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Uma nota sobre a parceria Canção Nova/Brasil Paralelo

Romero Venâncio

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

Li no grupo “Política e religião” uma nota pública do “Observatório da comunicação religiosa”, setor ligado à Conferência dos Religiosos do Brasil-CRB, sobre uma “parceria” entre a comunidade “Canção nova” e o “Brasil Paralelo” e vi a mesma nota espalhar-se em outros grupos nestas redes digitais. A nota é de agosto deste 2024. Fiquei surpreso, não com a nota (correta e em tempo) e nem com a parceria Canção nova/Brasil Paralelo. A surpresa foi com a surpresa de muita gente católica (em particular, a “esquerda católica”).

Parece que um amplo setor do catolicismo no Brasil comprou barato o silêncio, a impotência e a conivência das últimas gestões da CNBB diante do crescimento vertiginoso de uma virulenta extrema direita católica desde 2013, pelo menos. A Canção nova é bem anterior e vem de longo trabalho desde a gestão do Pe. Jonas Abib (que nunca escondeu suas posições políticas e teológicas sempre à direita).

Grupos de pesquisa na PUC de São Paulo e pesquisadores independentes vem alertando com suas pesquisas, textos, entrevistas a situação desta extrema direita, suas táticas, seu trabalho de formação quase que diária nas redes digitais e o apoio desse “novo clero” (como bem definiu o Agenor Brighenti). A paralisia da CNBB e sua aparente alienação perante esse fenômeno é que poderia surpreender. Poderia. É público e notório as origens do brasil paralelo (desde as astúcias de Olavo de Carvalho). Uma onda tradicionalista varre a Igreja Católica no Brasil (e no mundo). Vemos nas paróquias, dioceses e redes digitais. Surpresa?

O que vemos, também, é uma “esquerda católica” reativa e sem querer discutir uma estratégia séria e eficaz de combate a este fenômeno de extrema direita dentro do catolicismo no Brasil. Ficar resmungando nas redes digitais e nada fazer, pouco adianta. Vi em alguns grupos nestas redes várias pessoas (de esquerda!) reclamando de postagens sobre o crescimento dessa extrema direita. A tese era: não falar deles para não permitir que tenham visibilidade… Ufa! isto vindo de uma “esquerda católica”. E pior, como se divulgar pesquisas e textos sobre a extrema direita católica ajudasse no crescimento deles e como se eles precisassem disto.

Nossa! Ou é ingenuidade ou incapacidade perceber o papel das redes digitais e ação das direitas. Paciência. Salvo melhor juizo, o IHU/Unisinos tem sistematicamente alertado com seus textos, entrevistas e lives sobre este fenômeno e já deveríamos ter percebido a gravidade da coisa. Silenciar sobre ela é uma posição. Como dizia o velho Sartre: “Assim como a palavra tem consequências, o silêncio também…” e a ingenuidade em momentos graves, idem. Quando o centro Dom Bosco do Rio entrar no consórcio, não nos surpreendamos. Em frente. Em tempo. Ainda temos o Papa Francisco entre nós. Só lembrando.