O mais recente documentário do cineasta vicentino Leandro Olímpio é a leitura mais bem apurada do cinema brasileiro sobre a crise de consciência que a Lava Jato criou no Brasil da última década. Sim, é exatamente isso. Caso alguém tenha se esquecido, a Petrobrás foi a protagonista da maior alta no emprego do país entre 2006-2014, ao mesmo tempo que foi julgada responsável pela maior baixa no desemprego no país entre 2015-2023. Assim, o emprego vinagrou no pré-sal e o lavajatismo desmontou as estruturas trabalhistas do Brasil.
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A sinopse do documentário é simples: “Eu, meu amigo sindicalista, a Petrobrás e o Brasil”, e já nos cria um panorama entre uma situação (ainda que se oponha), um sujeito e um observador. O protagonista do filme e do sindicalismo do litoral paulista, Fábio Mello, é esse militante que não entrega o ouro e sofre na mão bruta do Estado, cuja consequência é a violência reservada a quem ouse desobedecê-lo. Caso lutar seja desobedecer, então todo sindicalismo é uma rebeldia com causa. O efeito será: parar a fábrica por um dia. Utopicamente panfletário? Só para a classe média filiteísta. A libertação de um povo continua sendo, portanto, a consistência da sua luta contra a opressão, e este filme aos olhos desatentos, poderia soar meramente como uma utopia. Quanto ao futuro que evoca o título, que Brasil é esse projetado? O rombo trabalhista que a Lava Jato poderia não ter causado? Ou um não desaparecimento do operário no Brasil em vista do neoliberalismo voraz que enfraqueceu sindicatos e a crença neles? Por que o Brasil continua a ser um sonho, do futuro, quando essencialmente, ele é uma invenção de si mesmo? Arrisco dizer que este documentário provoca e tensiona aquilo que a esquerda no Brasil atual se esqueceu: o sindicato. Quem disse que o operário sumiu, ifood? A questão não é o seu desaparecimento, mas a sofisticação da sua não-consciência: ele só virou ainda mais pelego [Sf. trabalhador persuadido, sequestrado pelo patrão]. Leandro Olímpio não satisfeito em mostrar a ascensão da classe trabalhadora na Era Lula em Imagens de um Sonho (2019), ele continua neste filme, como se estivesse rumando a uma Trilogia Trabalhista, em mostrar a queda, o enfraquecimento e depenação dessa classe, agonizando sem emprego e assistindo o desmonte do seu país. Em seu primeiro curta-metragem, dessa inventada trilogia, o trabalhador de 2002 pra cá pôde usufruir de acessos à bens materiais nunca antes visto na sua história, afinal de contas, não é todo país que se tem um operário eleito três vezes presidente, democraticamente. Neste documentário, há uma construção do diálogo que é costurada tanto pela amizade do cineasta com o dirigente sindical, que é positiva, quanto pela ausência do próprio diálogo com a classe, fruto do desaparecimento de uma pertença entre trabalhador e sindicato, negativa portanto.
O esquecimento da luta é o sintoma de uma luta virtual que substituiu a frente das fábricas. Nas fábricas que restaram, é claro. Assaltadas pelo estrangeiro, como ouvi recentemente de um americano em Cubatão: “vocês são um pátio, só que mal explorado” ironicamente expresso em seu frágil colonialismo. Deveríamos nos orgulhar que o nosso panfleto seria a nossa própria soberania, que nos últimos 200 anos a elite do atraso se esforçou em não querer. Seriam assim talvez o nosso Brasil.
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