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BRASIL

Eleições 2024: Não rir, nem lamentar-se, nem odiar, mas compreender 

Por Glória Trogo e Henrique Canary
A grande cidade (1964), Antônio Bandeira
E, para investigar aquilo que respeita a esta ciência [política] com a mesma liberdade de ânimo que é costume nas coisas matemáticas, procurei escrupulosamente não rir, não chorar nem detestar as ações humanas, mas entendê-las.
Baruch de Espinoza, filósofo racionalista

A derrota sofrida pela esquerda nessas eleições fez todos pensarem. O que aconteceu? O PT conquistou 248 prefeituras. Mais do que as 182 de 2020, mas muito longe das 624 de 2012. No outro extremo, o PL venceu em 512 municípios. Além disso, houve um avanço significativo do PSD de Gilberto Kassab e outros partidos que, apesar de serem classificados como “centrão”, pressionam o governo e a realidade à direita. O PSOL perdeu 8 vereadores e a única capital que governava, ficando em terceiro lugar em Belém. Boulos chegou ao 2º turno em São Paulo, mas não sem antes passar por um angustiante empate triplo no 1º turno, onde o fascista Marçal foi o fator imponderável e uma enorme frente antiesquerda se formou ao redor de Ricardo Nunes. Há muitos outros dados e, de qualquer ângulo que se analise, a derrota foi grande. O 1º turno, com algumas importantes exceções, revelou uma conjuntura pior do que há dois anos.

Diante de tudo isso, abriu-se na esquerda brasileira um debate sobre o balanço das eleições. Deixemos de lado as avaliações autoindulgentes que afirmam que houve um avanço da esquerda simplesmente porque o PT ampliou o número de prefeituras. São cidades menores, em geral fora do eixo que define a dinâmica geral da política brasileira. Dialoguemos com aqueles que aceitam que houve uma derrota. A questão é: por quê?

As derrotas desorientam, são mais difíceis de serem assimiladas e, portanto, explicadas. Uma parte importante da esquerda se apega exclusivamente a elementos endógenos, se conecta a uma ilusão infantil de que poderíamos ter evitado tudo. Bastava seguir as ideias corretas de um ou outro setor, aplicar esta ou aquela tática. Ou, quem sabe, a culpa foi do candidato? No twitter, o meme do humorista Daniel Duncan resume bem: “calma gente, falem devagar, não to conseguindo anotar tudo que a esquerda precisa fazer para ganhar as eleições”.

No polo oposto estão os que querem interditar qualquer debate, como se toda e qualquer crítica tivesse como consequência prática o fortalecimento da extrema-direita. Nos parece que é preciso evitar os dois erros e analisar os fatores exógenos, que independem das escolhas táticas da esquerda e também os endógenos, sempre lembrando que existem várias esquerdas, com atuações diferentes e alcances muito diferentes também. Vejamos.

O cenário internacional

A situação de maior gravidade e urgência internacional, (…), segue sendo o genocídio do povo palestino, que avança numa escala sem precedentes porque dessa vez é um massacre televisionado, com cobertura em tempo real pelas redes no mundo inteiro, sem que isso, ao menos até o momento, tenha feito o governo de Netanyahu parar. Ao contrário, Israel progride para transformar o Líbano numa nova Gaza.

A derrota brasileira não é um raio em céu azul. Ela acontece num contexto. Vivemos uma situação mundial de avanço da extrema-direita. Na Europa, as forças do atraso seguem sua marcha rumo à conquista de vários governos importantes. Já têm a Itália, a Hungria e mais recentemente conquistaram a Áustria. O Chega em Portugal e o Vox na Espanha ameaçam a Península Ibérica. A AfD avança do leste para o oeste da Alemanha. Na França, conseguiu-se evitar uma vitória imediata de Le Pen, mas a situação segue tão ruim que Macron deu um golpe de direita, roubando da Nova Frente Popular a prerrogativa de formação de governo, e nada aconteceu. Nos EUA, Trump avança perigosamente sobre os estados-pêndulo.

