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MOVIMENTO

Se a greve é pedagógica, o que aprendemos com ela?

Valmir Arruda, de Canindé (CE)
Sinasefe
Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.
Bertolt Brecht

Ao pensar no que aprendemos em uma greve, a primeira coisa que me vem à cabeça é, sem dúvida, que o coletivo sempre supera o individual. A organização de trabalhadoras e trabalhadores é o que torna possível qualquer tipo de organização e resistência para a luta, sem isso, a luta está fadada ao fracasso. Ao refletir sobre a função do sindicato na atualidade compartilho alguns aprendizados da experiência mais recente vivida pela educação federal do país.

O sindicato não é apenas uma entidade abstrata ou distante dos trabalhadores; ele é, na verdade, a personificação de todos os trabalhadores unidos. Ele não se limita a um espaço físico ou seção específica, mas se manifesta em cada trabalhador que pensa e age em conjunto com os demais. O sindicato está presente onde os trabalhadores estão, vive onde eles vivem, e luta quando eles são atacados, demonstrando que sua essência está diretamente ligada às experiências e necessidades dos trabalhadores e das trabalhadoras.

A importância do sindicato reside na sua capacidade de representar e defender sua base de forma coletiva. Ele não é uma entidade isolada que toma decisões em segredo, mas sim uma organização que reflete os pensamentos, necessidades e aspirações de seus membros. Quando as bases indicam o caminho a seguir, o sindicato deve segui-lo, mas é fundamental que este caminho seja trilhado junto e coletivamente, pois é na coletividade é a chave para a força do sindicato. Uma ação isolada ou o afastamento dos trabalhadores enfraquece a organização e torna até mesmo as decisões corretas ineficazes.

A sabedoria e as decisões no sindicato devem ser fruto de um esforço coletivo. Não adianta um trabalhador conhecer o caminho mais curto e eficaz se ele não consegue comunicá-lo aos demais e aplicar esse conhecimento de forma coletiva. A sabedoria individual precisa ser compartilhada e transformada em ação conjunta para que o sindicato funcione de maneira eficiente. A força do sindicato está na união dos trabalhadores e na capacidade de agir como um corpo coletivo, onde cada voz é ouvida e cada decisão é tomada em benefício de todos.

Além disso, é importante reconhecer que na definição e condução das pautas de luta, alguns erros ou desacordos podem acontecer e o sindicato não deve se furtar da autocrítica. Nesses momentos, o afastamento ou a separação dos trabalhadores do sindicato enfraquece a organização coletiva das bases, quando, o que deveria acontecer, era a permanência da união para apontar o caminho mais adequado a seguir.  A correção dos erros coletivamente e o apoio contínuo são essenciais para a força e a eficácia do movimento sindical. A unidade é o que permite ao sindicato superar desafios e lutar de forma eficaz pelos direitos dos trabalhadores”.

Um destaque importante é sobre aprender a comemorar as vitórias após uma greve como elemento fundamental para fortalecer o espírito de união e a motivação dos trabalhadores. Mesmo que nossa pauta inicial não tenha sido alcançada em sua plenitude, os avanços não foram poucos e devem ser muito comemorados. Ao analisarmos a conjuntura e a correlação de forças que nos foi imposta durante todo o processo, torna-se imperativo comemorar as conquistas arrancadas pela força do movimento grevista. Sem greve, sem a força de trabalhadores e trabalhadoras nada viria. A comemoração das vitórias serve não apenas como um momento de alegria, mas também uma afirmação do poder e da eficácia da ação coletiva.

Além disso, a comemoração deve ser vista como um momento de reconhecimento do esforço conjunto. Cada trabalhador e cada trabalhadora que participou da greve contribuiu para o sucesso, seja na linha de frente dos atos ou apoiando de outras maneiras. Reconhecer o papel de cada um e cada uma é essencial para reforçar a importância da colaboração e da solidariedade entre a classe trabalhadora. É um momento para aprender com a experiência, identificando o que funcionou bem e o que pode ser melhorado em futuras mobilizações.

Nossa greve mostrou a força da educação federal unida, marcando a maior greve desta categoria nos últimos anos. Conseguimos dialogar entre entidades sindicais, avançar em demandas históricas que não seriam possíveis sem a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras. A luta pela educação em países de capitalismo dependente como o Brasil necessita de atenção constante e cada passo dado para a melhoria das condições de trabalho e da qualidade do serviço que é ofertado deve ser motivo de muito orgulho. É um momento para renovar energias e reafirmar a confiança na capacidade coletiva de alcançar mudanças significativas. Essa renovação é crucial para manter o entusiasmo e o comprometimento da classe trabalhadora com as lutas futuras.

Portanto, o que aprendi, ou melhor, o que aprendemos com a greve?

Nos foi reafirmado que a importância do sindicato está na sua capacidade de representar, defender e unir os trabalhadores e as trabalhadoras. O agir coletivo se sobrepõe às individualidades, estar junto com camaradas tão valorosos durante essa jornada traz a máxima de quem está lado a lado na trincheira é o que mais importa. A força do sindicato reside na sua união e na capacidade de corrigir erros juntos, fortalecendo a ação sindical como um corpo coletivo que luta pelos direitos e necessidades da classe trabalhadora.

Aprendemos que a greve se faz nos locais de trabalho, nas ruas e praças, no corpo a corpo, mas também se faz nos espaços virtuais, nas mídias, nas redes sociais e que precisamos participar e qualificar ainda mais os debates em todos os espaços. Afinal, como a epígrafe deste texto indica, todos, todas e todes que se dispuseram a lutar são importantes.

E talvez o maior aprendizado: para nós, classe trabalhadora, a luta é permanente! Essa não foi a primeira e nem será a última greve, teremos várias batalhas, algumas já estão postas, outras ainda chegarão, mas a certeza de que estamos do lado certo da história nos enche de esperança, ainda mais sabendo que não estamos sozinhos!

Vida longa aos que lutam!

Vida longa aos sindicatos!

E não esqueçamos que “amar e mudar as coisas nos interessa mais”

Valmir é dirigente sindical do Sindsifce no Ceará