Neste dia 31 de maio completaram-se 35 anos da morte de C.L.R. James, militante comunista, historiador, pan-africanista e internacionalista. Trouxe ao mundo a grande obra “Jacobinos Negros” que mostrou a centralidade da Revolução que libertou o Haiti do escravismo para o fim do mesmo em todo o mundo e nas revoluções burguesas da época, com observando a totalidade através do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo.
Foi amigo e colaborador intelectual de outras figuras como Kwame Nkrumah, primeiro-ministro de Gana que foi o primeiro país a se tornar independente da metrópole colonizadora em África no século passado, Eric Williams, escritor da elementar obra “Capitalismo e Escravidão” e primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, com o qual teve sério conflito após o mesmo persegui-lo em período posterior, chegando a prendê-lo. Na obra “Uma História da Revolta Pan-Africana”, lançada pela primeira vez no mesmo ano que “Jacobinos Negros”, 1938, James estabelece especial diálogo com as concepções de determinadas vertentes do pan-africanismo e assevera a necessidade de romper com a dominação imperialista para além da independência política.
James e seus posicionamentos pan-africanistas foram amplamente influenciados por outros militantes, como a jamaicana Amy Ashwood Garvey, com a qual organizou solidariedade internacional à Etiópia que havia sido ocupada por tropas do exército fascista italiano. James, durante toda sua vida e obra não deixou de ser comunista e pan-africanista, articulando as duas visões numa construção crítica e inovadora, o que gera um aporte poderoso para a compreensão do capitalismo, do colonialismo e do imperialismo em sua história e nos dias atuais.
James não era um intelectual academicista. Sua busca por um profundo estudo e compreensão da realidade africana e caribenha, do capitalismo e do racismo em todo o mundo, e até mesmo do críquete, esporte do qual era fã, estava articulada com a construção das lutas da classe trabalhadora internacional, em suas mais diversas expressões. Além da já mencionada campanha de solidariedade à Etiópia, organizou congressos pan-africanistas nos quais possuiu papel destacado e dirigente, foi membro fundador da IVª Internacional ao lado de Leon Trotski, com a qual acumulou divergências posteriores relacionadas à questão negra e o SWP (partido da IVª atuante nos EUA) e à caracterização da URSS, levando o mesmo à organização de um agrupamento e posterior ruptura ao lado de Raya Dunayevskaya. James, durante boa parte deste período militou clandestinamente. Em 1952, chegou a ser preso nos EUA por “atividades antiamericanas”. Mesmo no início de sua atividade intelectual, James já dava atenção à luta dos trabalhadores ao escrever a biografia de uma das lideranças das greves petroleiras de Trinidad, André Cipriani, publicada em 1932. Ao final, permaneceu buscando aprofundar sua relação com o proletariado através da League of Revolutionary Black workers, fundada em Detroit em 1969.
Muito mais poderia ser escrito sobre a vida e obra de C.L.R. James, que permaneceu comunista e pan-africanista até os últimos anos de sua vida militante, articulando sua robustez teórica à sua seriedade prática. Para a militância de esquerda e movimento negro brasileiro é interessante o destaque à importância que o mesmo dava à questão deste país, ao solicitar a organização de painéis temáticos nos congressos que organizava, ao estudar a obra da escritora Carolina Maria de Jesus e ao intercâmbio que estabeleceu com pensadores como Abdias do Nascimento que participou de alguns congressos em que James esteve na articulação. Seu legado de promoção de um internacionalismo negro é essencial como referência teórica e militante para a construção de um universalismo concreto e emancipatório, assim como o da Revolução Haitiana de 1804 que fez tremer os escravistas no mundo todo, inclusive no Brasil.
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