Na América Latina, foi possível evitar um golpe na Bolívia, mas não uma divisão autofágica no interior da esquerda. Milei segue firme em sua ofensiva na Argentina e não está dado que a resistência que surgiu lá até agora seja capaz de frear seu ímpeto destruidor. Na Colômbia, um novo ensaio de golpe de Estado contra Gustavo Petro, também com a participação do judiciário, como foi no Brasil. Em El Salvador, Nayib Bukele transforma o país em uma distopia político-social que é referência para o todo o fascismo latinoamericano.

A situação de maior gravidade e urgência internacional, no entanto, segue sendo o genocídio do povo palestino, que avança numa escala sem precedentes porque dessa vez é um massacre televisionado, com cobertura em tempo real pelas redes no mundo inteiro, sem que isso, ao menos até o momento, tenha feito o governo de Netanyahu parar. Ao contrário, Israel progride para transformar o Líbano numa nova Gaza.

No Brasil, além da derrota eleitoral, as queimadas criminosas, o avanço do neopentecostalismo fundamentalista, das milícias, da precarização da vida, das privatizações, do clientelismo e da violência política, tudo isso temperado com o cerco e o boicote ao governo por parte da Faria Lima e da grande imprensa corporativa.

“Ocupar o espaço antissistema”?

É fato que existe cansaço, desgaste ou mesmo ódio ao atual regime político e social? Sim. Na verdade, o brasileiro médio sempre amaldiçoou o sistema, xingou os políticos e praguejou “contra tudo o que está aí”. E hoje faz isso mais do que nunca. Mas há um problema.

Historicamente, essa rejeição ao “sistema” costumava vir acompanhada de uma visão mais ou menos progressista sobre as saídas para os problemas. As pessoas xingavam os políticos exatamente porque achavam que a educação e a saúde deveriam ser considerados direitos sociais, que os trabalhadores deveriam ser protegidos frente à ganância dos patrões, que mulheres, negros e LGBT’s deveriam ser defendidos contra a violência e a injustiça. A Constituição de 1988 é uma espécie de “fotografia” dessa consciência média que se estabeleceu no Brasil após o fim da ditadura militar. Foi sobre essa consciência média que se construiu o PT e mesmo a esquerda mais radical.

Ao contrário, as visões de mundo que pregavam o fim de quaisquer direitos, o ódio, o fanatismo religioso e a violência sempre foram vistos como algo fora da curva. Bolsonaro era uma piada durante os anos 1990 e 2000. Antes dele, Enéas Carneiro ficou famoso mais por seu bordão característico e seu colorido pessoal do que por suas ideias, que ninguém conhecia nem entendia direito.

O que temos hoje em termos de consciência média na base do bolsonarismo, movimento que constitui cerca de um terço da população? Uma massa política e economicamente reacionária, com elementos de fanatismo religioso, extremamente misógina e altamente racista e LGBTfóbica. A defesa da infância, dos direitos reprodutivos, da natureza, dos direitos trabalhistas, da igualdade e justiça social, da laicidade do Estado não constituem mais os grandes consensos nacionais que constituíam há poucos anos. As saídas que predominam são o empreendedorismo, a mistura de religião com política, o punitivismo, a ditadura militar, o fechamento do STF, a queima e venda da Amazônia e todo o tipo de barbaridade que antes não passava de piada de mal gosto.

Ou seja, a primeira coisa a se estabelecer com firmeza é que não existe um “espaço antissistema” abstrato, virtualmente “vazio” e que pode ser “preenchido” com este ou aquele conteúdo, de direita ou de esquerda. O que existe na verdade é um forte deslocamento da consciência média à direita. Cerca de um terço da população, com mais ou menos mediações, adotou a posição da guerra civil contra a esquerda, o “comunismo” e os direitos sociais. E a guerra civil contra o comunismo é exatamente a essência do fascismo.

