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EDITORIAL

Marçal é uma ameaça fascista. A vitória de Boulos é chave para o Brasil

Editorial Esquerda Online
PSOL SP

A onda Pablo Marçal na cidade de São Paulo é o fato político nacional mais importante das eleições até aqui. Ela expressa de forma perturbadora o cenário político ainda marcado pela ascensão da extrema direita. Esse novo e bizarro fenômeno fascista ameaça a maior cidade do país e, dessa maneira, o Brasil de conjunto. Enfrentá-lo e derrotá-lo é a principal tarefa da conjuntura. Apenas a vitória de Boulos pode impedir o triunfo do bolsonarismo.

O cenário eleitoral

A eleição em São Paulo já apresentava novidades antes mesmo do aparecimento de Marçal. A polarização política nacional vinha se manifestando de forma distinta das eleições anteriores. A candidatura que unificou a esquerda, pela primeira vez, não foi a do PT. Mas a de Guilherme Boulos, do PSOL, com apoio de Lula e seu partido.

Já o nome da direita tradicional não foi mais o do PSDB, que virou nanico. Mas, sim, o de Ricardo Nunes, candidato da aliança do bolsonarismo com o centrão.

Vale notar que o PL e Bolsonaro atuaram para barrar outras candidaturas do bolsonarismo “raiz”, como a de Ricardo Salles. Apostaram na reeleição de Nunes, filiado ao MDB, avaliando a dificuldade da disputa numa cidade em que Lula venceu e visando também a construção de alianças mais amplas para a disputa presidencial em 2026.

O fato surpreendente, porém, é que Pablo Marçal, ao se postular como candidato radical da extrema direita, mesmo sem o apoio formal de Bolsonaro, conseguiu, de forma meteórica, angariar o apoio da maioria da base bolsonarista e engajar essa massa neofascista. Marçal está no jogo e luta pela vitória.

Até poucas semanas atrás, Nunes escondia o apoio de Bolsonaro, tendo em vista a alta rejeição dele na cidade. Mas, perante a onda Marçal, que está engolindo a base bolsonarista, o candidato do MDB foi obrigado a dar visibilidade a Jair. Entretanto, a família Bolsonaro, que, num primeiro momento tentou se afastar de Pablo, recalculou a rota. Observando o avanço avassalador de Marçal em sua própria base, os Bolsonaro colocaram “um pé” na canoa do coach criminoso.

A subida explosiva de Marçal não representa somente uma reviravolta no tabuleiro eleitoral. Mostra que a base bolsonarista está radicalizada. Ela abraçou um nome abertamente fascista, que foi lançado sem autorização da sua liderança suprema, Jair Bolsonaro.

A subida explosiva de Marçal não representa somente uma reviravolta no tabuleiro eleitoral. Mostra que a base bolsonarista está radicalizada. Ela abraçou um nome abertamente fascista, que foi lançado sem autorização da sua liderança suprema, Jair Bolsonaro. Entre um nome do centrão apoiado por Bolsonaro e a nova e radicalizada liderança emergente, está preferindo a candidatura mais extremista. Esse processo revela, assim, a radicalização política e ideológica do bolsonarismo.

Se a costura da candidatura Nunes, com Tarcísio de Freitas à frente, demonstrou a capacidade do bolsonarismo de articular uma ampla aliança, reunindo 12 partidos e contando com o suporte da quase totalidade da burguesia da cidade, a candidatura de Marçal apresenta uma outra e ainda mais perigosa face da extrema direita. Pablo vende a promessa de enriquecimento fácil pela via do auto-empresariamento, afirma que os direitos sociais e trabalhistas aprisionam as pessoas na pobreza, diz que quer libertar todos das amarras do Estado, privatizando tudo. Marçal vende “terreno na lua” com técnicas sofisticadas de marketing digital nas redes sociais.

Propaga, ardilosamente, uma espécie de teologia da prosperidade, na qual, por meio do empreendedorismo, do individualismo, do capitalismo selvagem, as pessoas vão melhorar de vida, ou melhor, todas elas poderão, num passe de mágica, se tornar milionárias como ele! Marçal dissemina essas ideias se utilizando de sua origem humilde,  da imagem de uma pessoa supostamente cristã, que ouve rap, trabalhou no telemarketing e ensina jovens pobres a se enriquecer na internet.

Dessa maneira, ele busca construir uma conexão com a população pobre e periférica da cidade. O objetivo é superar o espaço ocupado por Bolsonaro em 2022, ao dialogar com um público que vai além da base fiel do bolsonarismo. Importa notar que os apoiadores de Marçal estão ativamente engajados na campanha, repetindo seus gestos e consignas pelas ruas e atuando febrilmente nas redes sociais. Enquanto os apoiadores da esquerda ainda estão, ao menos por enquanto, tímidos na campanha.

para lutarmos seriamente pela vitória de Boulos, que é plenamente possível, é preciso encarar de frente a realidade, compreendendo o inimigo e seus elementos de força

Sublinhamos essa análise realista não para profetizar a derrota da esquerda na eleição de SP. Ao contrário, para lutarmos seriamente pela vitória de Boulos, que é plenamente possível, é preciso encarar de frente a realidade, compreendendo o inimigo e seus elementos de força. Só assim é possível atuar com a política correta para derrotar Marçal.

