A educação do Estado do Ceará está em greve, somando-se ao cenário de paralisação nacional, não somente da rede federal de educação, mas também de outras carreiras do executivo. Não obstante, ao situarmos esse impasse no berço do atual Ministro da Educação, Camilo Santana, cuja trajetória política foi forjada pelos oito anos de seu mandato como Governador nas terras alencarinas, urge uma análise crítica.
Desde o anúncio da ascensão de Camilo Santana ao Ministério da Educação, o que vivenciamos, como servidores da educação, é um grande distanciamento das entidades educacionais, que pensam e fazem a educação, e uma evidente predileção por políticas que reproduzem os modelos consagrados no estado do Ceará, notadamente o proeminente desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Uma das inquietações prementes reside na falta de sintonia do novo ministro com as demandas e pautas das entidades e correntes progressistas no âmbito educacional. Enquanto seus antecessores navegaram livremente pelos meandros decisórios, estabelecendo diálogo com esses grupos, o novo ministro parece adotar uma abordagem isolacionista, priorizando políticas de cunho local e replicando modelos específicos de sucesso, como o experimentado em Sobral.
Além disso, a influências de think-tanks e grupos empresariais na formulação da política educacional sugere que tais influências estão moldando a diretriz adotada pelo novo grupo no Ministério da Educação. Este fato é motivo de preocupação, visto que tal abordagem parece privilegiar interesses corporativos em detrimento de uma visão abrangente e inclusiva da educação.
A ausência de diálogo serve como um claro sinal de que a nova gestão no Ministério da Educação não está verdadeiramente empenhada em enfrentar os desafios educacionais do país de maneira eficaz e colaborativa. Em vez disso, a postura adotada parece reforçar a percepção de que a política educacional está sendo direcionada por forças e interesses externos e não representa uma mudança positiva para a educação brasileira.
Nesse contexto, não surpreende que, no Ceará, além das instituições federais, as Universidades Estaduais e os professores da educação básica estadual estejam em greve. Era previsível o desfecho diante da gestão Camilo Santana no MEC. A repressão com que os servidores das instituições estaduais estão sendo tratados pelo governador Elmano de Freitas, sucessor escolhido por Camilo Santana, e a tentativa de criminalizar o movimento grevista no estado, contradizem qualquer discurso democrático e são antitéticos à história do Partido dos Trabalhadores.
Não é de surpreender, também, que o ministro e sua equipe pareçam desconhecer os Institutos Federais, já que as carreiras dos técnicos administrativos em educação (TAEs) parecem ser demandas “novas”, até então ignoradas pelo MEC. O estranhamento se acentua considerando-se que recentemente mais de 100 Institutos Federais foram anunciados pelo governo federal, o que tem gerado preocupação. Basta observar que o orçamento destinado ao IFCE em 2024 é inferior ao de 2014, entre outras questões preocupantes.
O discurso em prol da valorização da educação perde sua credibilidade quando se analisam as condições das carreiras dos TAEs no executivo federal. É incontestável que esses servidores enfrentam a pior remuneração entre as carreiras federais, o que se tornou um problema de gestão, refletido em uma taxa de desistência alarmante, atingindo 75%, somente em 2023.
A greve na educação no Ceará envia uma mensagem clara para o Ministro Camilo Santana e para o Governo Federal: a valorização da educação passa necessariamente pela reestruturação das carreiras e pela recomposição salarial e orçamentária das instituições. Valorizar a educação é valorizar os trabalhadores, melhorar suas condições objetivas e garantir-lhes dignidade. Somente assim poderemos avançar em um projeto educacional que atenda às necessidades de nossa população.
Por Professor Valmir Arruda do IFCE Campus Canindé e Coordenador Geral de Política Sindical do SINDSIFCE
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