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MUNDO

A direita avança, abril contra-ataca!

Semear o Futuro, de Portugal

O 25 de Abril nasceu em África, desenvolvido pelas lutas de libertação dos povos africanos, contra o colonialismo e o racismo. Prosseguiu pelas ruas de Lisboa e de todo o país. Portugal foi palco da última revolução anticapitalista, uma revolução poderosa que permitiu acabar com o regime fascista no país, bem como com a guerra colonial, possibilitando a independência das colônias.

No período entre 1974-75, o denominado período revolucionário em curso (PREC) assistiu-se em Portugal a uma mobilização ímpar da classe trabalhadora com campos, fábricas, serviços, universidades, escolas e ruas a serem locais de disputa política com greves, ocupações e grandes manifestações. A luta era por melhores salários, direitos laborais, mas também pela disputa do poder, ou seja, pelo direito a decidir sobre o que produzir e como.

Contudo, a Revolução de Abril de 1974, ficou incompleta. É verdade e muito importante destacar que se atingiu objetivos no que diz respeito às reivindicações democráticas que foram a base para o nascimento do estado social. Todavia, a revolução não avançou no sentido de superar a democracia capitalista e atingir uma democracia plena em que a classe trabalhadora na sua diversidade tomasse o poder e avançasse rumo ao socialismo para acabar com a exploração e a opressão.

A direita quer destruir Abril

Dito isto, importa olhar para o presente e a situação política em que vivemos. Saímos há cerca de um mês e meio dum processo eleitoral que colocou novamente a direita no poder e em que um partido neofascista obteve 50 deputados. Convenhamos que passado 50 anos do 25 de Abril não nos encontramos na melhor das situações.

É neste contexto político que surge uma vontade, sempre presente, da direita de destruir definitivamente abril. É verdade que essa destruição de direitos que vem desde 1974 é um processo em curso pela mão da direita e também, em parte, do PS. Mas agora a direita subiu a parada.

No passado 25 de novembro, Carlos Moedas lançou-se numa campanha, promovendo uma homenagem ao dia 25 de novembro de 1975 pela Câmara Municipal de Lisboa, acrescentando que é “cada vez mais importante” que o façamos enquanto país pois segundo o mesmo “foi o dia em que a democracia venceu o extremismo”. A elevação do 25 de Novembro merece alguma atenção. O que significa ela? Entre outros, a Iniciativa Liberal lançou já há alguns anos a campanha que visa fazer equivaler 25 de Abril ao 25 de Novembro.  Repetem a ofensiva agora com o lema “fascismo nunca mais, comunismo nunca mais”. Este slogan compara injustamente um projeto de emancipação coletiva, o comunismo, com a experiência política mais sanguinária da história, naturalizando assim esta última. Mas, sobretudo, faz equivaler um mundo paralelo que só existe nos delírios liberais – um suposto Portugal comunista – com a experiência real e sanguinária de 48 anos de fascismo.

Mas não é só o marketing liberal. O CDS tenta renascer agarrando a agenda do 25 de novembro às vésperas do cinquentenário de abril. O que explica essa obsessão com novembro em abril? O facto de esta campanha ser feita precisamente no aniversário da revolução demonstra que a agenda aparentemente neutra do 25 de novembro é, na verdade, um cavalo de Troia contra o 25 de Abril. As direitas não pretendem, sequer, equiparar as duas datas, o que já seria um golpe de revisionismo histórico e de revanchismo ideológico. Querem usar o discurso pretensamente asséptico do 25 de novembro contra a memória da revolução dos cravos. Sempre que ouvimos o inenarrável e sonso presidente da Câmara de Lisboa falar sobre 25 de novembro, devemos lembrar-nos que fala, na verdade, do 24 de abril: a data em que a direita gostaria que a história tivesse parado. Se a ofensiva novembrista da direita vingar, cedo ou tarde, será substituída por um salazarismo cada vez mais assumido. A recuperação da data que pôs fim ao processo revolucionário é, na verdade, apenas a ferramenta para revitalizar o saudosismo do Estado Novo. Na verdade, a unidade da direita dita moderada em torno do 25 de novembro é apenas a sua capitulação (mal) disfarçada à agenda e ao projeto do neofascismo.

Dúvidas houvesse, Carlos Moedas demonstrou mais uma vez que não consegue esconder que a direita não gosta do 25 de Abril, ao decidir boicotar a realização do arraial do 25 de abril, composto por várias organizações e movimentos sociais, que se realiza há décadas no Largo do Carmo na véspera do dia 25 de Abril. Carlos Moedas sempre tão solicito quando é para entregar milhões de euros para eventos como o das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e a Websummit, decidiu que a Câmara Municipal de Lisboa não poderia fornecer um pequeno palco e algumas tendas como, aliás, é feito há décadas. Felizmente, não apenas os organizadores do Arraial dos Cravos, como diversas figuras públicas e ativistas mantiveram o apelo à concentração popular no Largo do Carmo, desafiando o edil laranja e sua sanha contra Abril.

Defender a liberdade, lutar pelo socialismo

A disputa ideológica e a disputa de poder é também uma disputa nossa, da esquerda. Partimos não só do passado, mas, desde logo, do presente. É na luta contra a guerra e a carestia, pela paz e os salários, que concretizamos o conteúdo da Liberdade que hoje celebramos. Assentes nesse combate, partimos da defesa de Abril para uma aspiração de mudança radical.

Há que saber defender Abril em toda a sua multiplicidade radical, a da revolução Socialista, sem ceder um milímetro das trincheiras democráticas e na defesa do estado social. A nossa Liberdade abrange essas várias dimensões, pois ela não opõe democracia ao socialismo; não abdica dos direitos laborais, sem por isso esquecer o fim da exploração; é radicalmente internacionalista, antirracista, feminista e LGBTQ e, por isso mesmo, é unificadora das maiorias sociais. Nela os indivíduos aspiram a realizar-se por meio da emancipação coletiva que nasce da luta de classes. Esta compreensão permite assim defender o legado de Abril com o qual crescemos e frutificámos e, nessa luta, semear um novo Abril Socialista.