Desmentindo Ratinho JR: Por que empresas privadas iriam querer administrar escolas públicas?


Publicado em: 3 de junho de 2024

Brasil

Por Nicolas Pacheco, de Curitiba (PR)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Por Nicolas Pacheco, de Curitiba (PR)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Enquanto escrevemos este texto, cerca de 20 mil estudantes e professores da educação do Estado do Paraná fazem uma importante luta contra o Projeto Parceiro da Escola. Apresentado há menos de uma semana e tramitando em regime de urgência, esse projeto visa basicamente transferir para a iniciativa privada a administração de 200 escolas do estado do Paraná.

A propaganda do governo se baseia basicamente em três pilares:

1. Que a passagem da administração financeira e patrimonial das escolas para a iniciativa privada deixaria livres professores e pedagogos para atuar na parte pedagógica;

2. Que o projeto seria democrático no sentido de que as escolas só serão passadas para a administração privada perante a aprovação das comunidades escolares;

3. Que a maioria das escolas que testaram o programa, aprovaram.

Ocorre que, dentre esses três pontos, o que não é mentira é uma distorção. Duas escolas aprovaram o programa Parceiro da Escola, e não são raras as vozes dissidentes dizendo que o programa não melhora em nada a qualidade da educação, além de ter sido implantado sob a promessa de melhora, mas ter efetivamente piorado a situação de servidores e professores temporários, os chamados PSS.

A segunda distorção é sobre a tal democracia que significaria dar à comunidade escolar a possibilidade de escolher se querem ou não empresas privadas gerindo suas escolas. Já vimos algo muito parecido quando o governo colocou em votação de cada comunidade escolar a possibilidade de transformá-la em escolas cívico-militares. Não foram poucas as denúncias quanto ao caráter extremamente antidemocrático dessas consultas, uma vez que direções, núcleos regionais de educação e até a polícia intervieram para impedir que estudantes e professores contrários ao projeto conversassem com estudantes e pais. Além disso, estamos assistindo desde a semana passada, quando o projeto surgiu, a uma inundação de propaganda na TV aberta sobre esse projeto. Enquanto o Estado tem milhões e milhões de reais para produzir e pagar a veiculação de propaganda mentirosa para a população, o que nós temos além das nossas vozes e dos nossos corpos para ir à frente das escolas e fazer o contraponto? Há democracia quando só um dos lados pode opinar?

talvez a pergunta mais importante seja: por que uma empresa privada iria querer administrar uma escola pública?

Por fim, mas não menos importante, a principal distorção se refere ao que colocamos no título deste texto. O governo diz que, com a privatização, os professores, diretores e pedagogos poderão focar mais na parte pedagógica. A grande questão é: quem disse que já não é assim? Hoje, todo recurso recebido por uma escola pública é destinado diretamente para a qualidade das condições físicas e pedagógicas para o ensino. Além disso, e talvez a pergunta mais importante seja: por que uma empresa privada iria querer administrar uma escola pública?

Além de não haver nenhuma necessidade para tal, sabemos que nenhuma empresa privada existe com outro objetivo senão o lucro. Ocorre que, para funcionar da mesma maneira que funciona atualmente, o governo do estado deverá repassar para escolas e empresas privadas administradoras de escolas um valor maior. Dessa forma, dinheiro que hoje é diretamente investido na estrutura física da escola, em projetos pedagógicos e no melhor atendimento dos estudantes agora será destinado aos bolsos dos empresários que administrarão essas escolas.

Ou seja, ao fim e ao cabo, o que é investimento em educação se tornará um gasto, porque é um dinheiro que não será destinado a melhor educação dos seus e dos nossos filhos, mas sim ao bolso de um empresário do ramo educacional.

Não é à toa que esse projeto surgiu há menos de uma semana e tramita desde terça-feira numa semana com feriado prolongado. Na prática, isso significa que esse projeto tão importante, que vai mexer e muito com a educação e com os cofres públicos, foi avaliado pelos deputados em somente três dias. Além disso, está sendo votado neste momento sob muita repressão a estudantes e professores que se manifestam contrários ao projeto. O governo não deu e não quer dar tempo hábil para que a população conheça, reflita e crie suas opiniões sobre esse projeto tão importante.

Fica muito claro a quais interesses o Ratinho JR está servindo: ele está beneficiando uma parcela que vai ganhar muito dinheiro com esse projeto e poderá doar ainda mais dinheiro para suas próximas campanhas.

Se pensarmos um pouco mais a fundo, veremos a origem dessa vontade de Ratinho JR (PSD) em dar dinheiro para o setor de educação privada do Estado: não são esses os setores que tanto contribuem para as campanhas de Ratinho e seu partido? Não são essas empresas que estão há alguns anos dirigindo a pasta da Secretaria da Educação?

Fica muito claro a quais interesses o Ratinho JR está servindo: ele está beneficiando uma parcela que vai ganhar muito dinheiro com esse projeto e poderá doar ainda mais dinheiro para suas próximas campanhas. Não nos esqueçamos que 2024 é ano de eleição e o PSD vai precisar de muito dinheiro para eleger prefeitos ao redor do Estado.

Mesmo com a aprovação desse projeto, não deixaremos de fazer a denúncia porque sabemos os interesses escusos por trás desse ataque. Não há outra palavra: é PRIVATIZAÇÃO da educação pública do Paraná. Hoje são 200, e amanhã quantas mais?


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição