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BRASIL

Carta do encontro nacional “É tempo de solidariedade e resistência” à juventude brasileira e de todo o mundo

Encontro Nacional “É tempo de Solidariedade e Luta” lança carta à juventude brasileira e de todo mundo com pontos programáticos para combater a crise climática, durante evento ocorrido de 30 de maio a 02 de junho em São Paulo (SP)

Afronte - Juventude sem medo

A tragédia sócio-ambiental do Rio Grande do Sul completa, agora, um mês. Além do rastro de destruição – 171 mortos, 43 desaparecidos, mais de 2 milhões de pessoas afetadas, refugiados climáticos, cidades que desapareceram – essa tragédia elevou ao debate público um tema que as juventudes já discutiam há um tempo: a emergência da crise climática.

Somos uma geração que já vive sob os permanentes efeitos da crise climática. Vimos diversos episódios de catástrofes sócio-ambientais em nosso país, como o rompimento das barragens, em Brumadinho e Mariana. A Bahia, em 2021, contabilizou 20 mortes e 60 mil desabrigados por conta das enchentes. Em Recife, em 2022, foram 140 mortes e 122 mil pessoas desalojadas, assim como em Petrópolis, em 2022, foram 235 mortos. Também em 2022, a mina 18 da Braskem se rompeu na lagoa de Mundaú  no bairro de Mutange em Maceió: foi o maior crime ambiental em solo urbano do país e atingiu boa parte do território da cidade. Não é uma coincidência o que acontece desde os incêndios na Amazônia e no cerrado, passando pelas ondas de calor, vendavais, ressacas marinhas, deslizamentos e inundações em várias cidades.

Diante do evento climático extremo no Rio Grande do Sul, é preciso dizer em alto e bom som: a culpa por todos esses desastres é das grandes empresas e dos governos negacionistas climáticos e não pura e simplesmente da natureza. Afinal, não fomos pegos de surpresa: a ciência já alertou sobre os perigos e as consequências de um modelo de desenvolvimento que coloca o lucro acima da vida, que subordina a exploração das pessoas e da natureza aos interesses de grandes corporações, como a Vale e a Braskem.

Apesar de todos os alertas da ciência, Bolsonaro e Salles “passaram a boiada” com profunda flexibilização da legislação ambiental, anistia para desmatadores, desmonte do Ibama e ampliação da isenção fiscal para o agronegócio. De outro lado, Eduardo Leite também tem responsabilidade, já que em seus dois mandatos como governador do Rio Grande do Sul levou a cabo uma mudança em 480 normas do Código Florestal do Rio Grande do Sul, buscando flexibilizar a legislação de proteção ambiental, privatizou as empresas de água, saneamento e energia e fechou centros de pesquisa ambiental.

Por isso, enquanto os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul custam a passar, o Afronte assume duas grandes tarefas pela frente: solidariedade e resistência à crise climática!

Nesse marco, o investimento de menos de 1% da receita do estado do Rio Grande do Sul  na Defesa Civil se combinou tragicamente com o papel de prefeitos, como Sebastião Melo em Porto Alegre, que não realizou nenhum investimento em prevenção às enchentes, além de não realizar manutenção e reparos nas casas de bomba, conforme solicitado pelos engenheiros do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre). Não passarão!

Por isso, enquanto os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul custam a passar, o Afronte assume duas grandes tarefas pela frente: solidariedade e resistência à crise climática!

Vamos lançar Brigadas pelo Clima nas universidades, escolas e movimentos populares para nos somarmos às dezenas de milhares de voluntários na organização das cozinhas solidárias e pontos de coleta e distribuição de doação nas periferias no Rio Grande do Sul. Também seremos parte deste movimento de ajuda humanitária em outras partes do Brasil, como um exercício prático de solidariedade de classe tão necessário diante da tragédia que afeta mais intensamente o povo pobre, nas periferias das cidades, que vive em zonas de encosta e alagamento; e esse povo, nós sabemos, que é o mais oprimido, é trabalhador, é negro, é mulher, é LGBTI+.

É preciso fazer mais! A tarefa das Brigadas pelo Clima é ampliar a luta de resistência contra a crise climática e o negacionismo em cada universidade, escola e local de intervenção. A nossa solidariedade será conectada à resistência ao projeto anti-ambiental dos governos negacionistas e das grandes empresas, que desmontam a legislação de proteção ambiental, que são responsáveis pelo aumento dos GEEs (Gases de Efeito Estufa) e do desmatamento, que atacam os territórios dos povos originários e que retiram dinheiro do combate à crise climática.

