Assistindo ao genocídio

Com bilhões de dólares em vendas de armas em risco, por que o governo dos EUA iria querer um Oriente Médio pacífico? E por que o Congresso iria interromper o fluxo de dinheiro para Israel quando isso poderia colocar em risco o fluxo de dinheiro do lobby pró-Israel para os membros do Congresso? […] O que é um pequeno genocídio quando estão em jogo as doações financeiras?

Robert Fantina, do portal Caouterpunch, com tradução de Paulo Duque, do Esquerda Online
Nathaniel St. Clair

A maioria de nós, quando estávamos na escola, aprendeu pelo menos alguma coisa sobre o genocídio de judeus durante as décadas de 1930 e 1940. Seis milhões de judeus foram mortos quando Hitler tentava eliminar a população judaica da terra. A maioria dos jovens estudantes ficava horrorizada que tal coisa tenha ocorrido recentemente na história e não poderia imaginar que isso aconteceria novamente. Mas voltou a acontecer, numerosas vezes, desde o final do século XX.

Coreia: quando a guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul começou, os EUA intervieram. Pelo menos 800 mil militares e mais de 1,5 milhão de civis foram mortos. O que segue é parte de uma citação do líder militar estadunidense dessa guerra, Curtis Lemay: “Então, fomos até lá, lutamos na guerra e, eventualmente, incendiamos todas as cidades da Coreia do Norte… Durante um período de três anos ou mais, matamos cerca de 20% da população da Coreia como vítimas diretas da guerra, da fome ou do frio”.

Indonésia: sob o governo de 30 anos do brutal General Suharto, que chegou ao poder após a derrubada de seu antecessor democraticamente eleito, [processo que foi] liderado pelos EUA, entre 400 mil e 1 milhão de pessoas foram mortas. Suharto “lançou um massacre patrocinado pelo exército contra a enorme, mas em sua maioria desarmada, oposição comunista”, resultando em tais mortes. O governo de Suharto é considerado um dos mais brutais do século XX.

Vietnã: os EUA, mais uma vez, lançaram sua máquina de matança no Vietnã na década de 1950, matando pelo menos 2 milhões de civis e mais de 1 milhão de soldados durante um período de 20 anos.

Cambodja: entre 1976 e 1979, entre 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas foram mortas pelo Khmer Vermelho. O Khmer Vermelho chegou ao poder depois da derrota dos EUA no Vietnã.

Iraque: os EUA invadiram o Iraque em 2003, resultando em mortes de pelo menos 1 milhão de civis inocentes.

Existem outros, é claro. Bangladesh, Timor-Leste, Guatemala e outros países, a maioria dos quais mal foi noticiada e que muitas pessoas no Norte Global mal tinham conhecimento deles. Mas o que a maioria deles tem em comum são os Estados Unidos, que fazem de tudo para garantir que os líderes de qualquer país estejam dispostos a cumprir suas ordens.

Hoje, enquanto este texto está sendo escrito, outro genocídio está acontecendo e este está sendo publicizado em todo o mundo. Até o momento, Israel matou pelo menos 30 mil palestinos inocentes, mais de 70% deles sendo mulheres e crianças. Pessoas ao redor do mundo têm demonstrado apoio ao povo palestino, enquanto os EUA, mais uma vez, está liderando o caminho no estímulo ao genocídio. Em 20 de fevereiro, os EUA, mais uma vez, pela terceira vez, vetou uma Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exigia um cessar-fogo. Mas não. Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, disse o seguinte: “Qualquer ação que este Conselho tome neste momento deve ajudar, e não dificultar, essas negociações sensíveis e contínuas, e acreditamos que a Resolução sobre a mesa nesse momento iria, de fato, impactar negativamente essas negociações” [4]. Não esqueçamos que os Estados Unidos, além de impedirem um cessar-fogo ao vetarem esta e as Resoluções anteriores, estão financiando esse genocídio, com US$ 4 bilhões anualmente para Israel, e mais bilhões em armamento desde que essa investida assassino começou. Os EUA não tem necessidade de “negociar”, mas simplesmente poderia dizer a Israel que estaria cortando o fluxo interminável de dinheiro. Para conseguir a libertação dos reféns, poderia prometer financiar completamente, com bilhões de dólares, a reconstrução da Faixa de Gaza, onde se estima que mais de 70% da infraestrutura tenha sido destruída [5]. Também poderia prometer reconhecer a nação da Palestina em suas fronteiras anteriores a 1967 (poderia argumentar que a Palestina deveria ser restabelecida nas fronteiras anteriores a 1948, mas isso é um tema para outro ensaio).

