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MOVIMENTO

Um movimento estudantil para o estudantes

Atos do dia 14 de agosto escancaram o fraccionismo do M.E. Recifense

Arthur "Tuca" Antas, de Recife (PE)
@ujspernambuco

A ascensão do fascimo no Recife, no Brasil e no mundo, a política de austeridade de Fernando Haddad, a “autonomia” do Banco Central, a crise do transporte público da RMR, nada disso foi capaz de hierarquizar as reivindicações do Movimento Estudantil e nem construir uma unidade em torno das pautas comuns. No último 14 de agosto as forças políticas em todo Brasil convocaram atos em alusão ao 11 de agosto, dia do estudante e aniversário da União Nacional dos Estudantes, a priori, contra os cortes na educação. No Recife, no entanto, dois atos foram convocados, na sede do Banco Central no Recife e na Rua do Hospício, escancarando o interdito no diálogo entre os campos políticos da UNE na capital pernambucana.

No meio do fogo cruzado a vida do estudante parece secundarizada. A corrida pelo protagonismo nas manifestações faz com que os atos sejam sempre esvaziados, restritos apenas aos grupos organizados, dialogando pouco ou quase nada com as demandas estudantis imediatas. Não é criada a urgência de lutar pelos temas propostos pelos atos no estudante médio. O que fica é só o gosto amargo da disputa pela liderança das movimentações na cidade. A falta de diálogo e acordos entre as partes fraciona o movimento, descredibiliza e esvazia o sentido do M.E. no seio dos estudantes recifenses.

Os atos esvaziados são sintomas, mas não os únicos. A crise vai além.

A ausência de diálogos entre os campos da Majoritária e da Oposição de Esquerda produz uma crise tremenda que breca as conquistas do movimento estudantil e que gera uma cultura política de ruptura, inação e fechamento de entidades estudantis. Em 2024, completam-se 11 anos do racha da União dos Estudantes de Pernambuco, que desde 2013 vem atuando com duas diretorias, na UEP Azul, liderada pela UJS e na UEP Vermelha, liderada pelo Movimento Correnteza. O DCE da UFRPE foi desativado há 4 anos e não dá sinais de volta, enquanto o DCE da UFPE está sob gestão pró tempore, após uma eleição ocorrida em uma data com poucos estudantes, fazendo com o que o quórum não fosse cumprido, e suposto roubo de uma urna por parte do MEPR.

A crise institucional gerada pela tensão entre as forças provoca consequentemente uma crise de representação dos estudantes com as instâncias do M.E., que conta cada vez mais com eleições despolitizadas, debate restrito aos coletivos e pouca participação orgânica dos independentes nos debates. As consequências disso são sentidas além da capital pernambucana, quando pensamos nos campus dos interiores a falta de referência no movimento estudantil faz com que os estudantes não tenham espaços auto organizados que sejam capazes de fazer um enfrentamento real dos problemas. Gerando assim, portanto, uma situação de precarização absurda vivida por este setor.

Um chamado para unidade!

Para reconquistar a credibilidade, a confiança dos estudantes e trilhar um caminho de vitórias, o Movimento Estudantil pernambucano deve pôr de lado o clima de clássico das multidões1 e hierarquizar a vida do estudante ao invés da autoconstrução. Somente com as entidades ativas que o movimento poderá pautar as demandas ativamente, ao contrário de ficar somente reativo se defendendo das ameaças. Precisamos de um movimento para frente, capaz de representar os estudantes e as lutas da cidade. Apenas com a unidade entre os campos da UNE é possível oferecer uma alternativa sólida e eficaz ao estudante e reconstruir a identidade de luta do universitário.

A UEP Cândido Pinto é a entidade capaz de articular as movimentações dos estudantes do interior e da capital, do campo e da cidade. Para isso, precisamos urgentemente dar um fim em 2013. Para termos uma entidade representativa e democrática um novo congresso deve ser convocado, de forma transparente e de ampla participação, com o objetivo de formar novamente uma única instituição. E a nova diretoria, de reestruturação, necessita também de ser ampla e diversa na sua composição, representando todos os movimentos de esquerda.

No mesmo sentido, precisamos reinaugurar o DCE Odijas Carvalho de Souza da UFRPE, com a mesma força de unidade da UEP Cândido Pinto. Garantindo a ampla participação de estudantes nas metodologias, bem como, garantir a lisura do processo que se aproxima no pleito do DCE Humberto Câmara Neto da UFPE. Para construir um movimento estudantil para os estudantes é necessário cada vez mais diálogo e articulações entre os mais diversos campos, sem abrir mão das disputas legítimas, porém, sem partir por uma tática fracionista que segue liquidando o movimento estudantil.

1 Partida de futebol entre Santa Cruz x Sport, clubes mais populares do estado e que nutrem a maior rivalidade de Pernambuco.