Neste ano, acontecem as eleições de 2024 e precisamos dizer em alto e bom som que a juventude não vota em negacionista climático! Vamos lutar contra a eleição dos representantes da extrema direita, do neoliberalismo predatório, do agronegócio, das mineradoras, da fome e da destruição do meio ambiente. Junto a isso, apresentaremos uma plataforma programática e política, discutiremos com a juventude e também com as candidaturas de esquerda que vamos apoiar, para resistir à crise climática:

1. Somos anticapitalistas. Para nós, a vida está acima do lucro! A única forma de interromper esse ciclo de tragédias é construir outro modelo de sociedade e de desenvolvimento contra a lógica predatória do capitalismo. Se a crise climática é o nosso presente, cabe a nós mudar o futuro. Combatemos as atividades predatórias como o desmatamento, o garimpo, e a expansão do agronegócio que contribuem para o aquecimento global e mantêm o Brasil refém de um modelo econômico insustentável. O mundo que defendemos distribui a riqueza, o pão e a terra com quem produz.

2. Somos anti-imperialistas e lutamos por justiça climática. Sabemos que quem deve pagar pela crise climática, para proteger a Amazônia e todos os biomas brasileiros, é o 1% mais rico do mundo e os países do centro do imperialismo.

3. Somos contra a privatização dos serviços públicos em todas as suas esferas. Desde que Bolsonaro aprovou o marco regulatório em 2020, vários governadores e prefeitos estão privatizando serviços essenciais à vida do povo, como os serviços de água, saneamento básico e transporte. Não aceitaremos!

4. Nossa luta de resistência contra a crise climática se dá apoiando os movimentos que atuam no campo, mas principalmente construindo focos de resistência nas cidades. Em nossa luta por justiça climática, nos colocamos na linha de frente da defesa dos transportes públicos, do SUS e da saúde pública, da educação pública e da ciência, na defesa da moradia popular.

Também queremos a democratização do acesso às universidades públicas e investimento em programas de permanência. As cotas raciais mudaram a cara das universidades públicas, mas é preciso avançar: queremos cotas trans já! Só uma universidade popular e 100% pública pode colocar a ciência a serviço do povo!

5. É necessário combater o racismo ambiental e defender os territórios tradicionais, indígenas e quilombolas: Garantir que as políticas ambientais sejam justas e equitativas, protegendo as comunidades mais vulneráveis aos impactos da crise climática, assim como a preservação e demarcação dos territórios indígenas e proteção aos modos de vida tradicionais.

6. Defendemos uma Reforma agrária popular e agroecológica para deter a expansão do agronegócio sobre a floresta e promover uma transição para uma agricultura sustentável, agroecológica e produtora de alimentos sem veneno, priorizando a produção familiar e de alimentos e comunitária. O agro é fome, é fogo, é morte.

7. Defendemos uma plataforma de mitigação, infraestrutura, adaptação climática e perda e danos nas cidades com investimento em mitigação das causas que agravam a crise climática, infraestrutura cruciais para adaptar as cidades às mudanças climáticas a partir de soluções com participação e saberes populares, gerando empregos e promovendo justiça climática.

8. Defendemos uma transição da matriz energética justa e popular. A Petrobrás é um patrimônio do Brasil, parte da nossa soberania, e precisa ser 100% pública e estatal. A Petrobras precisa, desde já, investir em novas fontes de energia, pois é ela quem tem condições de promover uma transição para uma matriz energética mais limpa, que gere empregos e renda com uma especial atenção à compensação socioeconômica para os territórios atingidos. A Petrobrás precisa cumprir seu papel de liderar uma transição energética justa e rápida, buscando estratégias para uma substituição gradual e definitiva da exploração e do uso dos combustíveis fósseis.

9. Em 2025, vamos à COP-30 em Belém para defender a nossa plataforma junto aos movimentos populares, sociais, indígenas e urbanos! Sabemos que o discurso de cooperação internacional é uma manobra dos países imperialistas para não se responsabilizar pela crise climática. Se os países ricos são responsáveis pela crise climática, eles que devem pagar pela crise, a partir de um programa de financiamento do combate ao aquecimento global, do desmatamento e das mudanças climáticas.

10. Somos internacionalistas: do Rio Grande do Sul à Palestina, combatemos a extrema direita e organizamos a solidariedade! Nos somamos as ocupações de juventude nas universidades em defesa da Palestina nos Estados Unidos, Europa e outras partes do mundo, ao povo colombiano que resistente a uma tentativa de golpe contra o governo Petro e Francia Marquez, as ecofeministas do chile, aos estudantes que estão se organizando contra os cortes na educação de Milei na Argentina!

De norte a sul do país, as brigadas pelo clima vão organizar debates e ações de solidariedade no mês de junho. A partir de julho, vamos lutar por essa plataforma nas eleições de 2024 contra a eleição de qualquer negacionista!