A  luta central da esquerda é contra o bolsonarismo, que tem duas candidaturas, a de Nunes e a de Marçal. Mas elas não são iguais. Enquanto Nunes tem a seu favor a máquina da prefeitura, um enorme tempo de TV, o acordo com 12 partidos e o apoio formal de Tarcísio e Bolsonaro, Marçal conta com um movimento reacionário mobilizado e com uma influência massas em base a ideias ultra-neoliberais. Os dois representam, como afirma a campanha de Boulos, duas faces da mesma moeda. Mas não podemos ter dúvida de que Pablo Marçal é a expressão mais perigosa do bolsonarismo nessas eleições, na medida em que encarna uma alternativa diretamente neofascista. Em outras palavras, Marçal é o candidato fascista “puro sangue”, enquanto Nunes é o nome da aliança do centrão com o PL de Bolsonaro e Tarcísio.

Quem vai ao 2° turno?

É provável que Boulos assegure um lugar no segundo turno. As pesquisas mostram que Bolsonaro segue com uma rejeição majoritária na cidade. Segundo o último Datafolha, 63% não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro. Lula venceu em SP em 2022 e agora apoia Boulos, sendo esse suporte do presidente fundamental para o seu crescimento eleitoral. Em 2020, Boulos foi ao segundo turno, mesmo com pouquíssimo tempo na TV e sem contar com apoio do PT, o que indica que ele parte de um patamar expressivo. Esses são elementos favoráveis ao candidato do PSOL. Porém, nada está garantido de antemão, nem mesmo a ida ao 2° turno.

Há no campo da extrema direita, por sua vez, uma intensa luta. Pablo Marçal, nesse momento, em várias pesquisas, aparece na frente de Nunes. A dinâmica, ao menos por ora, aponta nesse sentido. Tanto que já existe um clima de “pânico” na campanha do prefeito. Porém, ainda faltam 4 semanas de campanha. Nunes deve partir para o ataque frontal contra Marçal, se utilizando do latifúndio de tempo que tem na TV e rádio. Isso surtirá efeito? Como se comportarão a elite paulista e a classe média, vão abandonar a candidatura Nunes? A família Bolsonaro manterá um pé em cada canoa, ou apoiará mais firmemente um dos dois nomes da extrema direita no 1° turno? É preciso aguardar para ter as respostas a essas perguntas.

>> Leia também: É hora de fortalecer Boulos nas ruas e desmascarar os bolsonaristas

Convém observar que o ato bolsonarista neste 7 de setembro terá grande importância nas definições políticas da extrema direita. O mote da manifestação é a defesa do impeachment de Alexandre de Morais. Tanto Nunes como Marçal confirmaram presença no ato, que está sendo convocado diretamente por Bolsonaro. Será preciso observar o tamanho da manifestação. Ela contará com centenas de milhares de pessoas, assim como foi o último grande ato bolsonarista na Paulista? Se for enorme, será uma péssima notícia para a esquerda. Outra questão relevante: como a base bolsonarista recepcionará Nunes e Marçal? A maior probabilidade é que o primeiro seja rejeitado enquanto o último seja ovacionado pelo público fascista. O que possivelmente selaria o destino do atual prefeito.

A luta pela vitória de Boulos

Consideramos muito acertado o giro mobilizador da campanha Boulos a partir do chamado ao ato “Em defesa da Democracia, contra os Bolsonarismos”, que ocorreu no último sábado (31) e reuniu milhares de ativistas na Praça Roosevelt. É fundamental buscar o engajamento das pessoas de esquerda na campanha de Boulos, tanto nas ruas, como nas redes. Temos que construir um movimento crescente para contagiar e encher de esperança amplas parcelas do povo trabalhador, da juventude, das periferias da cidade.

É preciso enfrentar a onda de extrema direita em SP com uma campanha mobilizadora, que faça a disputa de valores na massa do povo. Contra a falsa promessa de prosperidade, levantar a bandeira da solidariedade e dos direitos sociais. Se a extrema direita oferece o caminho da competição de todos contra todos, a esquerda apresenta o compromisso com a justiça social. É chave mostrar o banditismo de Marçal, mas não é o suficiente. É necessário desconstruir os valores que ele propaga e mostrar um outro caminho: o programa da esperança para mudar tudo que precisa ser mudado.

Consideramos muito acertado o giro mobilizador da campanha Boulos a partir do chamado ao ato “Em defesa da Democracia, contra os Bolsonarismos”, que ocorreu no último sábado (31) e reuniu milhares de ativistas na Praça Roosevelt. É fundamental buscar o engajamento das pessoas de esquerda na campanha de Boulos, tanto nas ruas, como nas redes. Temos que construir um movimento crescente para contagiar e encher de esperança amplas parcelas do povo trabalhador, da juventude, das periferias da cidade.

Perante os ataques vis da extrema direita e da direita a Boulos, não vemos outra alternativa a não ser mostrar com o orgulho a trajetória desse lutador, que desde muito jovem dedica com abnegação sua vida às causas das pessoas mais pobres, como a luta pela moradia, e que enfrentou com coragem, nas ruas, o bolsonarismo nos últimos anos. Esse perfil autêntico de Boulos o fortalece na disputa, e não ao contrário.

Outro fator fundamental para construir a vitória de Boulos é ganhar o eleitorado que votou em Lula, especialmente nas regiões periféricas. A participação ativa do presidente e do PT na campanha é decisiva.

Nós, da Resistência, corrente interna do PSOL, estamos engajados nessa batalha para impedir que o fascismo chegue ao poder na maior cidade do país, o que seria um passo importante para o bolsonarismo retornar à Presidência do país daqui a dois anos. Atuamos ativamente na construção da mobilização nessa campanha, em especial entre as mulheres, LGBTs, juventude, sindicatos e movimentos sociais. Vamos à luta para eleger Boulos e derrotar o fascismo! Marçal e Nunes: não passarão!