Esta comemoração1 acontece todos os anos, mas era algo limitado. No entanto, hoje assume um significado particularmente negativo porque ocorre em um momento com muitos eventos similares e convergentes, em um contexto político e institucional onde a extrema-direita está no poder.
Existe um perigo fascista na Itália? É que certo que se tratam de novos e profundos retrocessos autoritárias, um perigo subestimado pelas forças sociais e políticas da esquerda moderada italiana, que acabam interpretando o governo Meloni como um executivo “normal” de direita e que não assume o salto qualitativo representado pelos herdeiros do Movimento Social Italiano (MSI), estes que são herdeiros diretos do fascismo.
Giorgia Meloni e os grupos da extrema-direita na Itália
Meloni logo explicou que seu governo seria o “de Deus, da pátria, da família e dos negócios”; ela deu continuidade às políticas neoliberais anteriores e aceitou o novo pacto de estabilidade europeu, participando com os Estados Unidos e a OTAN na corrida armamentista, produzindo medidas em favor dos grandes capitais e defendendo os privilégios da pequena e média burguesia, principal base eleitoral da direita.
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Ela liderou uma política de perseguição e de criminalização dos setores mais fracos da sociedade (os pobres, os imigrantes, os desempregados), encorajando as divisões e confrontos entre os trabalhadores, sabendo que o maior perigo não viria da fraca oposição do Partito Democratico (PD) e do MoVimento 5 Stelle (M5S), mas do movimento operário. Para fazer isso, Meloni teve que reabitar o pensamento reacionário, abrindo novo espaço de ação política para o conjunto das organizações abertamente fascistas. Estes grupos se sentem, cada vez mais, satisfeitos com a equipe política do governo e são muito agressivos com imigrantes, pessoas LGBTI+, militantes da esquerda e dos centros sociais.
Um projeto reacionário destinado a destruir as conquistas da Resistência
Este governo visa destruir a consciência democrática, antifascista e progressista que impregnou a história do país após a vitória da Resistência2. Esta chamada “religião civil” está muito enfraquecida pelas derrotas do movimento operário, mas continua presente. Para os herdeiros do MSI, essa ideologia democrática deve ser destruída e substituída pela reabilitação de toda a ideologia reacionária e pela reescrita da história. Esta forte ação, que se expressa na propaganda, na mídia e nas escolas, está em busca de uma total vingança. O objetivo é a reversão total da Constituição democrática e o estabelecimento, de certa forma autoritária, daquilo que Gramsci chamou de “regime reacionário de massa”.
A passividade da social-democracia e dos sindicatos majoritários
Os apelos da oposição, dos jornais liberais e da burguesia liberal convidando Meloni e outros ministros a fazerem declarações antifascistas parecem totalmente ridículos. Eles não representam uma esperança para frear o propósito autoritário do Fratelli d’Italia (o partido de Meloni) e da Liga de Salvini. É igualmente ridículo propor como alternativa à Meloni um personagem como Draghi e as políticas neoliberais europeias, quando foram precisamente elas que abriram o caminho para a direita.
Por sua vez, os sindicatos majoritários permaneceram passivos por meses diante das ações do governo, quando deveriam ter mobilizado a classe trabalhadora desde o início. Sua atitude é grave e coloca a dificuldade de iniciar uma verdadeira luta contra um governo que envenena a sociedade.
A construção de um movimento político e social antifascista até agora é assumida apenas pelas forças da esquerda radical, pelas correntes sindicais combativas e pelos setores intelectuais minoritários.
1 Acca Larenzia, uma rua romana que onde se encontrava uma sede histórica do Movimento Social Italiano — Direita Nacional (MSI), foi palco em 1978 de uma manifestação do MSI após o assassinato de dois ativistas por “terroristas vermelhos” e de um terceiro neofascista por um fuzileiro. Durante a transição da MSI para a Aliança Nacional (AN), esta sede permaneceu ocupada pela ala mais extremista dos grupos fascista.
2 A Resistenza italiana surgiu na década de 1940 na Itália, se constituindo como um movimento armado contra o fascismo italiano e a invasão alemã.
Original em Y-a-t-il un danger fasciste en Italie?
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