Enfim, se quisermos falar de um “espaço antissistema”, precisamos qualificar esses termos. O “sistema” que se quer combater é a própria civilização. Para quase metade da população, o “sistema” não é o policial, o político ou o patrão como sempre frisaram nossos primos anarquistas, mas o fiscal do Ibama, o sindicalista, o professor de história, a mulher negra, o cotista, as LGBT’s, o assistente social, o cientista, o padre que distribui quentinhas aos moradores de rua.

Assim, não é possível “ocupar o espaço antissistema” porque ele não é um espaço vazio a ser ocupado e preenchido com um conteúdo diferente. Esse “espaço” já está preenchido, já tem conteúdo, já tem uma localização na luta política entre a civilização e a barbárie. Ele é o próprio fascismo.

Além disso, não é verdade que nenhuma força de esquerda tentou ocupar esse “espaço” com um conteúdo próprio. Nessas eleições, houve sim candidaturas da esquerda radical antissistema que criticavam “tudo o que está aí”, o “poder”, que defendiam uma localização de oposição de esquerda ao governo. E qual o seu resultado? Desprezível. Injustiças do sistema eleitoral que beneficia os grandes partidos? Esse elemento existe, mas não é absoluto. A profunda decadência e virtual desaparecimento da esquerda sectária é um fenômeno que já dura vários anos e vai muito além das barreiras eleitorais. Tem a ver com a inadequação e descolamento da realidade política nacional e sua completa dissonância cognitiva.

Isso não significa que temos que nos comportar como uma esquerda institucional e defensora do que existe de pior no sistema: a corrupção, os privilégios, os desmandos, o clientelismo. A crítica ao sistema deve estar presente em nosso discurso, mas deixando muito claro que somos, ao mesmo tempo, defensores das conquistas civilizacionais incorporadas com muita luta por esse sistema: os direitos sociais, os mecanismos de diminuição da desigualdade, a proteção dos mais vulneráveis, a defesa do meio ambiente, da ciência e da cultura. Temos que combater o discurso de que esses mecanismos existem para “segurar o trabalhador embaixo”, como disse Marçal na campanha. Ao contrário, somos a esquerda da ampliação desses mecanismos e sua incorporação como conquistas civilizacionais que são.

Além disso, no âmbito da propaganda, é preciso recolocar a luta pelo socialismo como horizonte. Hoje o fato é que não só as massas, mas a própria vanguarda das lutas e o ativismo de esquerda não estão convencidos dessa perspectiva. O socialismo não pode ser um tema para ser lembrado “nos dias de festa”, como fazia a social-democracia histórica, mas parte permanente de nossa luta ideológica, formação e propaganda.

Os limites do governo Lula e das alianças com o centrão

nunca foi tão importante defender enfaticamente que o governo Lula implemente medidas de combate à pobreza; defenda as funções sociais do Estado; questione a agenda de privatizações dos governos estaduais, que, na sua maioria, são de direita; implemente um giro na política ambiental, com mais regulação, proteção e uma atualização programática de fundo sobre o papel do Brasil na transição energética e no combate à crise climática.

Muitos ativistas e correntes de esquerda se queixam do fato de que algumas ações do governo Lula acabam fortalecendo a direita, como o arcabouço fiscal, as concessões ao centrão, o recuo nas pautas ideológicas, certas nomeações e outros. É verdade. O governo Lula tem vacilado na luta contra a extrema-direita e no simples cumprimento das promessas de campanha feitas pelo próprio Lula. Seria um equívoco negar essa realidade.

O problema é que, se com o governo Lula já é difícil, sem ele é impossível. É isso que está em jogo. Sem Lula, teria sido impossível vencer a máquina governamental nas eleições de 2022. O voto em Lula não foi um voto programático, na esquerda. Foi um voto estritamente pessoal. Graças a isso, o monstro foi temporariamente derrotado.