Tais ações poderiam trazer paz ao Oriente Médio, mas, obviamente, isso não é o que o “Genocida Joe Biden” ou qualquer presidente anterior dos EUA iria querer. Com bilhões de dólares em vendas de armas em risco, por que o governo dos EUA iria querer um Oriente Médio pacífico? E por que o Congresso iria interromper o fluxo de dinheiro para Israel quando isso poderia colocar em risco o fluxo de dinheiro do lobby pró-Israel para os membros do Congresso? Só no ciclo eleitoral de 2023-2024, esse total é de US$ 10.495.254 e ainda faltam vários meses para as eleições de 2024 acontecerem [6]. Será que os ilustres membros do Congresso iriam querer colocar em risco essas contribuições de campanha? O que é um pequeno genocídio quando estão em jogo as doações financeiras? E quem teria sido o principal beneficiário dos dólares pró-lobby desde 1990? Ninguém menos que o próprio “Genocida Biden”, tendo recebido pelo menos US$ 5.223.313 provenientes desse lobbies vergonhosos. Não admira que ele continue a vetar as Resoluções para que o apartheid de Israel predomine.

A cada ciclo eleitoral, ouvimos rumores de interferência russa nas eleições dos EUA. Por que, este escritor quer saber, os membros do Congresso nunca falaram sobre a interferência israelense nas eleições dos EUA? Será que é porque a intromissão do regime sionista está aberta, como se diz, à vista de todos? Para saber a resposta ao porque a interferência de Israel não é questionada, consulte as informações acima sobre as contribuições de campanha.

Então, com o dinheiro fluindo, espera-se que nós, homens e mulheres comuns, ignoremos o genocídio, como fazem nossos funcionários eleitos (este escritos não se refere a eles como “representantes, já que apenas representam os lobbies que compraram e pagaram por eles)? Parece improvável, uma vez que em todo o mundo, em todas as grandes cidades, aconteceram e continuam a acontecer manifestações massivas pró-Palestina. O “Genocida Joe”, em sua maneira delirante e vacilante, parece pensar que, até novembro, a população em geral terá esquecido Gaza. Ele terá um rude despertar que resultará em seu discurso de concessão na noite eleitoral. Ao contrário dos genocídios anteriores, muitos dos quais foram apoiados e financiados pelos Estados Unidos, este está sendo visto em tempo real nas mídias sociais. Os eleitores não esquecerão tão cedo a criança cujas pernas tiveram que ser amputadas depois de ter sido esmagada num edifício bombardeado, amputadas sem anestesia. Não esqueceremos as crianças que comiam ração animal ou desesperadamente pegavam a farinha que caía de um saco rasgado. Nos lembraremos de Hind, uma menina de 6 anos que chamava desesperadamente por sua mãe depois que o carro de seu tio foi baleado e todos os outros no carro morreram. Com medo, sozinha, tendo apenas parentes mortos como companhia, com a escuridão ao seu redor, sua mãe conseguiu levar equipes de resgate até ela. Mas, sem ter notícias dela ou deles durante dias, sua mãe temia o pior. Esta jovem menina e aqueles que foram enviados para resgatá-lo foram mortos pelas forças israelitas. Não, nós não esqueceremos.

Fonte Watching Genocide