Por Andréa Santos Miron
“DitaDura”… Quem é essa figura que tantos evitam mencionar?
Qual é o motivo desse medo? Uma linguagem que não se curva, não se esquiva e não se desculpa por sua franqueza?
De onde vem esse receio que se esconde nas sombras, nas estrelas e nas entrelinhas?
Que expressão é essa que é proibida, mas que por 21 anos foi escrita, proclamada e afinada?
Dos “por quês” que evitamos abordar sobre os manicômios, onde, em vez de cuidado, reinava a tortura e todo tipo de abuso.
Por que agora estamos proibidos de mencionar o que foi escancarado ao longo dos últimos 5 anos?
Esse texto é sobre dores, que não podem ser esquecidas, sobre as chagas abertas que encheram os inúmeros cálices anistiados.
Dessa “DitaDura”, quero distância, quero condenação, quero proclamar em voz alta a história oculta, quero denunciar o ódio que tentaram sufocar.
Quero desafiar as vozes que querem nos silenciar e destacar as vozes que foram violentamente caladas.
Dessa “DitaDura”, que existiu e calou nosso calor, ocultou nossa dor, roubou nossa paz, escondeu nossa história, glorificou os algozes e imolou mulheres, homens, loucos, homossexuais, crianças, idosos…
Quero gritar os nomes de Rosa, Angel, Áurea, Vladimir, Tito…
Ecoa a dor e a angústia de uma página triste da nossa história, sendo mais uma tentativa de lembrar para que não mais aconteça.
É sobre as vozes dos sobreviventes, dos que não esquecem, dos filhos deixados para trás, das meninas abandonadas…
É pela sobrevivência dos restos não encontrados, pelas memórias dilaceradas e pelas as covas sem nome.
É sobre portões das prisões e a perda de toda a humanidade, consumida pela ideologia cruel do capitalismo.
É um apelo humano para que não nos falte coragem para destruir as borrachas que querem intencionalmente apagar esse traço grosso, incoerente, doloroso, tenebroso e recente da nossa tão sangrada e sobrevivente “democracia brasileira”.
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