Com a proximidade das convenções partidárias, o cenário eleitoral em Franca (SP) começa a tomar forma. No campo da atual administração, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) parece ter obtido sucesso em unificar as principais legendas da direita tradicional no apoio à sua reeleição. A grande novidade – ou nem tanto – foi o apoio da sua adversária no 2º turno das últimas eleições, Flávia Lancha (PSD), costurado diretamente por Gilberto Kassab e pelo governo Tarcísio, em troca do apoio a uma futura candidatura para deputada.
No campo do bolsonarismo, as peças também encontraram seu lugar. O ex-vice-prefeito João Rocha migrou para o PL, partido de Jair Bolsonaro, com a benção da deputada estadual Delegada Graciela, se consolidando como candidatura da extrema-direita local.
Com o afunilamento das pré-candidaturas, a eleição parece caminhar para uma disputa entre a direita (representada por Alexandre) e a extrema-direita (representada por Rocha); afinal, esse espectro político tem hegemonizado a política francana nos últimos 20 anos. Mas há um elemento que pode balançar esse cenário: o ressurgimento da esquerda.
A esquerda perdeu protagonismo em Franca com o fim do mandato de Gilmar Dominici (PT) e o início da crise da crise da indústria do calçado e do sindicalismo. Entre 2016 e 2020 esse declínio chegou ao auge na esteira do golpe que destituiu a presidenta Dilma e da eleição de Bolsonaro, período no qual a esquerda não teve sequer representação na Câmara Municipal e colecionou seu pior resultado para a Prefeitura.
Esse quadro começou a mudar em 2020, quando as candidaturas de Rafael Bruxellas (PT) e Marília Martins (PSOL) à Prefeitura conquistaram juntas mais de 20 mil votos, retomando um patamar que a esquerda não registrava desde 2012. Além disso, naquelas eleições o PT voltou à Câmara com a eleição de Gilson Pelizaro e Guilherme Cortez (PSOL) conquistou a 4ª maior votação para vereador na cidade, o melhor resultado da esquerda em 20 anos. A esquerda ficou longe de protagonizar a disputa eleitoral, ainda centrada nas candidaturas de direita, mas levantou a cabeça e saiu fortalecida da eleição.
Em 2022, fortalecida pelos resultados anteriores, a esquerda francana surpreendeu. Pela primeira vez na história, a região elegeu um deputado estadual de esquerda, com Guilherme Cortez sendo o 2º candidato mais votado da cidade, superando candidatos da extrema-direita e da direita tradicional, como o vereador Daniel Bassi (PSD), o ex-prefeito Gilson de Souza (então no Republicanos) e o próprio João Rocha (então no União Brasil). Na disputa majoritária, Lula (PT) e Haddad (PT) terminaram o 2º turno com quase 70 mil votos, reduzindo em mais de 10% a votação de Bolsonaro em comparação a 2018.
Hoje, a esquerda francana se aproxima daquela que pode ser sua melhor eleição desde as duas eleições de Dominici. Com a saída de Flávia Lancha da disputa, se abre uma oportunidade inédita para o campo progressista ocupar uma das vagas no 2º turno. Além de uma possibilidade histórica, isso também representa uma responsabilidade enorme, porque o outro campo que disputa essa vaga é o bolsonarismo. Ou seja, a esquerda de Franca tem diante de si a oportunidade de ir para o 2º turno e o dever de impedir que a extrema-direita o faça.
O problema é que, até o momento, o campo da esquerda e centro-esquerda encontra-se dividido em 4 pré-candidaturas: Guilherme Cortez (PSOL), Mariana Negri (PT), Marcos Ferreira (PSB) e Tito Flávio (PCB). Essa divisão, é claro, diminui as chances de chegarmos ao 2º turno e turbina as expectativas de Alexandre e do bolsonarismo.
Desde o ano passado, o PSOL tem defendido a necessidade dos partidos de esquerda de Franca se unirem em torno da candidatura com melhores chances de chegar ao 2º turno e colocou à disposição do campo o nome de Cortez, sem nunca descartar a possibilidade de abrir mão da candidatura própria para apoiar quem se mostrasse mais viável.
Hoje, os principais nomes da esquerda francana são Cortez e Bruxellas, cacifados pelos resultados das eleições de 2020 e 2022, pela eleição do primeiro e pela nomeação do segundo para um cargo no governo federal. Com a retirada da pré-candidatura de Bruxellas tudo indicava uma união natural em torno do deputado. Ambos, aliás, vinham buscando um entendimento visando a unidade em torno de quem pontuasse melhor nas pesquisas.
No entanto, a decisão do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores de lançar uma nova pré-candidatura jogou um balde de água fria no ativismo de esquerda da cidade que esperava um gesto pela unidade. O PT nunca escondeu em suas declarações públicas que pretendia ter candidatura própria à Prefeitura, secundarizando a necessidade de unir forças com outros partidos se isso significasse abrir mão da cabeça de chapa.