Outra verdade difícil de engolir: sem a ampla aliança com setores da burguesia que romperam com o law fare lavajatista e o bolsonarismo, também não haveria vitória em 2022 e Bolsonaro seria hoje governo. Teria sido melhor? Com certeza, não.

Assim, na luta contra o fascismo, o governo Lula se mostra um aliado instável e vacilante, mas ao mesmo tempo imprescindível, absolutamente inescapável, dadas as atuais condições de temperatura e pressão (nível de consciência, organização e disposição de luta da classe trabalhadora). O problema é que Lula aposta numa grande unidade para derrotar a extrema-direita, mas os interlocutores de direita e de centro não estão dispostos a se comprometer com os pontos mínimos da agenda que elegeu o presidente. Então temos um paradoxo: a aliança que foi condição da vitória pode se transformar, no curso do mandato, em preparação da derrota.

Mas isso não quer dizer que não há o que fazer. Ao contrário, nunca foi tão importante a luta política, nunca foi tão importante defender enfaticamente que o governo Lula implemente medidas de combate à pobreza; defenda as funções sociais do Estado; questione a agenda de privatizações dos governos estaduais, que, na sua maioria, são de direita; implemente um giro na política ambiental, com mais regulação, proteção e uma atualização programática de fundo sobre o papel do Brasil na transição energética e no combate à crise climática.

É urgente também superar a separação entre a classe trabalhadora e as pautas erroneamente chamadas de “identitárias”. O balanço de intelectuais que buscam aprofundar essa divisão parte de uma incompreensão programática de um dos elementos mais progressivos da realidade política do século 21. Existem milhares de jovens que despertaram para a vida política através da agenda antirracista, feminista e antilgbtfóbica, através de batalhas que apenas parecem “identitárias”, mas que estão profundamente conectadas à vida da classe trabalhadora. Quem morre pelas mãos da violência policial nas periferias são trabalhadores; quem paga com a vida o preconceito contra pessoas trans e LGBT’s são trabalhadores; as mulheres vítimas do feminicídio e da violência doméstica são, na sua imensa maioria, trabalhadoras. As demandas da classe não são apenas as da agenda econômica ou puramente sindical, e desse ponto de vista essa sequer é uma lição nova. Lênin já apontava, há mais de cem anos, para a importância das batalhas políticas e para os limites de uma visão puramente econômica das pautas e demandas do povo. A luta pelo socialismo é uma luta total.

O problema tem sido, de fato, que o governo tem invariavelmente recuado diante da ofensiva do centrão, da Faria Lima, da Rede Globo e da própria direita. Mas isso não quer dizer que o governo não seja um instrumento útil e absolutamente necessário na atual etapa. Tal é a dialética do processo: um aliado vacilante e instável, mas o sem o qual a vitória é impossível.

A derrota de 2024: faltou algo, mas o que exatamente?

Muitos ativistas e correntes, na ânsia de praticamente igualar lulismo e bolsonarismo, citam o fato de que o PT saiu aliado ao PL em 85 cidades no país. Realmente, esse foi um erro importante do PT e o criticamos desde o início. Desde que começamos a discutir as eleições de 2024, o PSOL defendeu uma política de unidade da esquerda em todo o país. Em nossa opinião, o resultado mostra que essa era a política correta. Os lugares em que a esquerda se saiu melhor foram exatamente os lugares onde houve uma verdadeira unidade de esquerda e democrática: São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Natal. Onde o PT preferiu sair aliado com os partidos da direita tradicional, o resultado foi muito pior, como em Curitiba, onde o 2º turno acabou sendo disputado entre dois candidatos bolsonaristas. Mesmo onde o PT “venceu” (por exemplo, no Rio), não foi exatamente uma vitória sua, mas daqueles que estão apenas tática e provisoriamente aliados ao governo.

