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MUNDO

Existe um perigo fascista na Itália?

O que se passa na Itália? Esta é uma questão que muito se coloca diante das imagens chocantes da manifestação na Via Acca Larenzia, em 7 de janeiro, com centenas de ativistas da CasaPound estendendo seus braços em uma saudação romana ao grito coletivo fascista de “Presente!”.

Por Franco Turigliatto, do portal L’Anticapitaliste. Tradução de Paulo Duque, do Esquerda Online.

Esta comemoração1 acontece todos os anos, mas era algo limitado. No entanto, hoje assume um significado particularmente negativo porque ocorre em um momento com muitos eventos similares e convergentes, em um contexto político e institucional onde a extrema-direita está no poder.

Existe um perigo fascista na Itália? É que certo que se tratam de novos e profundos retrocessos autoritárias, um perigo subestimado pelas forças sociais e políticas da esquerda moderada italiana, que acabam interpretando o governo Meloni como um executivo “normal” de direita e que não assume o salto qualitativo representado pelos herdeiros do Movimento Social Italiano (MSI), estes que são herdeiros diretos do fascismo.

Giorgia Meloni e os grupos da extrema-direita na Itália

Meloni logo explicou que seu governo seria o “de Deus, da pátria, da família e dos negócios”; ela deu continuidade às políticas neoliberais anteriores e aceitou o novo pacto de estabilidade europeu, participando com os Estados Unidos e a OTAN na corrida armamentista, produzindo medidas em favor dos grandes capitais e defendendo os privilégios da pequena e média burguesia, principal base eleitoral da direita.

>> Leia também: O conjunto das organizações fascistas na Itália

Ela liderou uma política de perseguição e de criminalização dos setores mais fracos da sociedade (os pobres, os imigrantes, os desempregados), encorajando as divisões e confrontos entre os trabalhadores, sabendo que o maior perigo não viria da fraca oposição do Partito Democratico (PD) e do MoVimento 5 Stelle (M5S), mas do movimento operário. Para fazer isso, Meloni teve que reabitar o pensamento reacionário, abrindo novo espaço de ação política para o conjunto das organizações abertamente fascistas. Estes grupos se sentem, cada vez mais, satisfeitos com a equipe política do governo e são muito agressivos com imigrantes, pessoas LGBTI+, militantes da esquerda e dos centros sociais.

Um projeto reacionário destinado a destruir as conquistas da Resistência

Este governo visa destruir a consciência democrática, antifascista e progressista que impregnou a história do país após a vitória da Resistência2. Esta chamada “religião civil” está muito enfraquecida pelas derrotas do movimento operário, mas continua presente. Para os herdeiros do MSI, essa ideologia democrática deve ser destruída e substituída pela reabilitação de toda a ideologia reacionária e pela reescrita da história. Esta forte ação, que se expressa na propaganda, na mídia e nas escolas, está em busca de uma total vingança. O objetivo é a reversão total da Constituição democrática e o estabelecimento, de certa forma autoritária, daquilo que Gramsci chamou de “regime reacionário de massa”.

A passividade da social-democracia e dos sindicatos majoritários

Os apelos da oposição, dos jornais liberais e da burguesia liberal convidando Meloni e outros ministros a fazerem declarações antifascistas parecem totalmente ridículos. Eles não representam uma esperança para frear o propósito autoritário do Fratelli d’Italia (o partido de Meloni) e da Liga de Salvini. É igualmente ridículo propor como alternativa à Meloni um personagem como Draghi e as políticas neoliberais europeias, quando foram precisamente elas que abriram o caminho para a direita.

Por sua vez, os sindicatos majoritários permaneceram passivos por meses diante das ações do governo, quando deveriam ter mobilizado a classe trabalhadora desde o início. Sua atitude é grave e coloca a dificuldade de iniciar uma verdadeira luta contra um governo que envenena a sociedade.

A construção de um movimento político e social antifascista até agora é assumida apenas pelas forças da esquerda radical, pelas correntes sindicais combativas e pelos setores intelectuais minoritários.

1 Acca Larenzia, uma rua romana que onde se encontrava uma sede histórica do Movimento Social Italiano — Direita Nacional (MSI), foi palco em 1978 de uma manifestação do MSI após o assassinato de dois ativistas por “terroristas vermelhos” e de um terceiro neofascista por um fuzileiro. Durante a transição da MSI para a Aliança Nacional (AN), esta sede permaneceu ocupada pela ala mais extremista dos grupos fascista.
2 A Resistenza italiana surgiu na década de 1940 na Itália, se constituindo como um movimento armado contra o fascismo italiano e a invasão alemã.

Original em Y-a-t-il un danger fasciste en Italie?

O artigo acima representa a opinião do autor e não necessariamente corresponde às opiniões do EOL. Somos um portal aberto às polêmicas e debates da esquerda socialista.