatos revelados? Ou descrença completa nas instituições?
Independentemente do que faremos com tudo isto revelado no inquérito da Polícia Federal e com a revelação de uma trama golpista que envolvia assassinatos e tudo o mais, a situação nos joga na cara algo grave e que será a herança desse “bolsonarismo” que castiga ideologicamente este Brasil.
Porém, uma aparente coincidência não poderá passar despercebida por todos nós: tudo isto ocorre no ano em que lembramos os 60 anos do golpe militar de 1964. Um golpe que matou, exilou, torturou, fez desaparecer corpos, nos empurrou para um modernização conservadora sem paralelo na história e legou uma inflação brutal que esmagou a vida da classe trabalhadora e concentrou renda como nunca na história. Pena que tudo isto não mobilize movimentos de rua que possam colocar esses militares no seu devido lugar na história. E pior, nem o governo de plantão que tem origem nas esquerdas e nas lutas democráticas percebeu a chance histórica que foi jogada em seu colo. Ou percebeu e nada acredita que pode fazer devido a seus compromissos e alianças. Paciência.
Termino lembrando uma frase do filósofo Herbert Marcuse que lemos no prefácio ao livro de Karl Marx: “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”: “Como se chegou a essa situação em que a sociedade burguesa só pode ainda ser salva pela dominação autoritária, pelo exército, pela liquidação e traição das suas promessas e instituições liberais? (…) Isso é cômico, mas a própria comédia já é a tragédia, na qual tudo é jogado fora e sacrificado.” Em tempo!
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