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Com Maduro em defesa da Revolução Bolivariana

PSUV

Gabriel Santos

Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

Neste domingo, 28, acontecem as eleições presidenciais na Venezuela. A mais importante do país nos últimos anos e que determinam os rumos não somente de nosso vizinho, mas de toda América Latina. São dez candidaturas na disputa pelo voto de 21,4 milhões de eleitores para o mandato de seis anos. A disputa está entre a continuidade do processo bolivariano iniciado há mais de duas décadas, representados pelo atual presidente Nicolas Maduro, e a oposição de extrema direita que têm Edmundo González como seu principal nome.

Gonzales é o nome apoiado por Maria Corina, vencedora das prévias internas da oposição de direita, mas que foi impugnada por irregularidades em sua mandato parlamentar. Tanto Marina quanto Gonzalez são alinhados aos interesses estadunidenses, vinculados a grupos capitalistas do país e com um programa de regressão social e destruição dos avanços conquistados pela revolução bolivariana.

Apesar do que diz a grande mídia brasileira, Maria Corina e González nada têm a ver com democracia, pelo contrário. Seu movimento é um movimento antidemocrático em essência. Apoiados pela burguesia local e com a classe média como setor de mobilização, eles apelam para o nome da liberdade, para poderem trair a pátria e os interesses populares. Querem vender o país para burguesia estrangeira. E utilizam táticas de violência política e de terrorismo para gerar desestabilização social.

São esses setores que boicotaram o processo bolivariano durante décadas, apoiando tentativas de golpes de Estado. É famosa a tentativa de Golpe e de assassinato do então presidente Hugo Chávez. Iniciativa financiada e planejada pelos Estados Unidos e que foi derrotada pela manifestação e mobilização popular. Vimos outra tentativa também quando o deputado Juan Guaidó se auto-declarou presidente no meio da rua e foi reconhecido por França, Reino Unido e Estados Unidos. Além de dirverças ações patrocinadas pela oposição de direita, junto do imperialismo, para defender os interesses econômicos da burguesia e desestabilizar as instituições do país. Desde lockout da produção, linchamentos públicos contra militantes, destruição da infraestrutura do país, produção de fake news, se recusando a reconhecer derrotas eleitorais, financiamento de grupos mercenários para gerar conflitos civis.

Esse grupos, anti-democráticos, de extrema-direita, após apoiarem Golpes de Estado e tentarem desestabilizar a pátria, cobram melhoria do governo e menos repressão. Traçando um hipotético paralelo, seria o mesmo da oposição bolsonarista que tentou tomar o planalto em oito de janeiro, passasse do boicote no parlamento para o espancamento de militantes de esquerda, e atos terroristas, e caso o governo respondesse com firmeza a esses crimes, passasse então a apelar para liberdades democráticas.

Na luta de classes é preciso ser firme e ter pulso forte nos momentos de tensão. A repressão aos inimigos da liberdade é o correto. Os fascistas, golpistas e inimigos da democracia não merecem liberdade para suas ideias e ações, nem no Brasil, nem na Venezuela.

Além dessas ações políticas e de instabilidade social, a extrema direita venezuelana que disputa as eleições, apoiou uma série de ações econômicas feitas pelo imperialismo estadunidense que tiveram impactos reais na vida da população.

Chegou-se ao número de 900 sanções econômicas impostas de forma unilateral pelo império dos Estados Unidos e seus aliados. O governo estadunidense, seja Democrata ou Republicano, desde que foi derrotado no golpe de Estado que financiou e articulou contra Hugo Chávez, por meio bloqueio de contas e rapto de dinheiro guardado do governo venezuelano, tenta desestabilizar a economia do país, para gerar insatisfação popular contra o governo.

O motivo dessas sanções econômicas, nada tem a ver com com defesa da democracia ou direitos humanos. Mas ocorrem pelo governo de Chávez ter nacionalizado indústrias petroquímicas, buscado realizar uma reforma agrária, e enfrentado os interesses econômicos de empresas estrangeiras.

Somente entre 2013 e 2017, fruto dos bloqueios econômicos, as importações do país caíram de 60 bilhões de dólares para 12 bilhões. A Venezuela chegou a praticamente ser expulsa do comércio internacional, com limitação de todas as negociações feitas em dólar e pelo sistema bancário sediado nos países imperialistas. Sendo assaltada literalmente, tendo R$ 11 bilhões em ouro depositados no Banco da Inglaterra roubados pelo imperialismo.

Essas sanções, são responsáveis diretas pela redução da renda per capita venezuelana em até três vezes. Ou seja, são sanções do ocidente, liderado pelos Estados Unidos, que piora a vida do povo venezuelano. A Venezuela vive uma guerra econômica, uma agressão estrangeira que gera inflação, crise econômica, perda de empregos, falta de insumos médicos, o não acesso a alimentos e medicamentos que vinham do exterior, e por consequência teve como efeito a redução de calorias, que fez um gigantesco aumento de doenças desde 2017.

A questão central da política venezuelana desde a segunda metade do século XX tem sido os hidrocarbonetos: petróleo e gás natural. É em nosso país vizinho que se encontram as maiores reservas mundiais dessas substâncias. São 5,6 trilhões de metros cúbicos de gás natural, além de ser a sexta maior reserva de diamante, segunda de ouro, e segunda de ferro. A nacionalização do petróleo e estatização da PDVSA foi algo que atingiu os interesses estadunidenses, que busca acesso irrestrito ao petróleo e demais produtos que surgem do solo venezuelano.

