Pular para o conteúdo
Colunas

O Lirismo arrojado de Cátia de França – Notas

Romero Venâncio

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

Esta grande senhora nasceu com o nome de Catarina Maria de França Carneiro em 1947 na bela cidade e inspiradora João Pessoa. Adotou o nome artístico de Cátia de França. Desde muito menina quando aprendeu piano, sanfona e violão, depois aderindo à flauta e à percussão. Estava aqui armada toda uma musicalidade que marcará sua vida até os dias atuais. Instrumentos (violão, sanfona, flauta) que vão se casar perfeitamente com sua voz inconfundível e de sotaque nordestino forte que ela faz questão de demonstrar.

Gravou sete discos fundamentais até aqui: “Vinte Palavras ao Redor do Sol” (1979), “Estilhaços” (1980), “Feliz Demais” (1986), “Avatar” (1998), “Cátia de França canta Pedro Osmar” (2005), “Hóspede da Natureza” (2016) e “Encantarya” (2022), no qual demonstra a força criativa da música paraibana/universal. Em cada disco citado, podemos encontrar verdadeiras raridades em termos de composição.

Merece destaque uma passagem pelo teatro nos anos 70. Entre 1974 e 1976, Cátia de França atuou como sonoplasta, instrumentista e até diretora musical de peças como “Lampião no Inferno”, de Jairo Lima, dirigida por Luiz Mendonça, e “Viva o Cordão Encarnado”, de Luiz Marinho, também sob direção de Mendonça. Ainda com Mendonça, musicou para a peça “Feira Livre”, baseada em poemas de Plínio Marcos. Trilha sonora das boas.

Sua música tem como suporte a literatura, fazendo referências à obra de João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e Manoel de Barros. A poesia forte da sua música vem da literatura que transtorna a linguagem tirada da força da terra, da água, do sol e das matas…

Nos últimos anos tem se dedicado mais intensamente a compor colada à natureza e as trocas sonoras. Uma imersão nos mistérios da natureza e da vida, combinada a elementos sonoros diversos, mesclando ritmos nordestinos tradicionais com contemporâneos do mundo. Sua poética, carregada de significado, transporta os ouvintes para uma jornada sensorial através do Nordeste Futurista (atmosfera sonora e visual proposta pela artista), onde a identidade é ressignificada e costurada pelo repente.

Viveu um tempo transitando entre Friburgo-RJ – João Pessoa-PB. Aprendeu muito nesse trân/si/to e tem nos legado tanto. Porque hoje é sábado, viva Cátia de França.