Assim, não concordamos com aqueles que dizem que o grande problema dessas eleições foi o tom moderado de um ou outro candidato. Evidentemente ocorreram erros, mas eles não são o fator determinante da nossa defensiva. Quem critica o resultado do Boulos no 1º turno acaba criticando os melhores resultados da esquerda, queimando a largada antes mesmo da disputa final, quando na verdade já ficou evidente o erro nos casos em que a esquerda sequer conseguiu se unir ou optou por nem se apresentar, deixando o espaço da luta política totalmente vazio numa eleição em que isso foi determinante. Esse foi o grande erro e o grande problema.

Em São Paulo, o PSOL avançou em regiões importantes, graças exatamente ao fato de que buscamos dialogar com as questões reais colocadas pela população: creche, postos de saúde, escolas, urbanização, cultura negra, violência doméstica etc. Ao mesmo tempo, não se pode dizer que a campanha não foi politizada. Ninguém é bobo. O povo entendeu exatamente o que estava em jogo. Em certa medida, foi um plebiscito entre esquerda e direita. E saímos do primeiro turno com uma derrota nacional e com um resultado preocupante em São Paulo. Esse é o fato que é preciso encarar.

Assim, ao criticar as tentativas de Boulos de dialogar com os sentimentos mais fundamentais da população, uma parte da esquerda o critica pelos motivos errados. A campanha em São Paulo está enfrentando uma poderosa frente unica de direita, que junta toda a mídia tradicional, o governador Tarcísio e as alas mais radicalizadas da extrema direita. Nesse contexto, é correto fazer uma campanha que tente “furar a bolha” do eleitorado que já é de esquerda desde sempre.

Luta política e ideológica até 2026: o papel do governo Lula

É preciso, portanto, além das medidas econômicas e sociais relacionadas ao cumprimento do programa de 2022, uma forte luta ideológica que tenha o governo à frente.

A principal conclusão dessas eleições não é, portanto, de que “não ocupamos o espaço antissistema que era nosso”. A conclusão é muito mais sombria: perdemos a luta política e ideológica porque as pessoas não concordam com nossas ideias. É preciso, portanto, além das medidas econômicas e sociais relacionadas ao cumprimento do programa de 2022, uma forte luta ideológica que tenha o governo à frente.

É preciso não ter receio. O peso de Lula é tão grande que é capaz de virar ideologicamente o jogo. Quando Lula faz luta política a fundo, a realidade muda. Foi assim nas próprias eleições de 2022, mas não só. Lula mostrou sua capacidade de influenciar o pensamento das grandes massas nos vários episódios envolvendo o boicote do Banco Central contra a economia brasileira, nas inúmeras vezes que denunciou o genocídio em Gaza. Mas é preciso e possível muito mais.

É preciso e possível lutar pela recomposição da nossa capacidade de mobilização. E isso também é uma escolha política. Qualquer aprovação de pautas progressistas no Congresso Nacional dependerá muito mais da luta fora do congresso do que dentro. Se está no nosso horizonte restabelecer direitos sociais perdidos, ampliar o papel social do Estado, melhorar as condições de vida da população e ter um balanço categórico para apresentar em 2026, a aposta estratégica do governo precisa mudar porque nada disso será possível no marco dos acordos com o centrão e dos limites da Faria Lima. Mas para isso, Lula e o PT precisam ir a campo porque são eles que têm a maior articulação com os movimentos sociais e compõem a imensa maioria das forças organizadas da classe trabalhadora.

É preciso fazer a classe trabalhadora e a esquerda voltarem às ruas, à cena política nacional, se apresentarem como candidatos à conquista da hegemonia política, ideológica e social, monopolizada hoje pela extrema-direita.

Se isso for feito, o PSOL deve se comprometer a ser parte desse processo desde suas modestas posições nos movimentos sociais e nas instituições.