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BRASIL

Estamos em Guerra contra a natureza?

Lucas Ribeiro, de Porto Alegre (RS)
Gilvan Rocha/Agência Brasil

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul estão gerando um clima de medo e apreensão na população em todo o Estado. Pessoas estão perdendo suas vidas, casas, bens e plantações. As milhares de pessoas atingidas pelo evento extremo do ano passado, nem bem se recuperaram dos traumas e prejuízos e já estão novamente em situação desesperadora. A necessidade de ações rápidas para ajudar quem mais precisa não pode turvar o nosso olhar crítico de entender as ações e/ou omissões políticas que nos levaram até essa situação.

O governo Eduardo Leite está trabalhando diante do evento climático extremo que atingiu o Rio Grande do Sul como se estivéssemos numa guerra contra a natureza, o agente externo. Logo é o momento de união de todos os setores de classe, e política, para enfrentar o “inimigo” comum.

Essa linha tenta colocar a passividade dos governantes perante os desdobramentos de um evento climático extremo como um atenuante. Perante a força da natureza e o impacto das imagens devastadoras, um cenário de destruição, que circulam pelos celulares e na grande mídia, se constroi uma narrativa de que pouco poderia ser feito para evitar os impactos de um evento climático extremo. Fica colocado que ações dos governos de plantão não fazem diferença perante a algo que é superior, quase que divino.

A verdade é que não estamos em guerra e tampouco a natureza seja nosso inimigo, fazemos parte dela. Esse discurso é parte de uma estratégia que insiste em negar o aquecimento global, as mudanças climáticas e os estudos que demonstram o Rio Grande do Sul como epicentro da instabilidade climática em nosso hemisfério. O Estado tem obrigação de ter um planejamento estratégico para atuar perante a nova realidade climática.

Os planos de qualquer governo no RS precisam levar em consideração o fato de que eventos extremos como os que estamos vivendo nesse momento serão recorrentes em nosso Estado, ou seja, precisamos aprender enquanto sociedade a se adaptar com essa nova situação. Mas a verdade é que os sucessivos planos neoliberais diminuem a capacidade do Estado de financiamento e planejamento para atender os principais interesses do povo.

Depois do forte evento extremo de setembro do ano passado, o governo Eduardo Leite não adotou medidas estruturais para preparar o Estado e a sociedade para a nova realidade climática. Estamos falando de investimento em ciência e tecnologia, infraestrutura, defesa civil e informação. A denúncia do deputado Matheus Gomes em relação ao orçamento para a defesa civil é só a ponta do iceberg que está levando nosso Estado à deriva. A verdade é que nos falta no RS um arcabouço legal que situe nosso Estado em Emergência Climática e aponte um conjunto de medidas de prevenção e mitigação para que gaúchos e gaúchas não vivam com medo a cada alerta de fortes chuvas.

A omissão dos governantes em assumir as iniciativas necessárias deve ser responsabilizada política, civil e criminalmente. Afinal, é da responsabilidade do cargo de governador (e prefeitos) adotar o conjunto de medidas adequadas e necessárias para cuidar do povo. As escolhas políticas de Eduardo Leite até aqui fizeram com que o Rio Grande do Sul, um Estado rico economicamente, se transformasse em um gigante de areia perante o maior desafio da nossa história. Não é hora de discurso que turvem a população para compreender a verdade. Nossa luta não é contra a natureza e Leite tem obrigação de apresentar um plano estratégico que aponte medidas de curto, médio e longo prazo para enfrentar a emergência climática e seus eventos extremos.