O governo bolivariano, no processo iniciado após a eleição de Hugo Chávez em 1999 pelo então Movimento Quinta República, sofreu diversas modificações. O chavismo não foi igual ao longo dos anos, teve um desenvolvimento. Do MVR até a formação do PSUV muita coisa aconteceu. Um partido de massas foi criado na tentativa de dirigir o processo revolucionário que misturou a convicção bolivariana da integração latino-americana, com a “utopia socialista”.

Iniciada de caratér nacionalista e democrático, buscando uma nova constituição e refundação da Republica, e com peso grande nas parcelas médias das forças armadas do país. A Revolução Bolivariana marchou até avançar seu caráter, confrontando o imperialismo e o capital e buscando a construção de uma democracia participativa e do poder popular.

Foram enfrentadas a burguesia imperialista e a burguesia venezuelana, feito reforma agrária e urbana, nacionalizado e colocado sob controle do Estado ramos estratégicos para a economia, o analfabetismo foi combatido e formas de participação e controle popular foram instaurados com as comunas.

A Constituição Bolivariana coloca que todos os poderes instituídos podem ser substituídos e ser realizadas a qualquer momento novas eleições. Sendo inclusive a Venezuela o país que mais realizou eleições nos últimos anos, com o governo respeitando o resultado das urnas em casos de derrota, diferente da direita golpista. Medidas como a gestão da saúde, educação, distribuição de alimentos e construção de moradias populares, tem controle direto dos moradores dos bairros envolvidos.

Podemos dizer sem erro que a democracia bolivariana é muito mais avançada do que as democracias burguesas que temos no ocidente e inclusive a ordem eleitoral brasileira. Podemos defini-la como um misto de democracia direta e democracia representativa, os venezuelanos outorgam o título de democracia participativa.

As medidas de nacionalização e estatização foram muito importantes. Diversas empresas falidas ou estratégicas foram parar na mão do governo, algumas inclusive de forma mista entre trabalhadores e governo. De acordo com a Confederação Venezuelana de Indústrias, entre 2002 e 2015 ocorreram 1.322 expropriações do governo de fábricas dos mais diversos produtos. A expropriação por parte do chavismo atingiu grandes multinacionais como a produtora de cimento mexicana Cemex, o banco espanhol Santander, as petroleiras Exxon Mobil, Total e a Conoco Phillips, entre outros. O Estado passou a ter o controle da produção de diversas áreas como o cimento e o vidro, por exemplo.

A Venezuela não é um país socialista, seu Estado ainda é um Estado burguês. Porém, graças a Revolução Bolivariana, seu Estado não é o mesmo que o brasileiro. A Venezuela é um país independente no cenário internacional de Estados, ou seja, ela não tem sua política econômica e social definida pelos interesses do imperialismo e confronta estes de forma constante.

O governo Maduro, apesar de erros políticos e econômicos importantes, não pode ser considerado um governo burguês normal. Ou até mesmo um governo burguês atípico, como são os casos das Frentes Populares. Onde partidos e lideranças da classe trabalhadora governam junto de partidos e lideranças burguesas. Se olharmos para a história e fazermos comparativos, existem mais características que afastam o processo bolivariano de governos nacionalistas como o de Perón na Argentina, ou Nasser no Egito, do que os que se aproximam. Ambos são nacionalistas-democráticos, mas seu caráter de classe é diferente.

Neste domingo o que está em jogo são os rumos desse processo. É um confronto direto contra a extrema-direita que vai impactar os rumos de todo nosso subcontinente e das relações geopolíticas mundiais.

A Revolução Bolivariana, seus acertos e avanços, estão em jogo. Ela, e suas contradições, é fruto de seu tempo histórico, é consequência do desenrolar da luta de classes na Venezuela nos últimos 30 anos, é um produto da sociedade venezuelana. Não adianta avançar o relógio destes ponteiros. As conquistas antiimperialistas e anticapitalistas da Revolução Bolivariana precisam ser defendidas, ao mesmo tempo em que devem ser apontadas suas limitações.

Neste domingo o que está em jogo são os rumos desse processo. É um confronto direto contra a extrema-direita que vai impactar os rumos de todo nosso subcontinente e das relações geopolíticas mundiais.

A derrota do governo Maduro vai pôr o petróleo, o gás natural e as riquezas do país na mão do imperialismo. Vai ser a volta das privatizações e do lucro para o bolso da burguesia. Vai ser o fim de um processo rico, com erros e acertos, da construção de uma alternativa à sociedade neoliberal, com foco na auto organização popular, comunitária, e construção de uma democracia participativa. Vai ser o fim de um governo nacionalista, e fazer da Venezuela e do povo venezuelano capacho dos interesses estadunidenses.

Aqueles no Brasil comprometidos com o poder popular, com o socialismo e com uma sociedade mais justa e igualitária não podem ter dúvidas, é preciso defender o governo Maduro e a Revolução Bolivariana das mentiras e fake news, e saber que o nosso destino caminha lado a lado do destino das forças populares do outro lado da fronteira.

Toda sorte do mundo a Maduro! Que siga a Revolução Bolivariana! Pátria Livre, Venceremos!

O artigo acima representa a opinião do autor e não necessariamente corresponde às opiniões do EOL. Somos um portal aberto às polêmicas e debates da esquerda socialista.