Um diálogo sobre o segundo turno de Aracaju (SE)

Escrevo esse texto para tentar dialogar de forma mais ampla sobre a nossa situação política nas eleições do segundo turno em Aracaju


Publicado em: 15 de outubro de 2024

Brasil

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Por Alexis Pedrão, de Aracaju (SE)

Brasil

Esquerda Online

Por Alexis Pedrão, de Aracaju (SE)

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:
“Por isso cuidado meu bem
há perigo na esquina”
Belchior

Primeiro, o resultado das eleições foi muito ruim para a esquerda, para as forças populares. No Brasil, saiu com mais força o centrão e o setor bolsonarista. Apesar da importante vitória de Lula, a extrema direita bolsonarista segue com muito fôlego e enraizada. Nas eleições atuais, buscam preparar o palanque para a presidência de 2026. Nada é mais importante no país do que derrotar Bolsonaro, seu partido e suas candidaturas. Embora nem todo eleitor de Bolsonaro seja fascista, sabemos que a direção desse movimento tem como linha política o autoritarismo para favorecer a grande burguesia do agronegócio e do mercado financeiro.

Em Sergipe, jamais esqueceremos da tragédia do governo Bolsonaro, especialmente o período da pandemia. Milhares de mortes pelo coronavírus. Fechou a Petrobrás, atrasando o desenvolvimento do estado e gerando mais pobreza. Chegamos a ser um dos estados entre as maiores taxas de desemprego do Brasil. Corajosamente fomos às ruas, realizamos uma série de campanhas de solidariedade, manifestações pelo “fora Bolsonaro” e pela primeira vez, em 2020, ocupamos um espaço político institucional com a eleição de Linda Brasil em Aracaju. Tenho orgulho de ter contribuído com esse processo à época com a candidatura a prefeito pelo PSOL. O resultado foi impactante. A nossa mensagem chegou a muito mais pessoas, dobramos as filiações do partido e tivemos a vereadora mais votada da cidade. O principal eixo da nossa campanha naquele ano foi “Primeiramente, Fora Bolsonaro!”.

Portanto, não concordo com argumentos de que “uma coisa é a eleição nacional, outra é Aracaju”, ou então “o que tem a ver Bolsonaro com Aracaju?”. As coisas estão bastante interligadas. A eleição de São Paulo demonstra exatamente como todo o movimento bolsonarista nacional está girado com todas as forças para tentar impedir a vitória de Boulos para a prefeitura. Em Sergipe, Bolsonaro foi derrotado nos 75 municípios nas eleições de 2022. Não podemos titubear nesse momento. Em Aracaju, a candidata de Bolsonaro e do bolsonarismo é Emília Correia do PL. Gravou um vídeo no dia 06 de agosto e postou no seu instagram, junto com Bolsonaro. Depois, escondeu a figura dele durante toda a campanha para não chamar atenção. Mas é do mesmo partido e já foi abraçada, desde o primeiro turno, pela grande maioria das lideranças bolsonaristas de Sergipe.

“Mas se for assim, do lado de Luiz estão bolsonaristas também como Laércio Oliveira”. Esse argumento é completamente verdadeiro. Laércio opera uma das políticas mais conservadoras e contrária a classe trabalhadora sergipana. Contudo, Bolsonaro e o bolsonarismo não tem duas candidaturas em Aracaju, somente uma, que é Emília. E isso é de uma qualidade política diferente. Assim, o PSOL fez uma opção por Edvaldo no segundo turno de Aracaju em 2020, e por Rogério em 2022 para o governo de Sergipe. Sempre que o bolsonarismo esteve de um lado, nós estivemos do outro. Não é diferente para 2024. Essa polarização é real e temos que incidir. Não temos a opção de vacilar diante da extrema-direita, um elemento político que se manifesta localmente, mas que é nacional e mundial, vide as eleições e disputas na América Latina, Europa e Estados Unidos.

Ainda temos outro argumento: “Mas Bolsonaro é Bolsonaro e Emília é Emília”. Pura verdade. São duas pessoas completamente diferentes. Inclusive Emília nunca foi linha de frente de bolsonarismo em Sergipe. É preciso ter equilíbrio e dizer as coisas como elas são. Agora dizer que são pessoas diferentes, não tem a ver com projetos políticos diferentes. Se ela não esteve tão próxima no passado, agora estão juntos. No partido de Bolsonaro só permanece quem obedece à linha política estabelecida pelo chefe. A crítica não é pessoal em relação à Emília, mas ao projeto político que está no seu entorno e que ela está representando. A política de escolas militares, de perseguição a movimentos de trabalhadores, de privatização desenfreada, de negação da crise climática e ambiental, etc. esse é o projeto político de Bolsonaro e do PL. Ademais, a história política de Emília é ligada à direita sergipana. Foi candidata em 2012 pelo DEM, fortíssima apoiadora de João Alves, que foi a pior gestão da história de Aracaju nos anos entre 2012 e 2016. E, como sabemos, João Alves foi prefeito biônico na ditadura militar. Essas são as raízes do projeto político de Emília.

Infelizmente, a esquerda enquanto programa político, está fora do segundo turno. Devemos fazer um balanço da falta de unidade e cobrar as direções partidárias a responsabilidade. Mas, dentro das condições dadas, o PSOL fez uma campanha muito forte. Inclusive o PSOL foi o partido de esquerda que mais cresceu e ampliou tanto a votação majoritária quanto a bancada de vereadores com Sonia Meire e Iran Barbosa. Junto com Camilo, serão vozes fundamentais a partir do próximo ano. Contudo, a culpa de estarmos nessa situação é justamente da atual gestão. Uma gestão que abriu espaço para que o movimento bolsonarista se apresente como “alternativa”, como se fosse “contra o sistemão”, uma conversa fiada repetida à exaustão que até mesmo tem quem acredite.

nada é mais importante do que derrotar a extrema-direita, Bolsonaro, seu partido e seus candidatos por todo o país. Por isso, vou votar 12. Não por defender a gestão. Seria hipocrisia de minha parte. Seguimos firmes na oposição.

Compreendo quem não vota no candidato de Mitidieri, pois estamos em meio a diversos ataques, como o desrespeito pelas professoras/es, a venda da DESO e as denúncias de violência policial. Também compreendo as comunidades em luta e os funcionários públicos de Aracaju. Votar nulo talvez seja algo a se considerar. É legítimo, mas peço que reflitam. Há uma hierarquia na política. E repito: nada é mais importante do que derrotar a extrema-direita, Bolsonaro, seu partido e seus candidatos por todo o país. Por isso, vou votar 12. Não por defender a gestão. Seria hipocrisia de minha parte. Seguimos firmes na oposição. É possível derrotar o bolsonarismo sergipano sem nutrir ilusões com o projeto político de Edvaldo e Luiz. Mas faço o convite à reflexão: há perigo na esquina. Ainda temos tempo de evitar o retrocesso.

Alexis Pedrão é professor, militante do movimento negro, foi candidato a prefeito de Aracaju pelo PSOL em 2020 e candidato a vice-prefeito de Aracaju pelo PSOL em 2024

Compartilhe:

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição