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MUNDO

Eleições no Reino Unido: pesquisas indicam que extrema direita pode assumir segunda posição

Este cenário dialoga com os recentes resultados das eleições do Parlamento Europeu

André Freire, do Rio de Janeiro (RJ)
Reprodução/YouTube

No dia 4 de julho, acontecem as importantes eleições para o parlamento do Reino Unido (RU). Estas eleições legislativas são definidoras para formação de governo, de acordo com o regime parlamentarista em vigor. O RU é formado pela Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales.

O Partido Conservador está a 14 anos no poder, mas ao que tudo indica deve perder as próximas eleições. O atual primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, está muito desgastado na opinião pública, e deve sofrer uma derrota fragorosa no pleito de 4/7. Existe até a possibilidade que o atual primeiro-ministro perca a sua cadeira no parlamento, perdendo a vaga de reeleição em seu distrito, para um representantes dos trabalhistas.

As pesquisas indicam uma provável vitória do Partido Trabalhista, que lidera todos os cenários pesquisados. Entretanto, é um trabalhismo com um viés bem liberal e afeito ao status quo, o oposto do que representava no período que foi liderado pelo atual deputado Jeremy Corbyn, praticamente excluído do partido.

A ala esquerda do Partido Trabalhista foi praticamente expulsa arbitrariamente e Corbyn, inclusive, teve que se lançar como um candidato independente ao parlamento, após a atual direção direitista deste partido negar a legenda para que disputasse a reeleição em seu distrito, em mais um ato de perseguição absurda.

Reform UK ameaça os conservadores

Mas, a grande surpresa dos últimos dias, foi a ascensão do partido anti-imigração e de extrema direita, Reform UK (Reforma – Reino Unido), nas pesquisas de opinião. Segundo pesquisa do Instituto YouGov, publicada no dia 14 de junho pelo Jornal The Times, pela primeira vez, desde o início da campanha, o Reform UK (19%) ultrapassou o Partido Consevador (18%), ocupando o segundo lugar nas intenções de votos. Segundo a mesma pesquisa, os trabalhistas lideram com 37% das intenções de voto.

O Reform UK é formado por dissidentes do próprio Partido Conservador e é liderado por Nigel Farage, uma figura pública sinistra de extrema direita, que foi um dos principais proponentes do chamado Brexit, movimento político que defendeu a saída do RU da União Europeia, com argumentos reacionários e xenófobos.

Este movimento dividiu os conservadores, ganhou o plebiscito realizado em junho de 2016 (com um placar apertado – 51,8% dos votos) e, depois de muitas crises políticas e idas e vindas, conseguiu a saída do RU do bloco europeu (oficializada somente em fevereiro de2020).

Ainda é cedo para afirmar que o Reform UK será a segunda força política, afinal este cenário apareceu em apenas uma pesquisa e tudo vai depender da reta final da campanha eleitoral. Porém, já se pode afirmar, sem medo de errar, que infelizmente a extrema direita vai figurar entre as principais forças políticas do RU.

O parlamento do RU é eleito num sistema distrital absoluto, ou seja: são 650 deputados eleitos em 650 distritos diferentes; sendo eleito apenas o mais votado em cada distrito. Este critério pode dificultar uma ampliação qualitativa do Reform UK, mesmo com um crescimento do número de votos. Afinal, esse critério acaba favorecendo os partidos majoritários.

Este possível cenário apontado no RU dialoga muito com os recentes resultados para as eleições do parlamento europeu, um das principais instituições de poder da União Europeia, onde também foi possível observar um expressivo crescimento de partido de extrema direita, sobretudo nas principais economias do bloco, como Alemanha, França e Itália, entre outras.

As eleições legislativas do RU devem confirmar um cenário marcado pela ascensão de forças de extrema direita em várias partes do mundo. Estas forças ultra-reacionárias vêm obtendo e mantendo um apoio político expressivo, mesmo que não majoritário na maioria dos países.

Este crescimento acentua os riscos aos direitos das maiorias sociais e ao próprio meio ambiente. Apontando uma perspectivas de ampliação dos ataques aos setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, especialmente os imigrantes (sobretudo os racializados), as mulheres e a comunidade LGBTQIA+.

A tarefa número 1 da esquerda, dos socialistas e dos movimentos sociais segue sendo enfrentar e derrotar a extrema direita, afirmando sempre uma saída programática de ampliação de direitos sociais e democráticos e de defesa incondicional do meio ambiente, diante do verdadeiro caos climático existente.

Informações:
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