A companheira Mariana Negri merece todo o nosso respeito, é claro, mas a opção do PT por lançar um novo nome às vésperas do período de convenções partidárias ao invés de buscar a unidade em torno do nome mais viável do campo joga contra a esquerda e facilita o caminho do bolsonarismo rumo ao 2º turno. Aliás, postura que contradiz o discurso oficial do partido até então, que defendia a unidade em torno do nome de Bruxellas por supostamente ser o mais viável. A questão da viabilidade perdeu a importância agora?
Uma disputa desnecessária entre diversas candidaturas de esquerda seria uma tragédia, porque praticamente retiraria o campo da disputa pelo 2º turno, abrindo caminho para o bolsonarismo protagonizar a oposição à Alexandre e, inclusive, governar a cidade. Esse cenário seria totalmente oposto ao que representaria uma unidade entre PSOL, PT, PCdoB, Rede, PV e PDT: com os principais partidos da esquerda de Franca unidos em torno do nome com mais viabilidade, alinhados ao governo Lula e com suas militâncias na rua, entraríamos de cabeça na disputa pelo 2º turno, em condições muito mais favoráveis para a eleição de uma bancada de vereadores.
Os companheiros do PT fazem o cálculo de que ter candidatura própria para a Prefeitura é crucial para manterem seu atual mandato na Câmara. Desconsideram, no entanto, que uma unidade bem-sucedida que levasse a esquerda para o 2º turno também ajudaria a eleição de vereadores de toda a chapa, ao passo que a decisão de se isolar e facilitar o caminho do bolsonarismo pode gerar antipatia no eleitorado progressista de Franca. Uma frente de esquerda, liderada pelo nome mais competitivo do campo, fortaleceria cada um dos partidos. Cortez não seria o candidato do PSOL, mas de toda a frente unificada. Se a esquerda conseguir chegar ao 2º turno em Franca pela primeira vez na história, isso também alavancaria a eleição de vereadores do PT e de todos os partidos da chapa, o que deve ser prioridade do campo.
Uma disputa desnecessária entre diversas candidaturas de esquerda seria uma tragédia, porque praticamente retiraria o campo da disputa pelo 2º turno, abrindo caminho para o bolsonarismo protagonizar a oposição à Alexandre e, inclusive, governar a cidade. Esse cenário seria totalmente oposto ao que representaria uma unidade entre PSOL, PT, PCdoB, Rede, PV e PDT: com os principais partidos da esquerda de Franca unidos em torno do nome com mais viabilidade, alinhados ao governo Lula e com suas militâncias na rua, entraríamos de cabeça na disputa pelo 2º turno, em condições muito mais favoráveis para a eleição de uma bancada de vereadores.
É preciso aprender com 2022, quando Guilherme Boulos (PSOL) retirou sua candidatura a governador de São Paulo para apoiar Fernando Haddad (PT), que, tendo sido prefeito de São Paulo e disputado o 2º turno das eleições presidenciais em 2018, tinha mais viabilidade eleitoral naquelas eleições e liderava as pesquisas de intenção de voto.
É preciso aprender com 2022, quando Guilherme Boulos (PSOL) retirou sua candidatura a governador de São Paulo para apoiar Fernando Haddad (PT), que, tendo sido prefeito de São Paulo e disputado o 2º turno das eleições presidenciais em 2018, tinha mais viabilidade eleitoral naquelas eleições e liderava as pesquisas de intenção de voto. Agora, em 2024, o PT abriu mão de ter candidatura própria para a Prefeitura de São Paulo para apoiar Boulos, reconhecendo a necessidade de retomar o protagonismo da esquerda na capital por meio do nome que liderava as pesquisas.
Em Franca, o resultado das últimas eleições, a visibilidade dos nomes colocados e as pesquisas de intenção de voto apontam um único caminho: Guilherme Cortez é o único nome capaz de disputar em pé de igualdade contra a direita tradicional e o bolsonarismo e chegar ao 2º turno. Mas, com a esquerda fragmentada em diversas pré-candidaturas, isso pode não ser suficiente e a eleição pode ser decidida entre Alexandre e João. Infelizmente, o PT de Franca parece estar na contramão da unidade que esquerda está construindo em todo país. O PT tem um papel fundamental na esquerda da cidade, pela sua história e enraizamento, mas a escolha pelo divisionismo não faz jus a essa trajetória.
Ainda há tempo, no entanto, de deixar as vaidades de lado e rever o rumo. Em nome do combate ao bolsonarismo e da viabilidade eleitoral da esquerda, o PSOL deve apoiar candidaturas do PT em Ribeirão Preto, São Carlos, Campinas, Santos, Osasco, Guarulhos, São José dos Campos, dentre outras cidades.
O momento que vivemos exige responsabilidade das forças de esquerda para seguir combatendo o bolsonarismo, que segue vivo e ameaçando o governo Lula, os direitos do povo brasileiro e a democracia no Brasil. Em Franca, seguimos intransigente na defesa da unidade para barrar a extrema-direita e colocar a esquerda em outro patamar na disputa da cidade.
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